O que a Beyoncé tem a ver com o seu trabalho? Conheça o quiet quitting

O trabalho vem passando por uma importante transformação devido aos recentes acontecimentos socioeconômicos. Devido ao COVID-19, muitas pessoas perceberam que há mais na vida do que apenas trabalhar. Por isso as novas gerações, como os Millennials e a Geração Z, estão avançando em pedir melhores condições de trabalho e já não aceitam trabalhar em empresas com as quais não se identificam.

Dois novos fenômenos podem ser observados devido a essa transformação: são eles a Grande Resignação e o Quiet Quitting, ou Desistência Silenciosa, em tradução literal.

A Grande Resignação é caracterizada por uma onda de pedidos de demissão. Estima-se que cerca de 500 mil pessoas tenham pedido demissão de seus empregos nos últimos meses só no Brasil, e esses números vem crescendo todos os meses. Esse não é um fenômeno novo, visto que ano após ano os pedidos de demissões vem crescendo, porém voltou a chamar a atenção pelo seu aumento exponencial no ano de 2022. Kazuhiro Hara, professor da Universidade Kwansei Gakuin, no Japão, cunhou o termo.


Baixe gratuitamente os dois eBooks “É preciso falar sobre a saúde mental no ambiente de trabalho“: Nestes dois ebooks [Parte I e II] você encontrará mais sobre: Pesquisas e dados sobre o assunto, De que forma as empresas estão criando estratégias, Principais sintomas, Como ajudar os colaboradores. Material rico pelo RHPraVocê. Clique AQUI.


Em sua tese, ele descreve os efeitos causados ​​pela COVID-19 e em quais áreas ela teria seu maior impacto. Ele afirma que essa onda de demissões não será apenas uma tendência, mas que se tornará consistente.

E, assim, voltou a chamar atenção também pelo fato de que, com ele, estar associado a um novo fenômeno do Quiet Quitting. Nele, os jovens, principalmente da geração Z e Millennials, se recusam a trabalhar em empresas que não lhes proporcionam boas condições de trabalho, nas quais eles possam ter um maior equilíbrio entre as atividades laborais e suas atividades pessoais, como o lazer. Já aqueles que estão empregados buscam fazer somente aquilo pelo qual eles foram contratados, sem mais ou menos.

Tais gerações já não acreditam mais nas promessas vazias de que se trabalharem duro, um dia terão um alto cargo e uma sala com vista panorâmica. Eles já não acreditam mais em expressões comuns do jargão empresarial, como “vestir a camisa”. Tanto o fenômeno da Grande Resignação quanto o do Quiet Quitting surgem quando um colaborador não se identifica com o trabalho, quando o trabalho não apresenta um propósito ou uma função social que faça aquele jovem se engajar em sua atividade.

Eles buscam, cada vez mais, um significado no que fazem.

Esses novos fenômenos são tão intensos e importantes para esta geração que foram descritos em uma música recente de Beyoncé, chamada Break My Soul, ou “Despedaçar a minha Alma”, em tradução literal. Nessa música, a cantora diz coisas como “eles fazem eu me esforçar tanto, trabalhar às nove, depois das cinco, acabam com minha paciência, e é por isso que não consigo dormir à noite”.

Por fim, ela diz aos jovens que “liberte sua raiva, liberte sua mente, liberte seu trabalho, liberte seu tempo, liberte seu negócio, liberte seu estresse, liberte seu amor, esqueça o resto”.

Nesse sentido, é possível ver que a cultura do empreendedorismo tem influenciado na visão dos mais jovens. Isso significa que as novas gerações querem se engajar e querem encontrar um emprego com significado para suas vidas, não apenas um lugar onde possam ganhar dinheiro. As pessoas não querem estar empregadas apenas por um salário e estão mais ligadas ao fato de criar valor para suas vidas e para a vida de outras pessoas.

O movimento do Quiet Quitting dá uma mensagem clara aos empregadores de que as condições de trabalho devem ser melhoradas. As pessoas estão motivadas e dispostas a dar o seu melhor se se sentirem ligadas ao trabalho e se sentirem que o seu trabalho é importante para o sucesso da empresa.

É importante entender que não se trata aqui de ser preguiçoso, mas expressa o quão importante é o trabalho para o futuro desta geração e que eles têm expectativas. Por isso, é hora de mudar a cultura empresarial, mudando a percepção do que significa o trabalho e o que se espera dos colaboradores.

O Quiet Quitting e a Grande Resignação trazem duas consequências importantes: para as empresas, uma maior dificuldade em encontrar mão de obra qualificada entre os jovens. Para os jovens, há uma maior desconfiança por parte das empresas em contratá-los para os cargos abertos. A solução? Simples: melhorar as condições de trabalho e buscar o envolvimento dos colaboradores nas discussões e soluções sobre tais condições.

É fundamental, cada vez mais, que haja uma gestão participativa e saudável. As empresas devem ter políticas claras sobre a gestão do tempo de seus colaboradores e permitir que haja um melhor equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal. Isso quer dizer que mensagens em aplicativos fora do horário de trabalho devem ser desencorajados e o tempo de descanso deve ser respeitado, não permitindo horas-extras constantes e tendo políticas de incentivo ao lazer.

Programas que incentivam a qualidade de vida dos colaboradores são um grande diferencial, bem como a busca por programas que vão além do compliance, como programas de ética organizacional.

Ou seja, os jovens querem mais do seu trabalho do que apenas dinheiro. Querem reconhecimento social, engajamento e trabalho significativo.

O que a Beyoncé tem a ver com o seu trabalho?

Por Ricardo Massola, Mestre e especialista em qualidade de vida no trabalho, bem-estar, ergonomia e saúde coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É CEO da PhD, empresa internacional de gestão em ergonomia que fornece serviços de saúde corporativa, atuando como consultor internacional em qualidade de vida em empresas do segmento automobilístico, logístico, hospitalar e farmacêutico. Também é formado em fisioterapia pela PUC-Campinas, especialista em fatores humanos pela Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA) e professor convidado da Unicamp e de outras intuições de ensino.

Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 90, “Burnout como doença do trabalho: o que muda?” com Marcela Ziliotto, Head de People na Pipo Saúde e José Ricardo Amaro, diretor de RH da Ticket. Clicando diretamente no app abaixo:

Não se esqueça de seguir nosso podcast e interagir em nossas redes sociais:

Facebook
Instagram
LinkedIn
YouTube

Capa: Depositphotos