Sai ano, entra ano, e as expressões corporativas se renovam. O próprio RH, cujo conceito por trás de Recursos Humanos é sempre debatido, um dia já foi Departamento de Relações Industriais. Na onda de tendências, os últimos anos trouxeram novos e variados jargões que passaram a fazer parte da realidade dos RHs. O questionamento, porém, é: quantos chegaram para durar e quais terão prazo de validade?
Separamos sete expressões que passaram a fazer parte do RH e opinamos sobre quais devem ganhar ainda mais força e quais tendem a ser esquecidas. Confira a lista:
1 – A trindade dos “quiet”
A segunda metade de 2022 alavancou os fenômenos “quiet”. O mais famoso deles é o quiet quitting – ou demissão silenciosa –, movimento que surgiu no TikTok e que consiste em se fazer o mínimo necessário no trabalho. Polêmico, o conceito divide opiniões. Apesar do propósito original ser a atenção à saúde mental, com o cuidado se sobressaindo a uma rotina de sobrecarga, há quem o veja como uma tendência que só tende a prejudicar a carreira de quem não demonstra altos índices de dedicação. Até então, a tag conta com quase 694 milhões de views na rede social.
O próximo termo, mais polêmico do que o acima, é o quiet firing. Resposta dos empregadores ao quiet quitting, o conceito, interpretado até mesmo como uma forma de assédio, representa uma “exclusão silenciosa”. Em outras palavras, é uma prática na qual o empregador deixa de incluir o seu colaboradores nos projetos da empresa e desiste de trabalhar sua motivação e engajamento, com a meta de fazê-lo pedir demissão após o cenário se tornar insustentável.
Fechando a tríade dos silenciadores, sem causar tantas confusões quanto os irmãos está o quiet hiring. A expressão é um método diferente de recrutamento que visa dar mais possibilidades a talentos internos, trabalhando sua capacitação e facilitando o seu crescimento na carreira.
Chegaram para ficar?
A explosão dos jargões foi em 2022. Em 2023, os três conceitos perderam um pouco do embalo das discussões do ano passado, mas ainda seguem em debate. Fato é que, mesmo que as expressões em si tenham diminuído sua recorrência, as práticas seguem.
O quiet hiring é uma boa tendência para desenvolver planos de carreira, enquanto o quiet quitting é uma preocupação real das companhias – pesquisa recente da EDC Group mostra, por exemplo, que 11,9% dos respondentes são favoráveis à ação. Já sobre o quiet firing, se a tag voltar a crescer, teremos um panorama preocupante a caminho.
2 – Burnout Digital
Se a pandemia da Covid-19 reforçou o debate em torno do Burnout, a oficialização da síndrome como uma enfermidade relacionada ao trabalho (CID-11) só aumentou o alcance da discussão – afinal, agora as empresas têm uma responsabilidade ainda maior de preveni-lo.
Agora, o esgotamento profissional atinge um novo patamar de debate. Herança de termos como o Zoom Fatigue – cansaço motivado por excesso de reuniões a distância –, que teve seu protagonismo durante a crise do coronavírus, o Burnout Digital dá as caras em um mundo cada vez mais automatizado.
Chegou para ficar?
O debate em torno do Burnout, felizmente, não tende a frear. Consequentemente, o mesmo vale para a síndrome motivada por meios digitais. A exposição a dispositivos eletrônicos vem aumentando os casos de estresse e ansiedade, o que levanta a preocupação.
3 – Paranoia da Produtividade
A paranoia da produtividade não alcançou tanta popularidade no Brasil – ainda –, mas já tem o seu destaque em países como os Estados Unidos (Productivity Paranoia). Ela nada mais é do que uma herança do home office pandêmico na qual as pessoas se sentem mais improdutivas trabalhando de casa.
A “pegadinha” por trás do conceito está no fato de que, muitas vezes, a produtividade dessas pessoas não caiu – e pode até ter aumentado –, mas a dinâmica a distância faz com que elas acreditem que estão rendendo menos do que podem. De tal modo, não é incomum tal paranoia levar a horas extras desnecessárias e a uma rotina de sobrecarga de trabalho.
Chegou para ficar?
Direto e reto, sim! A falta de confiança de parte dos líderes pode impactar os sentimentos do time de trabalho. Segundo o Relatório Especial do Índice de Tendências de Trabalho, apesar de 87% dos respondentes se sentirem produtivos no trabalho, apenas 12% dos líderes têm a confiança que seus empregados oferecem o melhor no quesito produtividade. A desconfiança dos líderes vêm motivando colaboradores a abandonar o trabalho remoto.
