Responder a pergunta que intitula esta postagem é complexo. Afinal, antes de saber se uma rede social está sendo ou não utilizada da forma correta – se é que isso existe -, é preciso compreender dois pontos: qual é o propósito da rede e qual é a intenção do usuário ao fazer parte dela, uma vez que, no final das contas, ele é quem acaba ditando o ritmo.

No caso do LinkedIn, a premissa é básica – ou nem tanto: ser uma rede para conexões profissionais. Mas o que isso realmente diz? Para algumas pessoas, a rede profissional é perfeita para fazer networking e conhecer outras pessoas de sua respectiva área, o que pode garantir que portas se abram no futuro. Para outras, o LinkedIn nada mais é do que uma plataforma de vagas, cujo intuito é acrescentar o máximo de informações em seu “currículo virtual” e tentar a sorte se cadastrando nas oportunidades em aberto. Outros, todavia, enxergam a rede profissional como um mecanismo de se “fazer justiça” ou contar boas histórias – com uma pitada de exagero.

O fato é que o Brasil é o quarto país no qual a rede mais cresce por ano (14%) e o número de usuários locais, até 2021, já era de 51 milhões, o que torna difícil a existência de uma uniformidade no uso. Não à toa, a plataforma, em meio a seu crescimento, busca inovar, destacando notícias, influenciadores e utilizando seu algoritmo para que o usuário se sinta cada vez mais à vontade dentro da bolha que é capaz de criar. Porém, em meio a funcionalidades e propósitos, fica um questionamento? Será que, por vezes, a rede – ou melhor, quem a usa – “sai dos trilhos”?

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Cuidado ao tentar viralizar, você pode conseguir

Se tornou muito comum no LinkedIn os conteúdos que movem audiências. Alguns promovem boas práticas, iniciativas diferenciadas das empresas e dicas construtivas de profissionais que visam contribuir com conteúdos engajadores. Outros, porém, muitas vezes se apoiam em críticas, desabafos e até mesmo histórias que podem soar um tanto quanto exageradas. De acordo com Leny, para pessoas que costumam utilizar a plataforma, é preciso ter alguns cuidados não só com as postagens, mas também com as curtidas.

“O LinkedIn tem o poder para ser uma corrente de mudança, especialmente porque muitas empresas o têm como base para avaliar tendências de mercado. É justo, por exemplo, você questionar por que processos seletivos ainda são tão pessoais ou debater sobre práticas abusivas. No entanto, as reclamações devem ser cautelosas e construtivas. Críticas gratuitas, exposição de empresas, transferências de responsabilidade e até mesmo postagens que visam ser positivas, mas passam do ponto, não pegam bem diante dos olhos dos recrutadores e também das próprias conexões. Não é recomendável, por exemplo, romantizar o excesso de trabalho ou usar a rede como plataforma política”, explica Leny Carvalho, consultora de Recursos Humanos.

Cuidado ao tentar viralizar

Ainda segundo a especialista, diferentemente de outras redes sociais, o LinkedIn carece de um uso mais estratégico, principalmente quando o usuário tem um objetivo claro em torno da rede. Para ela, a plataforma não é um local para “fazer justiça com as próprias mãos”, mas para explicar sobre como é possível contribuir para que as empresas se tornem mais humanizadas.

“No LinkedIn nós vemos muitas pessoas apresentando uma imensidão de problemas, mas sem trazer nenhuma possível solução ou criando a expectativa por exageros. E vemos pessoas criando soluções para problemas que não existem. É preciso ter equilíbrio. Reforço, chama a atenção positivamente abordar polêmicas quando há um ponto construtivo envolvido e não apenas uma discussão vazia ou uma exposição gratuita”, explica Leny, que acrescenta.

“Se você demoniza o mercado como um todo ou pega pesado ao falar de ex-empregadores, por mais que possa ter razão e até mesmo ter muitas pessoas concordando, as empresas que observarem podem ter um ‘pé atrás’ ao decidir se vão ou não contatá-lo para oportunidades.”

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InstadIn ou Linkebook?

Outro ponto abordado pela consultora é o uso do LinkedIn como um diário ou com práticas muito semelhantes às de redes como o Instagram e o Facebook. Leny destaca que discussões político-partidárias vêm ganhando força na plataforma, assim como o uso para, constantemente, contar – positiva ou negativamente – como foi o dia no trabalho.

