Em tempos nos quais o modelo híbrido de trabalho e o home office se consolidaram não apenas como alternativas para o dia a dia corporativo, mas também como poderosos diferenciais para atrair e reter talentos, o retorno ao trabalho presencial pode ser uma estratégia perigosa para muitas organizações, especialmente no que diz respeito ao moral e à satisfação dos colaboradores. Prova disso é um levantamento feito pelo Frank Recruitment Group, que mostra que muitos profissionais estão mais do que dispostos a “fugir” do escritório.
Com base em registros do Google, a consultoria identificou que os estadunidenses, somente em 2022, já realizaram mais de 2 milhões de acessos procurando pelas melhores desculpas para faltar ao trabalho. Para comparação, em 2020 os trabalhadores dos Estados Unidos fizeram apenas 112 mil buscas semelhantes.
Segundo Rowan O’Grady, presidente das Américas do Frank Recruitment Group, por mais que o relatório não justifique as razões por trás disso, em sua visão o retorno aos escritórios é o maior motivador da busca por desculpas. O executivo destaca que muitos profissionais do país têm tido dificuldades para se readaptar à rotina fora do home office.
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Não tentem fazer isso em casa
Tentar arrumar uma desculpa para não trabalhar não é, naturalmente, exclusividade dos norte-americanos. Levante a mão quem nunca teve, por exemplo, ao menos a mínima curiosidade de saber se alguma justificativa poderia ou não ser efetiva para um determinado momento profissional.
O fato é que segundo uma pesquisa de 2020 do Zety, site de carreira e recrutamento, 84% dos 1.034 trabalhadores brasileiros entrevistados já disseram que estavam doentes para garantir uma folga extra. Somente 4% alegaram nunca ter inventado uma desculpa para faltar. Ou seja, ter uma desculpa para não trabalhar está longe de ser algo incomum em nossa cultura.
No top 10 de mentiras mais comuns para faltar ao trabalho, seguindo o “estou me sentindo doente”, estão: 65% – Tive uma emergência familiar; 60% – Tenho um problema pessoal; 60% – Tenho uma consulta no dentista/médico; 48% – Meu carro quebrou; 39% – Estou com uma doença contagiosa; 37% – Meus filhos estão doentes; 32% – Preciso buscar meus filhos; 31% – Um parente faleceu; 29% – Preciso ficar em casa para receber o eletricista/encanador/entregador.
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A mentira tem perna curta
Uma coisa é procurar uma desculpa para faltar no trabalho, outra é colocá-la em prática. O advogado trabalhista Felipe Meireles ressalta que, apesar de comum, não há nada de inocente no mau hábito. Ele salienta que a ação pode terminar até mesmo em justa causa.
“Ausências injustificadas ou não autorizadas podem resultar em advertências, suspensões e desligamento. Quando a infração é recorrente, a demissão pode justa causa pode ocorrer, uma vez que, perante a lei, a prática é configurada como desídio – a negligência do trabalhador em relação às suas responsabilidades profissionais”, explica.
E já que alegar doença costuma ser a desculpa mais habitual, há um elemento específico que também pode contribuir para uma justa causa: o CID do fingimento. O CID 10: Z.76.5 nada mais é do que uma classificação que pode constar no atestado médico alegando que o paciente finge estar doente.
“O ato de fingir tem o nome de simulação consciente. Uma vez que o médico identifica a tentativa de fingimento em relação a uma eventual doença, e constata que a saúde está em boas condições, ele pode ‘castigar’ a má-fé do paciente informando o CID em questão no atestado. De quebra, ele ainda pode optar pelo CID 10: Z027, que alega que o paciente está na consulta unicamente com o intuito de conseguir um atestado médico. Por mais que o paciente possa não autorizar que haja o CID no atestado, a simples ida ao médico não justifica a perda do dia de trabalho”, finaliza o advogado.
Por Bruno Piai