Muito tem se falado sobre o tema de saúde mental nas organizações. Programas de apoio (como o oferecimento de canais de ajuda e terapia) têm surgido e algumas empresas até criaram novas diretorias para cuidar especificamente desse tema. Com a pandemia da Covid-19, os quadros de ansiedade e depressão se tornaram mais frequentes (ou talvez as suas manifestações estejam mais visíveis) e as empresas se viram obrigadas a atuar de maneira mais ativa, em prol da saúde mental de seus colaboradores.

No entanto, ainda percebo poucas discussões sobre as causas que podem estar levando as pessoas a adoecerem e em como proporcionar ambientes mais saudáveis. Em geral, é dado um grande foco aos sintomas e em como tratá-los e pouca ênfase em eliminar algumas das causas geradoras. Entendo que existe um avanço, considerando que, antes da pandemia, ainda era um tema ao qual se dava pouca atenção. Porém, acredito que estamos distantes de mudar radicalmente a perspectiva sobre essa questão. O debate deveria estar mais centrado em como promover felicidade.

Mas, afinal, o que é felicidade?

Se fizermos uma busca no Google sobre o termo “Felicidade”, o dicionário Oxford Languages irá nos trazer a seguinte definição:

1.qualidade ou estado de feliz; estado de uma consciência plenamente satisfeita; satisfação, contentamento, bem-estar.

Há 80 anos, a Universidade de Harvard vem estudando a felicidade e tem chegado a conclusões bem interessantes. O professor Tal Ben-Shahar, criador do curso que se tornou um dos mais populares na história de Harvard, afirma que “a felicidade não consiste em chegar ao pico de uma montanha, nem em fazer uma escalada sem rumo, a felicidade está na experiência de subir até o topo”.

Muitas vezes, olhamos apenas para o sucesso, ou seja, em alcançar determinados objetivos e não valorizamos o processo em si, a jornada que nos leva até essas realizações, sendo que esta é a que ocupa a maior parte das nossas vidas. Além disso, parece que estamos sempre olhando apenas pra frente, para o que está por vir, e não vivemos plenamente o aqui e agora.

A felicidade não é um estado contínuo e permanente, assim como a tristeza também não é. Como seres humanos, vivenciamos uma série de emoções ao longo das nossas vidas e é importante entendermos que, mesmo as mais dolorosas, como raiva, frustração e angústia, também fazem parte do caminho.

Mas o que podemos fazer para ter mais momentos de felicidade? Como a felicidade se encontra no caminho a ser percorrido em nossas vidas, é importante avaliarmos o equilíbrio entre todos os aspectos envolvidos. Trabalho é apenas uma parte. Para ter uma vida com mais bem-estar, precisamos buscar felicidade no trabalho, no lazer, nas relações com a família e em outros relacionamentos, além de conceder maior tempo e atenção à nossa saúde física e mental.

Já se sabe que felicidade e produtividade caminham juntas. Se estamos em um ambiente que nos transmite segurança e equilíbrio, nosso senso de engajamento aumenta e tendemos a ser mais produtivos. Quando nos sentimos produtivos, também experimentamos um maior grau de felicidade. A grande questão é que o excesso de demandas e a pressão por entregar resultados rápidos, muitas vezes, nos fazem sentir improdutivos, deixando a sensação de que estamos sempre devendo, o que pode levar a quadros de estafa física e mental e de total esgotamento, como o burnout.

E qual o papel das empresas nessa equação?

Se a felicidade está no processo ou no caminho e não na meta alcançada, as organizações deveriam investir mais tempo pensando em como tornar a experiência de seus colaboradores mais interessante e leve, e em promover um ambiente propício à geração de mais momentos de felicidade.

Algumas empresas acabam adotando estratégias vinculadas a remunerações mais agressivas como forma de compensar ambientes competitivos e com altas cargas de trabalho, mas até onde isso é sustentável?

Como bem coloca o professor Tal Bem-Shahar, “sucesso não traz, necessariamente, felicidade. Ter dinheiro ou ser famoso só nos faz ter faíscas de alegria. A definição de sucesso para as gerações mais novas mudou. Não é que as pessoas não busquem dinheiro e poder, mas há outros incentivos. No passado, sucesso era definido de maneira restrita, e as pessoas ficavam numa empresa até a aposentadoria. Agora, há uma ânsia por ascender no trabalho, ter equilíbrio na vida pessoal e encontrar um propósito.”

Enquanto algumas empresas estão preocupadas apenas em oferecer programas de bem-estar, outras estão realmente buscando transformações mais profundas. Não adianta ter uma série de programas paliativos se as pessoas estão inseridas em um ambiente hostil, que as consome, sem flexibilidade, autonomia para realizar o trabalho, reconhecimento ou ainda com salários aquém de suas responsabilidades. É esse próprio ambiente que, muitas vezes, as deixa doentes. A autora Brené Brown traz uma provocação interessante, que deveria servir de reflexão para que muitas organizações repensem as suas práticas: “Não é o sucesso que traz felicidade, é o seu estado de felicidade que provoca o seu sucesso.”

Para transformar o contexto organizacional, uma boa fonte para se beber é a psicologia positiva, que surgiu a partir dos estudos de Martin Seligman, e que estimula uma mudança de foco: parar de enxergar somente o que vai mal e valorizar o que vai bem, mesmo em cenários mais desafiadores.

Para que se possa realizar essa mudança de mentalidade, é importante que a liderança esteja engajada em oferecer um ambiente com autonomia e reconhecimento, além de estimular conexões de qualidade entre as pessoas. A qualidade dos relacionamentos e o sentimento de comunidade são fundamentais para gerar mais felicidade, conforme apontam as pesquisas de Harvard.

Penso que o futuro do trabalho consistirá numa competição entre as empresas para ver quais são capazes de gerar os maiores índices de felicidade, e isso será tão importante quanto a inovação em modelos de negócios, produtos e serviços. O sucesso nos negócios será apenas uma consequência natural dessa mudança de perspectiva. As organizações que não considerarem a felicidade como vital na agenda institucional, ficarão para trás.

Por Renata Meireles, Head de RH da Cyrela. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião da colunista. Foto: Divulgação.