Com as recentes notícias de grandes empresas como Zoom, Google, Salesforce e Amazon adotando políticas mais firmes de retorno parcial aos escritórios, as discussões envolvendo home office e cultura organizacional voltaram a ficar em alta. Ainda que enfrentem alguns desafios relacionados ao legado, essas companhias consolidadas, com anos de experiência e recursos substanciais, possuem a capacidade de se adaptar mais facilmente a diferentes modelos de trabalho e moldar suas normas de acordo com as circunstâncias.

Porém, o cenário é diferente quando falamos em startups, que têm como prioridade a busca constante por inovação e crescimento rápido. Isso porque elas costumam nascer em ambientes de trabalho mais flexíveis, com pouca estrutura e instrumentos que permitam a criação de uma cultura longeva.

Essa dificuldade precisa ser enfrentada para garantir que as startups não apenas sobrevivam, como também prosperem ao longo do tempo e se estabeleçam verdadeiramente – ainda mais neste cenário pós-pandêmico, no qual a cultura precisa ser cultivada e fortalecida nos ambientes remotos. De acordo com uma pesquisa da Think Work Lab com a HRTech Atlas, o fortalecimento da cultura organizacional é o grande desafio do RH este ano.

Já o Estudo Nacional sobre Evolução Digital e Inovação de Negócios, realizado pela Meta e a Fundação Dom Cabral, mostra que para 67% dos executivos brasileiros a cultura corporativa é o principal entrave da transformação digital atualmente. Dito isso, como criar esses valores internos de forma estruturada e garantir que eles perdurem mesmo em meio ao trabalho remoto, às turbulências do mundo dos negócios e aos obstáculos intrínsecos de ser uma jovem empresa tentando seu lugar no mercado?

No mundo dinâmico das startups, enquanto inovação e agilidade são altamente valorizadas, uma visão de longo prazo, especialmente ancorada na responsabilidade social, está se mostrando indispensável para o sucesso contínuo.

Um estudo revelador da Deloitte aponta que 72% dos jovens estão prontos para abandonar posições em empresas que não estejam alinhadas com seus princípios éticos e sustentáveis. Este dado sublinha a crescente demanda por um propósito corporativo que vá além dos lucros.

Para startups, integrar responsabilidade social desde o início é mais do que uma questão moral, é uma estratégia essencial. Colaboradores que veem e compartilham do propósito da empresa tendem a ser mais leais, criativos e dedicados, ingredientes vitais para o sucesso a longo prazo. Cultivar uma cultura de longevidade e responsabilidade vai além das palavras: significa internalizar esses valores em todas as decisões e ações.

Ao adotar essa abordagem, startups não apenas se diferenciam em um mercado competitivo, mas também estabelecem as bases para um legado duradouro, atraindo e retendo talentos alinhados à sua missão. Outro ponto é que uma cultura longeva valoriza o crescimento pessoal e profissional de seus colaboradores. Nesse sentido, é fundamental que os empreendedores invistam em treinamento, educação e oportunidades de desenvolvimento para sua equipe. Essas iniciativas funcionam tanto para melhorar a satisfação e engajamento, quanto para criar times mais qualificados, integrados e comprometidos.

Os feedbacks contínuos e o reconhecimento de conquistas, por menores que sejam, são outros fatores cruciais, pois dar retornos construtivos sobre o desempenho, comemorar marcos importantes e êxitos em tarefas do dia a dia reforça a moral da equipe e cria um senso de realização e pertencimento. Mas não podemos esquecer que os fracassos também são parte da rotina e não podem ser temidos, visto que apresentam oportunidades valiosas de aprendizado que podem impulsionar a inovação.

Promover a transparência em todos os níveis da organização, compartilhando informações sobre a estratégia, metas e desafios, também é fundamental. Além disso, é preciso envolver os funcionários e fazer com que se sintam parte dos processos.

Todas essas estratégias criam uma relação de confiança entre os colaboradores e as lideranças, e isso é crucial na jornada para estabelecer uma cultura sólida e duradoura. E, em meio a tudo isso, manter a agilidade, ponto forte das startups, é imprescindível mesmo à medida que a empresa cresce.

Além disso, é essencial ressaltar que muitas companhias ainda estão experimentando para encontrar o equilíbrio certo entre presencial e remoto. Ainda que o home office seja conveniente, o valor das interações face a face não pode ser subestimado. Encontros presenciais ocasionais para planejamento estratégico, brainstorming e fortalecimento da equipe são vitais. Assim como a dinâmica do “team building“, que ajuda a fortalecer laços, alinhar objetivos e revigorar a paixão pelo projeto.

Essa postura, disposta a se adaptar às mudanças no mercado, ajustar a rota conforme necessário e encorajar o aprendizado contínuo, é um grande diferencial com relação às organizações tradicionais e não pode ser perdida. Tenha em mente: muita rigidez pode sufocar a inovação.

Gustavo Caetano é CEO da Samba Tech, embaixador da Reserva e autor do best-seller “Pense Simples”. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.