Um dos termos mais ouvidos nos últimos anos dentro e fora do mercado de trabalho foi “saúde mental”. Com o avanço das discussões sobre os diversos aspectos que impactam o dia a dia das pessoas, desde questões profissionais até pessoais, esse conceito foi trazido à tona com mais ênfase e passou a ser tratado com mais seriedade.

Uma das principais responsáveis por essa mudança foi a pandemia de covid-19, que abalou o psicológico de grande parte da população mundial, tornando imprescindível o cuidado com a saúde mental em todas as esferas da vida. De acordo com estudo divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), apenas em 2020, primeiro ano da crise sanitária, foi possível observar um crescimento de 25% em transtornos como ansiedade e depressão globalmente. 

À medida que fomos prestando mais atenção nessa questão e descobrindo os seus possíveis efeitos, ficou clara a importância de seguir trazendo o tema para os holofotes, principalmente dentro das organizações. Segundo pesquisa da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, em 2020 o Brasil registrou um aumento de 26% na entrega de auxílios-doença previdenciários causados por problemas comportamentais e psicológicos com relação a 2019, valor considerado inédito.

Outra pesquisa da Closecare, startup de gestão de atestados médicos e saúde corporativa, sobre a real situação da saúde mental nos ambientes de trabalho, revelou ainda um aumento de 30% nos afastamentos causados por transtornos mentais de 2020 para cá, principalmente em companhias do segmento administrativo.

Os dados não mentem: basta ver a quantidade de profissionais sofrendo com doenças como depressão, ansiedade, burnout, estresse, crise de pânico, entre outras, que afetam negativamente não só a produtividade e entrega de resultados, como também as relações com familiares, amigos e colegas.

Outro ponto significativo é que muitos colaboradores têm medo de trazer essa questão para o espaço corporativo, pois sentem que, além de não serem ouvidos, podem ter suas carreiras prejudicadas e até perder o emprego. É o que mostra um estudo realizado com 1.079 pessoas pela Fast Company, que aponta que 77% dos funcionários acham que a saúde mental não é discutida o bastante dentro das organizações, enquanto 58% nem sequer ficam confortáveis para abordar o assunto junto a outros colegas e gestores.

E não podemos e nem devemos nos acostumar com esse cenário, pois os danos que ele traz vão muito além daqueles causados à vida profissional. Os novos tempos mostraram que se preocupar com a saúde mental é mandatório. Precisamos criar ambientes de trabalho mais acolhedores e leves, que permitam com que os funcionários consigam desempenhar suas funções da melhor forma possível e se sintam felizes e realizados nesse processo.

E o que torna ainda mais essencial discutir esse tema é que ele se transforma em um ciclo destrutivo agravado principalmente por ambientes de ofício tóxicos. Outros dados da mesma pesquisa da Fast Company indicam que para 47% dos colaboradores o trabalho impacta a saúde mental, e 43% afirmaram que ela piorou suas performances.

Fica claro que esses espaços, quando administrados por lideranças centralizadoras, pouco empáticas e sem preparo para reconhecer que os funcionários são, acima de tudo, seres humanos, só contribuem para piorar a saúde mental das pessoas, que consequentemente apresentam desempenho inferior, o que acaba às afetando ainda mais negativamente, já que passam a se cobrar ainda mais por resultados que não estão em condições de entregar, e por aí vai.

E se todos esses argumentos não forem suficientes para convencer as empresas de que esses debates são importantes e indispensáveis para o sucesso dos negócios, vale ressaltar que cada atestado de licença custa cerca de R$ 1.293 para as companhias, e a previsão é que até o final deste ano aproximadamente R$ 5 bilhões serão gastos com o afastamento de profissionais, segundo pesquisa da Closecare. 

Fica claro que pensar na saúde mental não é opcional, mas sim uma premissa para construir qualquer negócio daqui para frente. Torço para que num futuro próximo todas as empresas, incluindo seus gestores e C-levels, passem a considerar esses cuidados como uma prioridade, pois só assim poderemos alcançar um mundo ideal no qual a vida pessoal e profissional se complementam de forma equilibrada. Pense nisso!

Gustavo Caetano é CEO da Samba Tech, embaixador da Reserva e autor do best seller “Pense Simples”. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.