É possível que aquela imagem da pessoa equilibrando diversos pratinhos que giram sobre um pequeno e fino pedestal represente seu esforço para gerenciar as mais diversas situações de sua vida cotidiana.

Essa é uma alegoria que nos ajuda a criar uma relação com a vida e, a partir desta, a maneira como decidimos agir e deixar nossa impressão. Seja ou não essa a representação escolhida por você, lhe convido a fazer um rápido exercício.

Basta responder: Como você se sente frente a sua alegoria?

Se for a dos pratinhos, talvez lhe remeta à sensação de movimento continuo, stress, frustração, ansiedade. Mas também desafio, agilidade, foco, escolhas rápidas, capacidade de observação.

O que vale aqui é como sua representação se manifesta em você. Para alguns pode ser positivamente, para outros negativamente.

Fique com esta experiência em mente e no corpo, e agora transfira para a relação profissão/emprego (trabalho não é emprego) e lazer, vida pessoal, vida íntima.

Cada um destes pode ser um pratinho, uma bolinha nas mãos do malabarista. Seja como for, estamos olhando para elementos separados. Sempre que nos relacionamos com algo que entendemos estar separado um do outro, tendemos a departamentalizar, criar caixinhas, bloquinhos nos quais nos esforçamos para encaixar dentro de uma linha que chamamos de tempo.

Sente o drama? Vivemos assim um paradoxo, que pode ser resolvido, em parte, certamente, com a mudança da alegoria escolhida e que respeita algo sobre o qual, absolutamente, não temos o menor poder de mudar: o tempo. Se olharmos para nossa realidade pelo viés do “rio,” em que somos o rio e não o barquinho que desce por ele, poderemos entender que não há pratinhos ou bolinhas a serem equilibrados. Há momentos que em sua soma constróem a vida que temos. Pense assim: momento é este instante e a circunstância que ele traz. Neste instante estou eu, está você. Então decido como me relaciono com ele. Esta decisão é o poder transformador que nos leva a amar o que se faz. É entender que, embora não se goste e não se queira tal momento ele é parte de uma vida que merece ser amada. Parte de uma vida que você está construindo. No fluxo da vida, cada agora é recurso para ser quem se deseja ser e sempre que escolhemos não amar este instante, seja ele chamado de lazer ou de “trabalho,” escolhemos não nos amar.

Talvez você esteja pensando: “Tá, mas como faço isso na prática, pois afinal terei que dar conta das tantas coisas que tenho que fazer na vida, e como seria sem ter que ficar equilibrando meus pratinhos?”

Claro que a resposta não será uma fórmula mágica, desculpe. Também gosto de fantasias, mas na prática elas podem apenas nos inspirar, contudo sem esforço (que é diferente de dor) não teremos resultados.

Dito isso, conseguir fluir como rio significa entender os principais elementos de sua vida: profissão, família, lazer, espiritualidade para quem tem, saúde. Onde está o centro de gravidade aqui para você? Assim como o rio corre para o mar, todos os seus elementos devem correr ou serem atraídos por este centro de gravidade.

Talvez o elemento base para você seja, digamos, profissão. Nesta você deseja alcançar um cargo elevado e mantê-lo. Qual o perfil da empresa e do cargo? Nível de habilidades exigidos, tempo de dedicação, necessidade de viagens ou ainda um sisteminha 24×7.

Lembre-se do tempo. Este, para os efeitos aqui, é linear. Um segundo após o outro, não tem como colocar um segundo sobre o outro. Não dá para ser “multitempo.” Assim a profissão será o elemento que mais consumirá tempo cronológico sobrando menos para os outros elementos. Contudo, aqui está a diferença. Não se trata de equilibrar os elementos no tempo e sim fazer com que todos os outros elementos confluam em direção à profissão.

Por exemplo, a família deve estar sob um acordo claro do quanto a profissão tomará de tempo. Contudo, a família deve ser incluída neste fluxo em direção ao elemento central. A família deve participar. Deve-se criar uma troca entre os membros da família no qual se gere laços que fortalecem a busca do cargo desejado.

Com os filhos: Ao invés do papai ou a mamãe (o profissional aqui pode ser claramente de qualquer gênero) falarem da decisão que tem que tomar na empresa, pode partilhar com os filhos a ideia desta decisão através de um jogo, de uma cena criada com os brinquedos. Cria-se um role play. E por se tratar de crianças, esteja preparada(o) para ideias malucas que podem lhe ajudar na sua profissão.

Com o cônjuge: Aquilo que você mais deseja de apoio de seu parceiro, busque dar ao invés de pedir. Se quer atenção, dê atenção. Se quer compreensão dê compreensão. Se quer silêncio, crie a atmosfera para o silêncio, que é diferente do distanciamento.

Desta maneira, transformamos nosso elemento central em centro de gravidade e partimos para os acordos e rotinas necessários para atendê-lo.

Dica: seja muito honesto com você mesmo sobre o que você escolhe como elemento gerador do campo gravitacional. Se você falhar neste ponto todo o resto se desmorona.

Por fim, este texto está dentro do conceito de Vida Integrada, Work Life Integration. Gravei uma série disponível no YouTube sobre este tema.

Sucesso e Um grande abraço!

Por Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa. Autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação