Temos visto uma enxurrada de palavras tentando definir o nosso atual momento de vida e como o mundo tem se mostrado para nós: complexo, incerto, antagônico, diverso, incluso, conectado, acelerado, dicotômico, ampliado… Podemos juntar a essas palavras tantas outras de significados semelhantes ou contrários! Elas praticamente dão vida a um sem-número de pontos de vista de pessoas tentando explicar e viver a sua própria concepção de mundo.

Não há como negar, o seu mundo é do tamanho da sua capacidade de olhar! Se você construiu um mirante terá uma visão panorâmica e, se munido de uma boa luneta, verá detalhes daquilo que lhe interessar. No entanto, se você vê o mundo através do olho mágico de uma porta, a sua visão de vida estará limitada pelo tamanho do que você consegue enxergar pelo buraco de vigia! O que significa que provavelmente você ainda não teve oportunidades de experimentar realidades diferentes ou está sobrecarregado de crenças limitantes.

O que determina o que você consegue olhar e dar significado ao que vê, é o aprendizado de vida que você acumulou até agora. Há uma reflexão que merece ser considerada, a de que à medida que adquirimos e aprofundamos conhecimentos, temos que ter como força compensadora o desenvolvimento da nossa maturidade, que no contexto deste artigo é um estado de vivência com o uso pleno de nossas capacidades de pensar, sentir e querer. O pensar, sentir e querer é um movimento dinâmico criador de modelos mentais que são impressos numa espécie de matriz
multidimensional, o famoso “plano das ideias” segundo Platão, que se manifestam como realidades emergentes. A sua qualidade, boa ou má, depende da maturidade de quem as criou!

O conhecimento já foi em tempos remotos privilégio de poucos, hoje, porém, está disponível e acessível de muitas maneiras, mas a maturidade só se consegue vivendo as circunstâncias da vida!

É imprescindível, portanto, que haja um equilíbrio inteligente e consciente entre conhecimento e maturidade, para que se busque criar somente o que traz benefícios para a sociedade.

Caso não consigamos manter a equação conhecimento e maturidade em equilíbrio, tenderemos a usar o conhecimento de forma incorreta provocando oscilações na qualidade do que estamos produzindo. Desta forma, estaremos distantes dos valores espirituais e morais que dão sentido à existência do ser humano, e mais absorvidos pela matéria, construindo bens sem nenhuma significância e utilidade. Estaremos preocupados em apenas buscar recompensas como poder, posses e privilégios, ao invés do bem-estar comum. Formaremos sociedades de big brothers vivendo seus teatros de ilusão, espalhadas pelos quatro cantos de lugar nenhum!

Exagero? Vejam a quantidade de exemplos que a história nos traz. Do conhecimento do ferro forjaram-se espadas. Do descobrimento da força atômica criaram-se artefatos de guerra. Do domínio da palavra, líderes levaram multidões ao desespero. Do controle do pensar, milhares e milhares de mentes foram escravizadas. Da organização social surgiram as diferenças de classes!

Qual o significado de tudo isto?

É o uso do conhecimento sem ter maturidade no pensar, sentir e querer, sem saber o porquê e para onde, permitindo que a personalidade reinante domine as circunstâncias com seu instinto insano de predominância.

Vemos hoje organizações que incentivam e recompensam a criatividade, o saber, o conquistar, mas será que incentivam também o desenvolvimento da maturidade para equilibrar com qualidade social e moral o que está sendo ofertado ao mercado? O conhecimento intelectualizado, por si só, sem ser aquecido no fogo do sentir e querer, é morto! Não tem movimento! Não cria vida!

O fogo do sentir e querer é que forja os pensamentos lhes dando contornos mais nítidos, preenchendo-os com substâncias que lhes dão força vital e os impulsionam a ganhar vida e se manifestar na matéria pela força da vontade.

Temos diante de nós um imenso desafio! Precisamos desenvolver a maturidade e alinhá-la com o nível de nosso conhecimento para que as nossas ideias não se afastem dos nossos ideais. Que ao crescer em conhecimento, cresçamos também em maturidade e mantenhamos esse movimento em perfeito equilíbrio. Que sejamos conscientes de que o conhecimento por si só não trará resultados que se sustentem, mas suportados pelas forças da maturidade esses mesmos resultados evoluirão em uma espiral ascendente.

Por Vicente Picarelli, sócio-diretor da Picarelli Human Consulting. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.