Por mais que nem todas as empresas tenham algum tipo de cartilha ou a oficialização de recomendações referentes à vestimenta dos colaboradores, é natural que profissionais apostem no bom senso no momento em que se preparam para o trabalho. Não é muito comum, por exemplo, ver trabalhadores utilizando camisas de times de futebol no escritório. Todavia, por mais que a exigência de um dress code não seja ilegal, por vezes ela pode ser polêmica.

Na última terça-feira (18), o Banco Inter se tornou alvo de críticas após divulgar o seu “guia de estilo” (capa) para os funcionários. O documento, nomeado “os inimigos da imagem”, conta com 13 condutas de vestimenta que, segundo a cartilha, devem ser evitadas a todo custo.

Algumas das normas envolvem o pedido para evitar acessórios, calçados e bolsas velhos, sujos ou estragados, unhas e sobrancelhas malcuidadas, telefone celular com capinha velha ou película quebrada, cabelo sujo ou desarrumado, barba malfeita e cabelo sem corte, roupas com peeling (aquelas bolinhas), entre outras.

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Cartilha viraliza e divide opiniões nas redes sociais

É dito no documento do Banco Inter que “os detalhes podem até parecer ‘nada demais’, mas eles podem prejudicar (e muito) a sua imagem”. A abordagem da empresa e a repercussão dos tópicos não tardaram para virar assunto nas redes sociais.

A Top Voice do LinkedIn Paula Boarin, por exemplo, pontuou que o material estimula a desigualdade. Em vídeo produzido na rede, a mentora de carreira questiona a preocupação do banco com roupas e acessórios que não seguem um alto padrão de qualidade.

Já para a consultora de carreira Taci Ferreira, não houve qualquer problema de conduta por parte da organização. Também no LinkedIn, a profissional ressaltou que o que está em discussão não é o gosto pessoal, mas o cuidado da empresa com a sua imagem.

“Há décadas um profissional completo não se resume apenas a sua competência técnica, mas também pela sua competência comportamental, e isso inclui o cuidado com sua saúde e imagem pessoal”, disse.

De acordo com o advogado especialista em Direito do Trabalho Empresarial, Fernando Kede, sócio do Schwartz e Kede Sociedade de Advogados, por mais que o código de vestimenta seja prática comum, é preciso conhecer os limites legais para evitar maiores problemas.

O especialista diz que as empresas podem estabelecer diretrizes sobre o que pode ou não se usar no ambiente de trabalho, desde que estejam em conformidade com a lei. Elas não podem, por exemplo, exigir determinadas questões de aparência.

“O empregador pode dar orientações sobre as roupas adequadas para trabalhar naquele local, mas não deve fazer de forma que essa atitude se torne discriminatória, como exigir um corte de barba ou cabelo”, afirma.

O artigo 456A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regulamenta a definição de um padrão de vestimenta no ambiente de trabalho e a inclusão de uniformes e outros itens relacionados à atividade desempenhada. Além disso, em seu parágrafo único, a lei diz que a higienização é responsabilidade do trabalhador desde que não sejam necessários produtos diferentes do uso comum.

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Banco Inter volta atrás

Diante da repercussão negativa, o Banco Inter decidiu revogar a cartilha. Após envolvimento, inclusive, do Sindicato, que manifestou profunda discordância em relação ao material, a empresa afirmou que o conteúdo foi revisado e que “entendendo que o arquivo em PDF não reflete a mensagem que queremos transmitir, decidimos retirá-lo do ar”.

Além disso, em nota, a empresa manifestou que respeita a individualidade de cada um dos seus colaboradores.

Capa: Reprodução/Inter

Por Bruno Piai