É fácil reclamar – essa nossa atitude nos coloca em uma zona de conforto. Como entender nossa postura diante da reclamação?

A inspiração para esse texto veio de um período da minha vida em que me vi reclamando de tudo, até que cheguei à conclusão: “Por que reclamar e não clamar?”

Clamar é pedir … paz, consciência e tranquilidade…. Por que não fazer essa opção ao invés de se lamentar? Reclamar é um hábito. Por que não usar essa energia para fazer algo melhor. O exercício sugerido é ficar um período curto sem reclamar. Para isso, precisamos analisar a reclamação que seria feita e tentar entender nossa parte no processo.

A reclamação nos tira da proatividade e nos coloca na reatividade.

Como o modelo mental interfere na nossa vida

Para entender como as reclamações nascem, vale à pena trabalharmos nossos modelos mentais.

Uma forma de entender nossos modelos mentais é através do Eneagrama, instrumento que descreve os diversos tipos de personalidade (para quem quiser saber mais sobre eneagrama, façam o download gratuito do e-book E-book Eneagrama (fatimamotta.com.br).

Eu, por exemplo, sou Tipo 3 do Eneagrama, conhecido como Desempenhador, que tem o trabalho como foco principal. Minha reclamação, a partir desse tipo de personalidade, está relacionada à pouca credibilidade no desempenho das outras pessoas, no ritmo e qualidade esperado.

É necessário pontuar que esses modelos mentais são influenciados por nossa infância, onde aprendemos a reagir de acordo com o que nos ensinam. A infância é um período muito importante e influenciador das nossas atitudes e, portanto, das reclamações.

Os modelos mentais segundo o Eneagrama e as reclamações

As pessoas do Tipo 1 do Eneagrama, conhecidas como Perfeccionistas, são muito críticas e focadas na qualidade. Portanto, sua reclamação está associada à fata de perfeição que enxerga em si mesma, nos outros, no ambiente, na sociedade, na economia etc.

Já as pessoas do Tipo 2, conhecidas como Doadores, colocam os outros acima delas mesmas, querem sempre agradar e fazem pelos outros o que não fazem por si mesmas, precisando, como retribuição reconhecimento. A reclamação desse tipo de personalidade é quando “o outro” não aceita “o seu dar, para então receber” e, ainda, quando não recebe atenção.

As pessoas do tipo 3, como já foi mencionado, o Desempenhador acredita no trabalho que faz, não costuma delegar e absorve todas as demandas para si, reclamando que trabalha muito, mais que todos e não tem tempo para outras necessidades.

Os representantes do tipo 4, conhecidos como Românticos, com seus altos e baixos emocionais constantes, reclamam normalmente: quando estão felizes e o outro não está e quando estão infelizes, pela falta de reconhecimento da sua infelicidade. Como sempre se comparam, reclamam pela frequente sensação de inferioridade.

As pessoas do Tipo 5, conhecido como Observador, colocam-se à distância de tudo e como são analíticos, tendem a reclamar de pessoas pouco planejadas, sem foco e não racionais. No mundo do Tipo 5 o problema está nos outros.

As reclamações do Tipo 6, conhecido como Cético Leal, estão relacionadas à sua constante dúvida e criticidade. Prepara-se sempre para o pior, julga o tempo todo e faz disso sua reclamação constante.

O tipo 7, conhecido como Epicurista, movimenta-se pelo prazer e reclama de tudo e de todos que lhe boicotem o prazer do momento ou que não sejam positivas. São pessoas racionais que precisam estar sempre certas e responsabilizam os outros por qualquer situação adversa.

As pessoas do Tipo 8, conhecidas como Patrão, são autoritárias, pouco pacientes e tendem a culpar os outros pelos erros, não considerando que suas explicações podem não terem sido claras e suficientes. Sempre culpa o outro e nunca enxerga sua vulnerabilidade.

Quem é do tipo 9, conhecido como Harmonizador, culpa-se antes de culpar os outros e não analisa o motivo do sentimento de culpa. Ou seja, reclama de si mesmo.

Considerações Finais

Na medida em que se reclama, culpa-se o outro e não nos enxergamos. Ao invés de clamar para uma melhor situação, a reclamação em si, só piora os fatos e não os soluciona.

Entender o modelo mental ajuda, na medida que oferece o mapa onde cada um se situa.

Ter um olhar amplo, estratégico e distante da situação possibilita a ação em lugar da reclamação.  O olhar pequeno conduz a reclamação ao outro, quando, na verdade, a raiva é em relação às nossas próprias deficiências.

É perda de tempo a busca por culpados e de justificativas. O ideal é caminhar para a ação.

O reconhecimento do que nos incomoda é uma boa pista para iniciarmos toda essa viagem em busca de uma melhor atuação pessoal e profissional, lembrando que, como a reclamação contagia, assim como um vírus, podemos ser responsáveis pela contaminação do ambiente ou pela sua cura.

No caso de líderes, quando encontrar um foco de reclamação, o melhor a fazer é chamar a equipe, identificar o problema e solucioná-lo.

Para finalizar, todos os aspectos levantados relacionam-se diretamente à personalidade, ou seja, à máscara social que utilizamos para sermos aceitos. Com essa máscara, vêm os vícios emocionais, os modelos mentais e as reclamações. A importância de reconhecer a máscara é nos aproximarmos da essência, ou seja, livrar-nos das reclamações e buscarmos a autenticidade do “ser”.

Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.