Você já ouviu falar em estresse financeiro? Nem todo mundo conhece esse termo, mas ele faz parte da vida de muitos brasileiros. O excesso de preocupação com as finanças pessoais leva ao desenvolvimento desse tipo de estresse: um mal que gera conflitos comportamentais, causa diversos problemas de saúde, atrapalha relacionamentos e até prejudica o rendimento de muitas pessoas no trabalho

Já não é novidade para muitos especialistas de RH, mas sempre vale o reforço: frequentemente, as preocupações com dívidas, contas atrasadas e dificuldades em poupar e investir tiram a concentração dos profissionais ao longo do seu dia.

O colaborador que sofre com estresse financeiro tende a se martirizar antecipadamente com eventos futuros. Isso porque ele pensa constantemente nos diversos cenários possíveis para os seus problemas e antecipa uma série de sentimentos negativos que acredita que irá experimentar futuramente.

Prova disso é que, segundo um levantamento feito pela Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada, 30% dos trabalhadores brasileiros sentem que as preocupações financeiras atrapalham seu rendimento no trabalho. Não à toa, o estresse financeiro dos funcionários vem preocupando empresas de todo o mundo como uma das principais causas de baixa produtividade e desmotivação. 

A nossa pesquisa revela algumas razões para a performance das pessoas ser tão impactada. Entre os entrevistados que percebem como as finanças impactam seu rendimento, 59% perdem o sono pensando nas contas; 54% perdem o foco durante o dia; 20% ficam mal-humorados e impacientes com os colegas de trabalho e 20% precisam resolver pendências ao longo do dia. 

Também descobrimos que, em média, três horas de trabalho por dia são comprometidas pelo estresse financeiro. Isso representa um mês útil por ano! 

E se engana quem pensa que o mal está associado a uma classe social específica e afeta somente profissionais com salários mais baixos. A verdade é que o valor do salário não está diretamente relacionado às preocupações com o dinheiro. A amostra de nosso estudo é composta por diferentes graus de senioridade – e todos eles sofrem de estresse financeiro. O que leva alguém a ter uma vida financeiramente saudável é disciplina e tempo – e não, necessariamente, a quantia que recebe todos os meses. 

Historicamente, os empregadores sempre acharam que as finanças de seus funcionários não eram parte de sua responsabilidade. Porém, de uns anos para cá, felizmente, as empresas têm entendido que há uma clara conexão entre o bem-estar mental e financeiro. 

Dessa forma, cada vez mais as instituições investem na orientação financeira de seus colaboradores, como parte essencial dos programas de bem-estar. Salários e benefícios, como plano de saúde e vale alimentação, por exemplo, já não são mais suficientes para garantir a retenção de talentos. 

As organizações têm se mobilizado, por exemplo, para oferecer consultorias de investimentos, planos de previdência, programas de educação financeira e outras iniciativas que ajudem os profissionais a se organizarem e pouparem para o futuro.

Precisamos encarar o fato de que falar de dinheiro ainda é um tabu. No geral, as pessoas associam dinheiro a sentimentos negativos; e a tendência natural do ser humano é se afastar daquilo que não é positivo – na maioria das vezes, acabamos preferindo viver em negação. 

Por isso, é tão importante que cada vez mais as empresas, os casais, famílias e amigos falem de dinheiro abertamente, sem que o assunto carregue um peso maior do que deveria. Só assim conseguiremos ajudar a diminuir índices de endividamento, estresse e ansiedade por questões financeiras. 

Educação financeira não se trata apenas de questões matemáticas e econômicas, mas de hábitos e costumes gerais, que envolvem as finanças pessoais. E também é papel das empresas engajar no combate ao estresse financeiro dos colaboradores, principalmente se quiserem garantir seus índices de produtividade, retenção de talentos e alta performance.

Antonio Rocha, CEO e cofundador da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.