“Por mais que o LinkedIn seja uma rede social, algumas pessoas podem tê-lo deixado ‘social demais’. Não é difícil encontrar polarizações que levam a debates superficiais. Elas podem ser tanto políticas quanto as famosas postagens que dão um tom de colaborador versus empresas, quando o que o mercado busca é que um seja positivo para o outro”, salienta.

Na opinião da profissional, é natural que o LinkedIn tenha um uso muito pessoal não só porque muitas pessoas não têm total conhecimento sobre o que os recrutadores esperam procurar na plataforma, mas também porque se sentem seguras em seus empregos e acreditam que a rede dá visibilidade para críticas voltadas ao mercado de trabalho.

“Se você tem uma porta aberta para contar histórias de superação, sejam elas verdadeiras ou não, para compartilhar valores morais ou até mesmo para buscar autopromoção diante de um público específico, você fará. Até porque não é tão simples entender o LinkedIn. Nem todo conteúdo é para todas as pessoas, nem todas as mensagens funcionam. Nem todos gostam de frases motivacionais ou de ler um ‘trabalhe enquanto eles dormem’. Assim como outras redes, é construída por bolhas. O que torna complexo é que, enquanto em um Instagram ou Facebook você pode fechar sua rede para pessoas específicas, no LinkedIn o mercado de trabalho tem acesso ao seu conteúdo”, pontua.

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Como “tirar vantagem” do LinkedIn?

Se a intenção é, de fato, chamar atenção das empresas e/ou se informar com pessoas que conhecem sobre a área visada, algumas dicas são importantes. Para Luciano Santos, diretor de vendas do Facebook e mentor de carreira, a principal está na construção de um networking poderoso. “Ele tem a capacidade de abrir múltiplas portas no decorrer da carreira, seja para conhecer pessoas da área, seja para aprender, ensinar e resolver problemas, e seja, principalmente, para ter acesso a oportunidades de maneira mais abundante”, elucida.

Santos enfatiza que o networking não é construído em um fim de semana, após ser demitido, mas é resultado de um processo de longo prazo. “São conexões que você cria durante as suas interações profissionais, nos eventos que participa, com os clientes que conhece e com qualquer outro profissional que cruze seu caminho”, explica. Nesse sentido, o executivo de vendas destaca que quanto mais cedo o profissional começar a construir seu networking, melhor, mas sempre tendo consciência de que é preciso persistir, porque algumas vagas demoram para ser conquistadas.

Além disso, para quem busca recolocação, a psicóloga e especialista em gestão de pessoas Maria Claudia Martins, destaca o alto potencial das mídias sociais. Segundo ela, muitos recrutadores buscam nas redes sociais saber mais sobre um candidato antes mesmo de fazer um primeiro contato.

É possível que vagas sejam perdidas sem que você saiba apenas por manter redes sociais com conteúdos considerados ‘inadequados’ por algumas empresas. Então, mantenha as suas mídias sociais em harmonia com o que você está querendo alcançar. Observe postagens que podem prejudicar seu processo de recrutamento e seleção. Vou considerar que você tenha seu perfil no Linkedin, mas se você acabou de pensar – Que trem é isso?. Aí vai uma tarefa, pesquisar e criar seu perfil no Linkedin. Muitas empresas e recrutadores usam essa mídia para encontrar talentos.”

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Também não é difícil encontrar no LinkedIn pessoas que marcam outras empresas ou consultorias para tentar conquistar uma vaga de trabalho. Leny, no entanto, acredita que há caminhos mais práticos e mais eficientes para que, de fato, exista a possibilidade de um contato mais direto.

“Quando você faz um texto mais recheado e marca empresas, conforme o conteúdo viraliza, as organizações se sentem motivadas a te responder. Mas normalmente elas agradecem o interesse e encaminham aqueles links para você cadastrar o currículo, o que você pode fazer entrando nos sites das marcas. Minha dica é usar a criatividade a seu favor. Há pessoas que viralizam por montar currículos diferentes, criativos, descolados e que fogem do padrão, mas não de forma absurda, e sim inovadora”, explica a consultora, que destaca, por fim, que nada precisa ser feito sozinho.

“Busque auxílio de pessoas ao seu redor para te ajudar a montar algo diferente. Isso com certeza tem mais chance de seduzir recrutadores do que o pedido e a marcação por si só”, finaliza.

Por Bruno Piai