Um editorial da edição de dezembro de 2022 da prestigiosa revista JAMA (Journal of American Medical Association) traz o tema da desconexão social como um determinante social de saúde tão importante quanto o tabagismo.

O isolamento social (uma falta objetiva de contato social com outras pessoas) e a solidão (sentimento subjetivo de estar isolado) são pouco avaliados e considerados no sistema de saúde. Não podemos nos esquecer que os seres humanos são sociais por natureza e relacionamentos de qualidade são vitais para a saúde e o bem-estar das pessoas. A sua ausência pode levar a riscos em saúde física, mental e declínio cognitivo.

De acordo com estudos internacionais, a desconexão social tem efeitos em termos de taxas de mortalidade comparáveis ao uso de 15 cigarros ao dia ou consumo de 6 doses de bebida alcoólica diária.  Uma metaanálise com 148 estudos mostrou que pessoas que mantém uma boa conexão social tem uma sobrevida 50% maior. Há evidências de que o isolamento social pode afetar a função imunológica e a resposta fisiológica ao stress.

Sabe-se também que há uma relação bidirecional, ou seja, as pessoas com isolamento social ou solidão podem ter mais chance de desenvolver condições crônicas de saúde. Por outro lado, as pessoas como tais condições crônicas, podem ter uma mudança na qualidade, quantidade ou estrutura dos relacionamentos com a piora da sua doença de base.

A questão tem se revelado tão importante que, países como o Reino Unido e o Japão criaram ministérios para lidar com a questão da solidão.  Aspectos da vida moderna como o uso da tecnologia para comunicação, o individualismo e o consumismo podem agravar a questão. Tudo isso se agravou durante a pandemia de COVID-19.

Naturalmente, o ponto fundamental é a educação, desde a infância, sobre a importância das relações sociais, que devem ser nutridas e os profissionais que lidam com pessoas devem ser treinadas para avaliar e apoiar as pessoas neste campo.

No ambiente de trabalho, o tema também é importante. O estabelecimento de metas pessoais e o individualismo, associados ao trabalho em casa, podem propiciar casos de desconexão social que não são identificados pelos profissionais de saúde e de recursos humanos.  Além disso, é importante que estas pessoas não sejam estigmatizadas.

Neste contexto, é importante estimular as pessoas a participarem de ações coletivas em atividade física, por exemplo. A mudança do estilo de vida pode estimular as pessoas a aumentarem sua conexão social.

Um documento de 317 páginas sobre o tema foi produzido pelo National Academies of Science, Engineering and Medicine, dos Estados Unidos foi produzido sobre o tema em 2022. Trata-se de uma boa fonte de pesquisa para que deseja se aprofundar no tema. Está disponível no link.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.