Nossa existência é extraordinária, temos a oportunidade de realizar grandes obras, de formar uma família, de edificarmos um projeto grandioso, escrever um livro, deixar um legado, fazer uma ponte, construir uma casa, tudo o que possamos conceber na nossa imaginação, mas nada disso substitui a certeza de que vamos deixar de existir.

Um dos grandes problemas que assolam a humanidade é que, de forma geral, vivemos como se fossemos infinitos, como se a eternidade nos aguardasse. Ressalvadas as crenças de que possuímos uma alma que é eterna, que a vida continua após a morte, dependendo da crença de cada um, todos vamos morrer cedo ou tarde.

Considerando que a vida tem sua finitude, se observarmos bem, tudo na nossa existência tem um conjunto de ações, de construções, de relacionamentos que tem um início, um meio e um fim.

É de bom senso a consciência dos fechamentos dos ciclos para vivermos melhor.

Há uma crônica “Encerrando ciclos ou Fechando ciclos”, circulando na rede com erro de autoria, ora sendo atribuída a Paulo Coelho ou ao escritor Fernando Pessoa, sendo que a autoria é de uma colombiana chamada Gloria Hurtado, psicóloga e colunista do jornal El País em janeiro de 2003. E para não incorrer no risco de plagiar a autora, fiz questão de citá-la e dar a ela o devido mérito dessa ideia que ela publicou na Colômbia.

Cita a autora: “Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos – não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.”

Continua ainda fazendo alguns questionamentos, tais como: Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? Aquela amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? Certamente sofremos e lamentamos perdas, creio que ninguém gosta de perder nada e se não nos permitirmos fechar ciclos que já se completaram, veremos outras pessoas ao nosso redor vivendo suas vidas, com as mudanças e transformações naturais e corremos o risco de tentar perpetuar algo que não existe mais e não nos permitimos ou por falta de coragem ou por ilusão, virarmos a página, seguindo adiante a nossa vida.

Houve uma época em que tive um grande amigo, daqueles que eram para a vida toda, acreditava, tanto que em um momento em que ele estava desempregado, o convidei para trabalhar comigo, ministrando cursos. Realizei a inserção dele nesse circuito da educação, ensinei tudo o que eu sabia acerca de comunicação e liderança, corrigi suas falhas, comecei a designar trabalhos para ele. Um sucesso, confiança plena, propus que negociasse em meu nome cursos nas empresas, que tínhamos como clientes.

Assim foi até que um dia, conversando com um funcionário de um hotel, onde realizávamos treinamento, ele me disse, todo feliz: “Puxa, Sr. Reinaldo, que bom que na próxima semana vamos ter treinamento com o senhor.”

Eu não me recordava, não estava no meu radar que teríamos um treinamento com colaboradores do Hotel Transamérica, um bom cliente. Liguei para minha administração para saber sobre esse curso e, para minha surpresa, não havia nada programado para a minha empresa, mas com esse “amigo”, que enviou uma proposta com um valor muito inferior ao que praticávamos, mesmo porque tínhamos uma estrutura comercial, de marketing, de contabilidade, de administração e gestão de produtos, com o mesmo curso que eu havia desenvolvido e praticávamos naquela empresa.

Foi grande a decepção, falei com a diretoria da empresa que entendendo a situação, imediatamente suspendeu o “negócio”. Demiti o amigo, mas a mágoa ficou. Foi tão grande a sensação de frustração, de traição, de decepção, que minha mãe, na época, vendo-me abatido e chateado, conversou comigo a respeito e eu disse a ela o que tinha acontecido. Ela, na sua simplicidade, olhou bem para mim e disse simplesmente: “Deixe-o voar, uma pessoa com esse caráter tem voo curto, e não permita que ele tire o seu sono, nem te tire o brilho nos olhos para preservar seus amigos. Fechou esse ciclo e outros muito melhores se abrirão”.

Claro que levei um tempo para entender e viver em harmonia com essa sensação. Perdoei em mim mesmo, não tive mais contato com essa pessoa, embora ela tenha me procurado algumas vezes, mas segui o sábio conselho da minha mãe… “Deixe voar…”.

Assim a vida é, se ficarmos presos ao passado, aos momentos felizes que tivemos, não vivemos plenamente o momento mais importante da nossa vida, que é exatamente esse momento que estamos aqui e agora desfrutando. Ao “deixarmos voar” o que não mais nos pertence, ficamos mais leves, nos desapegamos e assim surgem novas oportunidades para o que está por vir.

Não é fácil o desapego, notadamente se acreditamos que não podemos viver sem aquela pessoa ou aquela situação que se tornou um hábito positivo. Sentir, na prática que nada é insubstituível, dói. Pode ser difícil, mas é possível.

Desse modo, quando abrimos mão e viramos a página, descortina-se à nossa frente novas oportunidades, mesmo porque o passado não volta e o futuro é incerto e o único momento no qual podemos viver é no agora, com nossos sonhos, de preferência novos, projetos viáveis, procurando estar com pessoas que amamos e que nos amam, deixando a tristeza para lá, sacodindo a poeira, olhando o mundo e a vida com otimismo, mesmo passando por dificuldades, sabendo que tudo passa, como também um dia nós passaremos e deixaremos saudades, assim espero.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.