Faça uma pesquisa rápida no seu navegador e veja quantos resultados você vai obter se associar a palavra liderança à solidão. Recentemente, conversando com um grupo de líderes sobre essa questão, identifiquei que muitos deles se sentem constantemente sozinhos, mesmo que estivéssemos ali partilhando a mesma conversa. Na mesma tela do computador.

O paradoxo me levou a refletir sobre essa sensação que parece um fardo comum àqueles que se colocam à frente de equipes no cotidiano corporativo. E, por isso, resolvi organizar, neste artigo, um pequeno compilado de pesquisas, insights e pensamentos que tive ao longo desse, até agora, curto caminho.

Tudo começou quando tive meu primeiro contato com o livro de uma economista inglesa chamada Noreena Hertz. Na capa, em meio a uma paisagem urbana, sem horizonte visível, encontrando lugar entre edifícios enormes de cor cinza azulada, escondia-se o título: O século da solidão.

A obra se tornou obrigatória logo após o seu lançamento. O livro pode ser considerado um clássico por natureza. Esse atributo não se deve apenas ao fato de Noreena ser uma das maiores autoras do século, mas também pela relevância do tema.

Pesquisa Infojobs

Longe de ser uma pesquisa que se atém à sensação de estar só, o livro trata especificamente sobre a fragmentação de uma comunidade marcada por intensa inclusão tecnológica, desmantelamento de instituições civis, consequências sistêmicas de políticas que deixaram de lado o “bem comum” e a radical reorganização do local de trabalho.

Embora todos os motivos nos levem à discussão, é sobre esse último fator que gostaria de me debruçar.

Novos caminhos para a liderança

Após meses conectados por computadores e celulares, a retomada de ações presenciais veio acompanhada por novas tendências e por novos desafios. O escritório segmentado ainda funciona, mas não cura as dores do distanciamento que vivemos nos últimos anos. O mundo voltou da pandemia com uma nova lição de casa e precisa reaprender a construir laços.

Não por acaso, fala-se muito sobre ambientes integrados e espaços de convivência, na arquitetura corporativa, sobre a experiência do colaborador, nas estratégias de gestão, e principalmente sobre atenção ao indivíduo e sobre humanização dos processos. O líder não está excluído dessa equação.

Em uma das pesquisas que realizei, li que o líder precisa conviver com a solidão como se fosse uma sensação inerente ao cargo. No entanto, se fizermos outra pesquisa rápida e colocarmos a expressão futuro da liderança, podemos obter uma série de outras conclusões. Vulnerabilidade, soft skills e Inteligência Emocional estarão, com certeza, no topo da lista.

Isso porque são valorizadas, cada vez mais, as lideranças empáticas, que investigam a si mesmas e trabalham as relações interpessoais do dia a dia. Essa atitude, aliás, traz maiores subsídios para encaminhar a gestão, além de permitir líderes mais presentes, capazes de construir laços de confiança maiores.

O resultado?

Aumento da sensação de coletividade para ambas as partes e a diminuição da sobrecarga daqueles que guiam as equipes.

Existe fórmula? Não, mas existem boas maneiras de iniciar essa trajetória

Embora a vulnerabilidade nos dê a impressão imediata de exposição e desproteção, desenvolvê-la possibilita às pessoas criem identificações umas com as outras. Você não precisa, nem deve, se abrir deliberadamente, mas demonstrar emoções, compartilhar opiniões e saber a hora de pedir ajuda aos colaboradores são gestos que, com certeza, aumentarão a qualidade das relações entre você e sua equipe.

Quando falamos de soft skills estamos nos referindo principalmente à habilidade de nos relacionarmos. O processo que envolve o desenvolvimento de nossa colaboração, flexibilidade, resiliência, escuta e comunicação eficaz se inicia na disposição de nos conectarmos. Tente participar mais ativamente dos momentos compartilhados!

E, por fim, se mal temos tempo para nós mesmo, como alcançarmos a tão aclamada Inteligência Emocional para lidarmos melhor com nossas relações?

Dando a nós tempo para sentirmos e aprendermos com nossas emoções. É sozinho, com nossos familiares ou com nossos amigos que somos capazes de nos conectarmos afetivamente. Conosco e com quem amamos. Obter pausas no trabalho é, portanto, necessário. Esse equilíbrio é fundamental para a saúde mental da liderança que corre o risco de se ver constantemente sobrecarregada.

E não se esqueça: ser solitário não é a natureza de um líder. Porém, estar consigo mesmo e criar laços coletivos é um trabalho diário. Não coloque isso tudo como uma nova pressão. Muito pelo contrário, comece essa trajetória sem o peso da liderança rígida e autoritária e sinta-se mais livre para ser e deixar as pessoas verem quem você é, com toda a sua humanidade, vulnerabilidade e potência.

Ser solitário é a verdadeira natureza de um líder?

Por Fátima Macedo, CEO na Mental Clean, especialista em Psicologia da Saúde Ocupacional e Terapia Cognitivo Comportamental, Coordenadora e Docente dos cursos no SAMPO-IPq-HC-FMUSP.

 

Ouça o episódio 149, “Líder, já colocou a empatia no seu currículo?“. Na busca por uma gestão mais humanizada e em um momento em que o perfil das lideranças vem passando por transformações, a empatia surge como uma habilidade-chave para os líderes. Mas o que significa, na prática, ser um profissional empático? Como desenvolver essa habilidade? A pandemia e os períodos de crise também evidenciam a importância das soft skills no ambiente organizacional. Como o RH pode contribuir para que esse conceito faça parte da cultura da empresa? Conversamos com Vivian Laube, Especialista em Liderança e Comportamento Organizacional, e Priscila Monaco, Diretora Senior de RH da Visa. Acompanhe!

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Capa: Depositphotos