Fortalecido pelo período da pandemia da Covid-19, o home office começa a demonstrar sinais de enfraquecimento e é uma opção cada vez menos adotada pelas organizações em relação aos modelos híbrido e presencial. Novo estudo que revela a queda do trabalho integral à distância foi realizado pela Ticket, com 1.700 profissionais.
De acordo com o levantamento, a quantidade de trabalhadores que atuam remotamente no Brasil teve queda de 10 pontos percentuais no período de um ano. Enquanto em 2022 essa era a realidade de 17% dos entrevistados, agora somente 6,5% fazem home office.
Para a Diretora de Recursos Humanos da Ticket, Tatiana Romero, a normalização das atividades sociais, somada ao fim das restrições de saúde motivadas pelo coronavírus, permitiu que as empresas pudessem avaliar estrategicamente qual modelo de trabalho se encaixa melhor à sua realidade.
“Muitas companhias optaram por manter os colaboradores trabalhando de forma remota, enquanto outras avaliaram que os modelos híbrido ou presencial são mais viáveis às atividades que praticam. Prova disso é que, no período de um ano, a quantidade de profissionais atuando presencialmente subiu de 72,5% para 79% e no modelo híbrido o avanço foi de 10% para 13,5%”, diz.
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Passo para trás?
Segundo Maíra Gracini, presidente da HR Tech Atlas para América Latina, o trabalho remoto é, talvez, a grande tendência para empresas que visam se globalizar e para áreas como as relacionadas à tecnologia. Em palestra realizada no 1º Fórum de Gestão de Pessoas para Empresas Tech, da ABRH, a executiva reforçou a força da flexibilidade e a apontou como um “caminho sem volta”.
Dados de uma pesquisa realizada neste ano pela Atlas com a Think Work Lab indicam que 59% dos RHs preveem problemas de escassez de mão de obra. A preocupação é maior entre empresas que só contam com modelo de trabalho presencial (75%) em comparação com as que adotam o modelo híbrido ou remoto (56%). Para Maíra, esse resultado mostra como o modelo de trabalho atualmente pode impactar a atração e retenção de talentos e a satisfação com a empresa, que definem os rumos das companhias.
Outro ponto destacado por ela é referente à atuação do RH. A presidente da Atlas destaca que compete ao setor “questionar o que funciona para a cultura da empresa e ser o provocador da mudança”, uma vez que a área de Recursos Humanos “tem o poder de desmitificar o trabalho remoto para as lideranças e iniciar discussões sobre flexibilidade baseadas em dados e estudos”.
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Lideranças ainda desmobilizadas
Além da cultura da empresa, as justificativas para minimizar o trabalho remoto passa também por um assunto que ganhou força desde que o home office se tornou quase obrigatório durante a pandemia: o despreparo das lideranças para liderar a distância.
Consultora de RH, Lia Chagas pontua que a falta de uma cultura de capacitação nas empresas brasileiras faz com que os líderes sejam mais resistentes às dinâmicas que fogem do padrão.
“Mas vale ressaltar que o líder não é o culpado disso. Há estudos importantes que revelam o quão pouco as companhias investem no treinamento de seus líderes e suas equipes. Pressionado por resultados, o líder, por vezes, até deseja dar mais autonomia a seu time, mas precisa bater metas e para isso vai no caminho inverso, que é reforçar o controle. Como consequência, a distância se torna em seu psicológico uma vilã, um fator que o faz perder esse comando”, salienta.
Um estudo feito pela consultoria de inovação ACE Cortex vai além. O relatório mostra que, sobre a capacitação da liderança, apenas um em cada três respondentes (31,25%) acredita que a liderança está “preparada” ou “muito preparada” para conduzir a empresa a um futuro mais inovador.
“É óbvio que a empresa precisa decidir de forma assertiva qual modelo de trabalho conduzirá sua rotina, mas será que essa é uma prioridade maior do que preparar as pessoas para trabalhar nas mais diversas situações? O líder precisa estar pronto para sair da caixa e para lidar positivamente mesmo com situações que lhe causem um desconforto.
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Profissionais mais maduros tendem a trabalhar presencialmente
De volta ao levantamento da Ticket, o trabalho presencial é mais comum entre os trabalhadores com mais de 35 anos em comparação aos mais jovens. Enquanto 72% dos profissionais com até 34 anos vão para a empresa todos os dias, entre os mais velhos esse percentual sobe para 82%. Já o home office é praticado por 5% dos profissionais acima de 35 anos e por 9% dos trabalhadores abaixo dessa faixa etária.
“Do mesmo modo que os profissionais de diferentes gerações trazem complementaridade de experiências dentro das empresas, há também um desafio dos gestores de ouvir as expectativas de cada um deles para fomentar cada vez mais diversidade e pluralidade em suas equipes e nos negócios”, salienta Tatiana.
Na análise por região, os profissionais do Norte são os que mais atuam presencialmente, com um índice de 94%, enquanto o Sudeste tem a menor quantidade (72.5%) de trabalhadores nesse modelo. As duas regiões também se destacam no levantamento dos outros padrões de trabalho. Enquanto os profissionais do Norte estão em menor quantidade na prática dos trabalhos remoto (1,5%) e híbrido (4,5%), os trabalhadores do Sudeste são maioria no home office e híbrido, com 8% e 19%, respectivamente.
Por Bruno Piai