4 – Nomadismo Digital
A expansão do modelo remoto trouxe também um boom dos nômades digitais. Essa categoria de profissionais representa os trabalhadores que, a distância ou presencialmente, atuam em empresas do exterior. Atualmente, nômades digitais podem conseguir vistos específicos para esse modelo de trabalho em 23 países, incluindo o Brasil.
O nomadismo reforça ainda mais outra expressão que já conquistou sua fama, o anywhere office, já que é um estímulo para que o local de trabalho seja sempre variado – embora a empresa seja a mesma.
Chegou para ficar?
O Relatório Global de Tendências Migratórias 2022, da Fragomen, empresa especializada em migração, traz uma resposta bem clara. Segundo o estudo, a expectativa é que até 2035 o número de nômades digitais alcance a faixa de 1 bilhão de pessoas.
De acordo com projeções da ONU, a população global em 2030 deve chegar a 8,5 bilhões de pessoas. Se mantida a estatística em 2035, cerca de 11,7% do mundo será adepto do nomadismo digital.
5 – Career Cushioning
O movimento é forte, a expressão no Brasil ainda não – talvez porque a tradução literal “amortecimento de carreira” não seja a melhor para cair nas graças do povo. O Career Cushioning é uma espécie de evolução do quiet quitting.
Em linhas gerais, o jargão estrangeiro define o chamado “plano B” de profissionais que, mesmo empregados em tempo integral, concentram boa parte de suas energias em estratégias que envolvem sua carreira, mas não o trabalho atual. Exemplos são a criação de mecanismos para se dar bem em outras vagas, abrir o próprio negócio ou estruturar uma transição de carreira. É fazer o mínimo necessário no atual emprego para se dedicar a outro futuro.
Chegou para ficar?
A expressão não se popularizou (ainda) no Brasil, mas a prática passa longe de ser incomum. Segundo um estudo da rede dinamarquesa Woohoo Unlimited Partnership, que contou com apoio do Instituto Feliciência para captar dados no Brasil, mais da metade dos trabalhadores (54%) está insatisfeito com seu emprego atual. Portanto, é uma tendência natural que haja maior dedicação para olhar para outras oportunidades.
6 – Antiwork
É importante destacar que, assim como o quiet quitting, o antiwork não é necessariamente um fenômeno novo – ambos nasceram antes de 2020 –, mas foi na pandemia que conquistou seus holofotes. O antiwork é um movimento que busca melhores condições de trabalho, mas com foco nas classes mais braçais.
Por trás da expressão há o desejo de promover uma revolução no mercado, o que, naturalmente, faz com que as opiniões em relação ao conceito sejam divididas. A intenção é que os trabalhadores menos hierarquizados tenham maior participação na tomada de decisão das empresas, uma vez que o movimento enxerga que a decisão nas mãos dos gestores faz com que o bem-estar nunca seja prioridade, assim fazendo com que más condições de trabalho e sobrecarga laboral sejam frequentes.
Chegou para ficar?
Embora seja mais um termo que viveu o seu auge durante a pandemia da Covid-19, ele não tende a ser esquecido. Cada vez mais pesquisas evidenciam o quanto os índices de sobrecarga e Burnout crescem no mercado de trabalho, o que é um gatilho para o bem-estar ser debatido com maior frequência.
7 – Flexibilidade
Obviamente, flexibilidade não é uma novidade, mas será que já teve tanta força quanto atualmente? Muito se fala sobre trabalho flexível, benefícios flexíveis e empregos flexíveis como verdadeiros diferenciais competitivos.
A força do conceito não pode mesmo passar despercebida, afinal, segundo estudo encomendado pelo LinkedIn, 78% dos brasileiros creem na necessidade de trabalho flexível. A plataforma, inclusive, registrou até o final de 2021 um aumento de 83% em anúncios de vagas mencionando flexibilidade desde 2019.
Chegou para ficar?
Para muitos profissionais, a flexibilidade é inegociável. São inúmeros os levantamentos que mostram que trabalhadores trocariam de emprego somente para tê-la. Um deles é o da Owl Labs em parceria com a Global Workplace Analytics, que revela que 66% não hesitariam em buscar outra oportunidade caso não pudessem mais trabalhar de casa. A tendência natural em relação à flexibilidade é que ela aumente.
Por Redação