Definir o que é metaverso não é um processo tão simples, afinal, ele não é único, mas, sim, muitos. Para se chegar perto de uma resposta mais concreta sobre o que tal tecnologia, de fato é, primeiramente é necessário compreender quais são as características que, mesmo em universos tão diferentes, são comuns entre todos.

John Paul Hempel Lima, doutor em Engenharia Elétrica e diretor dos cursos de graduação online do Centro Universitário FIAP, explica que, de forma simplificada, é “uma promessa tecnológica similar ao mundo físico, mas que ocorre no ciberespaço”. 

O educador dá a deixa de que por trás do fortalecimento do conceito, ou seja, o metaverso estar em alta nas mesas de discussão corporativas e já ser realidade em algumas empresas, há todo um processo de redefinição de hábitos humanos guiados pelo avanço da tecnologia, como muitas pessoas deixarem de utilizar o dinheiro físico e realizarem pagamentos por meios digitais.

Segundo o professor doutor, o impacto do digital nas relações humanas formula a base para se entender o que, de fato, é o metaverso, assim como outras esferas que caracterizam necessidades das pessoas também fazem parte do processo – amizade e comunicação, por exemplo, o que em meio à pandemia tornou costumeira a ideia de happy hours virtuais, assim adaptando uma atividade normalmente física/presencial ao ambiente online.

“As relações humanas que acontecem no mundo físico estão sendo desmaterializadas e indo para a nuvem. Chegou a fase na qual as grandes empresas identificaram que o momento atual dá abertura para a criação de universos virtuais que consolidam todas as ações que saem do presencial para o digital, especialmente por conta da pandemia. Hoje, uma pessoa passa mais tempo dentro do mundo digital do que dentro do mundo físico, porque ela usa suas redes sociais, seus aplicativos de conversa, faz entrevistas e reuniões a distância, então, por mais que ela esteja no mundo físico, toda a sua concentração está na Internet”, pontua.

O diretor esclarece que a construção do metaverso depende de tecnologias que potencializam o processo de imersão dos indivíduos. Imersão, por sua vez, talvez seja a palavra-chave para uma melhor compreensão do que é e do que não é esse conceito, uma vez que o “mergulho” no ambiente digital é proporcionado, em partes, pela desconexão com o mundo real. Os jogos online, por exemplo, por mais que não necessitem de acessórios ligados à realidade virtual do metaverso, como o óculos 3D, ilustram bem tal cenário.

“Outro catalisador do metaverso e talvez aquele que o torne, hoje, mais lucrativo, são os jogos. Games multiplayer proporcionaram a possibilidade dos jogadores interagirem com pessoas de outros países, outras nacionalidades, outros idiomas. Estamos falando de um jogo, mas vamos pensar nisso como um universo. Tudo o que eu faço em determinados jogos se mantém, eu posso ter a minha aparência modificada dentro deles, posso ser quem eu não sou fora dele. Isso vai além do entretenimento, pois permite elementos de inclusão que o mundo físico não vai permitir ou fará com que seja muito complexo ocorrer. Você começa a ver vantagens de estar no mundo virtual”, diz.

Dentro do metaverso dos jogos existe a comercialização, a aprendizagem, a diversão e até mesmo shows acompanhados por dezenas de milhões de pessoas. O rapper norte-americano Travis Scott, por exemplo, foi assistido por quase 30 milhões de pessoas dentro do jogo Fortnite, um cenário dificilmente imaginado para o mundo físico.

O metaverso nas empresas

Hempel Lima salienta que dentro da dinâmica corporativa, o teletrabalho é um estímulo que faz com que as companhias acelerem o seu desenvolvimento digital. O processo de colaboração entre pessoas geograficamente distantes, sem que haja barreiras que interrompam tal processo, também faz parte de sua base.

Por mais que tecnologias atuais, como os softwares/apps de reunião, atendam algumas das necessidades para a condução do trabalho a distância, o processo de transição e inovação das tecnologias tendem a levar os recursos digitais de hoje a um outro patamar. O professor faz a comparação de que, enquanto uma plataforma de reunião online é o SMS, o metaverso chega para ser um WhatsApp.

“Não podemos olhar com incredulidade para esse tipo de tecnologia. Talvez daqui algum tempo o Google não tenha mais o Meet, mas um metaverso por onde seja possível fazer tudo. Quando se fala desse universo, vem à cabeça a questão do avatar, da interação, mas ele é mais do que isso. É a consolidação do mundo físico no ambiente digital. Não terá como as empresas se esquivarem desse movimento”, elucida.

Além disso, o metaverso, segundo o professor, “passa por cima” de alguns efeitos colaterais que as ferramentas de hoje podem causar, oferecendo alternativas para melhor a governança, a transparência e até mesmo situações que afetam a saúde emocional das pessoas.

Na pandemia, a fadiga do Zoom (Zoom Fatigue), enfermidade caracterizada pela exaustão do uso de plataformas de comunicação digital, ganhou força à medida que a dinâmica do modelo remoto, ainda não tão compreendida pelas empresas, exigia o seu uso frequente. No metaverso, por sua vez, o mesmo tenderia a não acontecer, pois Hempel Lima esclarece que a imersão e a liberdade trazidas abririam brechas para escapes mentais, para a concentração não ser totalmente disposta em um único lugar por um longo período de tempo.

“Imagine também os RHs e as dinâmicas para se fazer contratação. Por mais que o metaverso não seja igual à realidade, ele te permite identificar comportamentos. Há pontos da seleção que vão além da pergunta, que estão no modo da interação. A criação do avatar, muitas vezes, não será a apresentação fidedigna. A própria criação pode revelar traços da personalidade. Há infinitas possibilidades que ainda não concebemos”, explica o professor.

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O metaverso chegou no RH