Diversas empresas ao redor do Brasil e do mundo vêm adotando, nos últimos anos, uma dinâmica laboral diferente para atrair e reter os melhores talentos: a semana de quatro dias de trabalho. Um dos primeiros países a testar o modelo foi a Islândia, que deu início aos testes em 2015, diminuindo não apenas um dia da escala, mas a jornada semanal de 40 horas para 35. E os resultados vêm sendo positivos.

Estudos do teste realizados pela empresa Autonomy e pela Associação Islandesa de Sustentabilidade e Democracia relataram que não houve perda de produtividade ou qualidade dos serviços, além de ter melhorado o bem-estar e diminuído níveis de estresse dos colaboradores.

Após o teste considerado bem sucedido no país nórdico, outras nações começaram a adotar o modelo de trabalho, como Bélgica, Nova Zelândia, Espanha, Japão, Inglaterra, Austrália, Canadá, Portugal, Estados Unidos, dentre outros. Além disso, o impacto da pandemia da Covid-19 às relações de trabalho nos últimos anos também motivaram os países e suas respectivas organizações a repensarem algumas práticas.

Em relação ao Brasil, já existem cases de empresas que resolveram experimentar a semana de quatro dias trabalhados. A agência de comunicação Shoot é um exemplo. À CNN Brasil, um dos sócios da companhia, Lucas Braga, afirmou que a intenção com a implementação do modelo é a de promover mais qualidade de vida aos colaboradores, além de maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

“Percebemos nos últimos dois anos que todo mundo estava cansado, mesmo com uma carga horária considerada normal. Os funcionários chegavam sempre exaustos na segunda-feira, mesmo após o fim de semana, e começamos a nos questionar como poderíamos mudar isso”, declarou ao canal. O executivo revelou, também, que a experiência é, por ora, positiva e teve boa aceitação do time de trabalho.

Dois anos de pandemia

Outros negócios do país que apostam na dinâmica pontuam que os ganhos na produtividade e na felicidade dos empregados são evidentes. Ao portal de notícias G1, Larissa Hamuy, animadora 2D da Nova Haus, empresa de Franca (SP) que também passou a ter a semana de quatro dias, declarou que o rendimento da equipe aumentou, assim como o autocuidado.

“Tirar essa folga no meio da semana é indescritível, porque você tira um tempo para você. Eu estou me cuidando mais, estou descansando mais, e sinto que a equipe está rendendo mais. Vale a pena, recomendo para todas as empresas”, salientou ao site.

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Há legislação para a semana de quatro dias?

De acordo com a especialista em direito do trabalho Imaculada Gordiano (capa), do Escritório Imaculada Gordiano Sociedade de Advogados, a lei brasileira permite a adoção do modelo 4×3. “A CLT, e depois a reforma trabalhista de 2017, só falam sobre o máximo de horas, que são 44 horas semanais e 8 por dia, com a possibilidade de ser feita 2 horas extras diárias, mas o mínimo varia com o modelo de trabalho de cada empresa”, explica.

Mas, segundo a advogada, é preciso ter atenção na hora de reduzir a carga horária. “A empresa pode exercer a opção de tirar um dia de trabalho da semana, diminuindo a carga horária, mas não reduzindo o salário do funcionário. Se no futuro optar por voltar a carga horária anterior, terá que aumentar o salário do colaborador”, alerta.

Imaculada também dá outras possibilidades de arranjo entre empregador e empregado. “Há também a possibilidade de manter a carga horária apenas redistribuindo nos dias de trabalho, como por exemplo para quem trabalha 40 horas, as 8 horas da sexta serem alocadas de segunda a quinta, fixando a carga em 10 horas diárias, sem possibilidade de hora extra pois já estaria no teto permitido por lei. Também é possível diminuir o salário com a redução da carga horária, desde que haja uma convenção com participação sindical”, exemplifica.

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O modelo está se popularizando no mundo inteiro desde o início da pandemia, em 2020. Nos Estados Unidos, por exemplo, 20 milhões de pessoas pediram demissão no período, no fenômeno que ficou conhecido como “Grande Renúncia”. Uma pesquisa feita pela empresa de serviços financeiros Jeffrey apontou que desde novembro de 2021, 32% dos jovens de 22 a 25 anos que se demitiram não teriam o feito se a jornada de trabalho fosse reduzida para quatro dias.

Para a especialista do escritório IGSA, a mudança não deve vir apenas do ponto de vista técnico e jurídico, mas também do ponto de vista cultural na empresa. “A ideia da semana de quatro dias é proporcionar maior qualidade de vida para os funcionários ao mesmo tempo que aguçam a criatividade para fazer melhor em menos tempo. Se isso não for bem trabalhado internamente, pode gerar custos maiores para resultados menores”, finaliza.

Por Bruno Piai