O Dia da Mentira, celebrado em 1º de abril, sustenta a tradição de contar mentiras inofensivas e pregar peças em conhecidos. Socialmente pode até haver graça, porém, quando as inverdades chegam ao âmbito profissional, as consequências podem ser bem sérias.

De acordo com uma pesquisa global da Robert Half, realizada no ano passado e que contou com a participação de 300 executivos brasileiros “C-level”, 55% dos líderes destacam as mentiras no currículo ou em entrevistas como os erros que mais comprometem a probabilidade de conquista da vaga. Ao definir qual seria a falha mais grave, 23% colocam mentir na primeira posição. 

O levantamento da Robert Half captou também a percepção de 1.200 líderes da Alemanha, Bélgica, França e Reino Unido. Com o recorte por localidade, o Brasil representa o país onde a atitude é mais condenada.

Perna curta

Segundo Bruno Rizzato, diretor do app de vagas Trampolim, uma mentira contada no currículo pode até dar uma vantagem inicial a um candidato, todavia, os pontos perdidos ao se identificar a informação falsa podem ser determinantes para que as chances de conquistar o emprego sejam imediatamente encerradas.

Transparência e honestidade são o melhor caminho para desenvolver uma boa relação entre recrutadores e futuros empregados. Durante o processo seletivo, qualquer interpretação negativa pode afetar a percepção de confiança que o recrutador tem de você, impedindo que conquiste o tão sonhado emprego.”

Eliane Catalano, Coordenadora de R&S na Nossa Gestão de Pessoas, pondera que o peso da mentira vale não só para o candidato, mas também para quem já faz parte do quadro da organização.

“A pessoa poderá sofrer demissão por justa causa e perder qualquer outra oportunidade naquela empresa. As chamadas soft skills, que incluem valores, atitudes e competências não técnicas como honestidade, confiança ou integridade, são cada vez mais valorizadas pelas empresas que procuram não só profissionais capazes de realizar uma tarefa, mas também pessoas em quem confiar.”

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O mesmo vale para os recrutadores

As inverdades contadas durante um processo seletivo podem, nem sempre, partir dos candidatos. Não é incomum recrutadores “aumentarem” alguns aspectos da vaga para mantê-la atrativa. Nisso, acabam distorcendo fatos, mentindo sobre o clima, processos e até mesmo mudança de função em relação ao combinado nas entrevistas.

“A transparência e honestidade precisam acontecer dos dois lados. Toda relação profissional é uma troca e não há espaço para inverdades, ocultação de fatos e insegurança”, salienta Rizzato.

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Para Luciana Amorim, o empregador precisa dar o exemplo se quiser construir um ambiente de trabalho verdadeiramente saudável e baseado em confiança.

“Não adianta eu ser a pessoa mais transparente do mundo em um lugar no qual a transparência passa longe. Naturalmente meu engajamento e minha motivação não serão altos. A sensação de desconfiança é um fator que pode, sim, abalar a produtividade das pessoas e, também, a imagem da marca. Mentir para um candidato ou colaborador pode acabar em exposição indesejada”, diz.

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Mentiras comuns

É válido destacar que o preenchimento de vagas já é visto como uma ação estratégica para os negócios, que demanda planejamento, preparo e atenção. As empresas hoje têm a consciência de que uma contratação equivocada resulta em prejuízos de tempo e dinheiro.

Como consequência, os processos estão cada vez mais apurados, e todos os dados, referências e documentos expostos costumam ser checados. A seguir, conheça as mentiras mais comuns no ambiente corporativo e fuja delas:

– Idioma: Tenha em mente que, se a vaga pede fluência em um segundo idioma, essa habilidade com certeza será testada pelo recrutador em algum momento do processo seletivo.

– Experiência: Na esperança de conseguir se destacar entre os demais, não supervalorize sua passagem por cargos ou empresas. Concentre-se em traduzir suas conquistas de forma sincera.

– Formação: Seja transparente nesse quesito. Caso tenha trancado matrícula, ou possua matérias pendentes a concluir, diga que a formação está em andamento e compartilhe a previsão de conclusão.

– Salário: Quando questionadas sobre o valor do último salário, algumas pessoas mentem, na tentativa de conseguir maior remuneração no próximo emprego. A fraude, no entanto, pode ser facilmente descoberta, ao confrontar a informação com estudos de remuneração ou com o registro da carteira de trabalho.

– Motivo do desligamento: Se a demissão não tiver ocorrido de forma voluntária, seja honesto e foque apenas em demonstrar as conquistas no emprego anterior, o que aprendeu e o quanto evoluiu com a experiência. Nunca fale mal da antiga empresa ou de colegas de equipe e antigos chefes.

“Ao tentar iludir o recrutador, já vi profissionais de diferentes níveis hierárquicos perderem a vaga e a credibilidade. Isso acontece basicamente porque a descoberta de uma mentira coloca em xeque todas as verdades contadas, trazendo insegurança ao entrevistador ou futuro empregador”, diz Fernando Mantovani, diretor-geral da Robert Half para a América do Sul. “Seja verdadeiro. Ao longo do processo, valorize sua carreira e aproveite a oportunidade de destacar os pontos fortes de sua trajetória profissional, mas sempre de maneira consciente”, completa.

Por Bruno Piai e Redação