Será que a semana de quatro dias de trabalho tem potencial para, de fato, ganhar força no Brasil? Embora tal conceito ainda seja limitado a poucas empresas que resolveram embarcar no experimento, os resultados vêm sendo positivos. Exemplo disso é a Eva Benefícios, HR Tech sediada em Ouro Preto (MG) que resolveu encarar o desafio da four-day week.

De acordo com Marcelo Lopes (capa), CEO da startup, a decisão foi tomada com o propósito de melhorar a qualidade de vida dos colaboradores. De tal modo, eles poderiam experienciar a liberdade e a flexibilidade que a empresa prega aos clientes. Tudo isso sem que houvesse aumento nas horas trabalhadas ou qualquer desconto na remuneração e nos benefícios.

“Estamos alcançando níveis cada vez maiores de produtividade e, não por acaso, em janeiro conquistamos nosso melhor desempenho em número de cartões emitidos e em faturamento”, diz o executivo. A iniciativa, que teve início em agosto de 2022, foi aprovada no período de testes e acaba de ser renovada.

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Números promissores

Segundo estudo realizado pela Fundação 4 Day Week Global, a aposta na semana de quatro dias pode, em breve, deixar de ser uma particularidade de poucas organizações ao redor do mundo e passar a ser uma tendência. Entre fevereiro e agosto de 2022, 33 empresas de seis países toparam experimentar a semana reduzida para entender como isso impactaria o negócio.

Passado o período de teste, os resultados chamaram atenção positivamente. 27 das 33 empresas participantes manifestaram que não tem a intenção de abandonar a semana de quatro dias, enquanto a imensa maioria dos 495 profissionais envolvidos corroboraram o sentimento. 

O portal Business Insider revela que a experiência melhorou nas companhias o bem-estar e a qualidade de vida dos funcionários, a capacidade de atrair e reter talentos, a produtividade e também a receita. Os efeitos da experiência melhoraram ainda a qualidade do sono e a saúde mental, de acordo com os funcionários ouvidos.

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Mudança de jornada e também de cultura

Por mais que a ideia de um dia a mais na semana possa ser animadora para muitos profissionais, a implementação não é tão simples. Cássio De Lellis, Gerente de Produtos da Eva, explica que para promover a mudança foi necessário um trabalho de alterações não apenas na dinâmica de trabalho, mas também na mentalidade das pessoas.

“O primeiro desafio foi redimensionar o planejamento para quatro dias na semana. O tempo de entrega acaba sendo menor e, inevitavelmente, o cérebro vem orientado para o planejamento de cinco dias úteis”, afirma.

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Para os colaboradores da organização, o modelo também veio acompanhado de melhorias consideráveis na qualidade de vida, como afirma o Assistente de Qualidade da Eva, Bruno Cesar de Andrade. 

Segundo o profissional, que também é estudante dos últimos períodos de Engenharia de Controle e Automação, o novo modelo de trabalho possibilita “ter um tempinho a mais para resolver demandas pessoais, inclusive da faculdade”. A mudança na rotina foi bem-vinda e não só deu mais tempo para tratar dos estudos como também para cuidar da saúde. “Às sextas eu desenvolvo meu TCC e tenho tempo para resolver pendências, além de poder relaxar e praticar atividades físicas”, conta.

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Será moda no Brasil?

Na visão da especialista em Recursos Humanos e Recrutamento & Seleção, Ana Paula Lima, que há 18 anos atua com Gestão de Pessoas, a implementação do modelo de trabalho, ao menos por ora, seguiria muito mais como uma exceção do que como uma regra.

O impacto na cultura trabalhista brasileira seria muito grande. Pesquisas recentes revelam que RHs, líderes e gestores têm dificuldades para lidar com mudanças, prova disso é o declínio do home office, que surgiu como a grande novidade em meio à pandemia, mas que aos poucos vai enfrentando a resistência de muitas gestões. Até mesmo o modelo híbrido já sofre.”

Para Ana Paula, ainda é necessário que haja mais estudos e cases que abordem a eficácia do modelo. Se as organizações identificarem que os ganhos realmente têm o potencial de torná-las mais atraentes e competitivas, a tendência natural é que a semana de quatro dias seja vista com maior atenção.

“Os primeiros levantamentos, como o citado da 4 Day Week Global, são empolgantes. Mas dentro de um mercado que ainda propaga a máxima do ‘trabalhar demais é bom’, o que vem levando tantas pessoas ao seu limite, seria necessária uma argumentação muito precisa para incentivar as empresas a mudar”, finaliza.

Por Bruno Piai