Há muito ouvimos que a solução para os males do País seria a educação de qualidade.
Por educação de qualidade entenda-se a anti: racista, machista, homofóbica, narcisista, modelo opressor que impinge a todos o padrão de beleza predominante, entre outros desvios expressos por atitudes e comportamentos.
Mas, eis que justamente é nessa área, educação, que ao lado da segurança e saúde, vem sendo dado o tom da fragilidade na organização e na implementação de políticas públicas. E quando o primeiro setor falha, quem histórica e inteligentemente assume é o segundo setor: as empresas. Por isto, entrecortaremos essa nossa conversa com o clamor – Empresas: Não desistam dos seres humanos!
O que poderemos esperar de líderes na área da educação, como o recém-nomeado Ministro da Educação Milton Ribeiro, que apoia o castigo físico às crianças, e diz que o bom resultado “não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”? Um líder que enaltece a “Vara da Disciplina”.
Tais citações vieram à tona neste momento em que todos estamos mais fragilizados pelas consequências da pandemia COVID-19 e, principalmente, aqueles que estão desempregados, subempregados, ou empregados e que, trabalhando em regime home office, experimentam novas formas de convivência familiar, nas quais encontramos também crianças e jovens interagindo em ambientes de tensão, por uma relação permeada pelas dificuldades financeiras, relacionais, causadas por doenças, entre tantas outras.
Sabemos que a vida em confinamento não é o que a mídia televisiva nos mostra com ambientes de pura felicidade por estar convivendo mais com a família, podendo repensar atitudes, comportamentos, etc. Há o outro lado dessa realidade. E é esse lado que nos preocupa.
Conforme divulgado em maio de 2020 pela Agência Brasil, “a ONG World Vision estima que até 85 milhões de crianças e adolescentes, entre 2 e 17 anos, poderão se somar às vítimas de violência física, emocional e sexual nos próximos três meses, no mundo, representando um aumento de 20% a 32% da média das estatísticas oficiais. Isso em decorrência do confinamento”.
No Brasil a projeção é de 18% de aumento de denúncias de violência doméstica, mas esse dado é encoberto pelo medo de denunciar, por estar próximo do agressor e longe de defensores: a escola e a vizinhança.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) entre muitas recomendações cita uma que é um recurso pouco acessível ainda para a maioria da população, mas que não pode ser descartado: realização de consultas médicas por meio de ferramentas de telemedicina, que possibilitam ao médico identificar casos suspeitos de violência em uma consulta realizada virtualmente.
Empresas: Não desistam dos seres humanos!
A violência contra crianças e adolescentes deve ser pauta de discussão nos programas da Sustentabilidade Corporativa, Diversidade e Gestão de Pessoas. Falaremos de valores.
Protagonistas da agressão estão fora das empresas; desempregados, hoje. Podem também estar subempregados, ainda empregados em diversos regimes de trabalho, mas retornarão ou manterão vínculos com suas empregadoras que são as mais efetivas fontes de ensino e aprendizagem.
Em vez do castigo físico às crianças, respeito. Em vez da dor, amor. É o que propagaremos.
Indígenas – vidas indígenas importam, sim!
Estarrecimento e silêncio. É o que se percebe quando o assunto é o povo indígena e a sua dizimação, fruto de processo de extermínio secular que vem sendo trazido à tona, para nossa apreciação.
Temos atualmente 750 mil indígenas, de 305 etnias, vivendo em mais de 5,8 mil aldeias no País. A preocupação entre lideranças dos povos e organizações que apoiam sua causa é ainda maior no caso de comunidades isoladas. Uma eventual entrada do COVID-19 nesses grupos pode dizimar essas populações, que tem um nível mais baixo de defesa imunológica.
Essa população precisa do básico: água potável, acesso aos itens de higiene e a oferta emergencial de leitos hospitalares e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Isso é Humanidade.
Empresas: Não desistam dos seres humanos!
Empresas signatárias do Pacto Global ONU, mais presentes do que nunca, vem adotando hospitais, suprindo necessidades de outros, e estendendo suas ações às comunidades carentes. É hora de agir na preservação dos donos dessa terra.
Negros: segurança, educação, trabalho, renda
E surge algo de concreto para cuidar das questões de extermínio da juventude, educação, trabalho e renda dos negros em nosso País. É o Movimento AR, lançado em 30 de junho p.p., pela Universidade Zumbi dos Palmares e a AFROBRAS, Reitor José Vicente, e apoio da Agência Grey.
O Movimento Ar – Manifesto “Vidas Negras Importam”, propõe 10 metas para reduzir o impacto do racismo no nosso País:
- Mudança nos protocolos policiais.
- Mudança nos protocolos da segurança privada.
- Criação de 500 mil bolsas de estudos para qualificação de jovens negros em graduação, pós-graduação, pesquisa.
- 300 mil vagas de estágios, trainees e profissionais negros nas empresas públicas e privadas.
- Formação e qualificação de um milhão de quadros corporativos em discriminação e racismo e gestão da diversidade racial.
- Implementação de recursos por meio de ferramentas, mecanismos,metodologia de gestão, gerenciamento da inclusão, desenvolvimento de carreira, ações e políticas de diversidade racial em 300 empresas públicas e privadas.
- 300 milhões em compras corporativas do ambiente público e privado, de serviços e produtos de empresas e empresários e profissionais negros.
- Fundo Vidas Negras Importam de R$ 200 milhões para o fomento, apoio e financiamento educacional, empreendedor, tecnológico e de economia cultural criativa para jovens Negros.
- Implementação integral da Lei da História do Negro e História da África e da disciplina de Relações Étnico Racial em todo ambiente escolar e universitário público e privado do País.
- Campanha de instalação da Rua Zumbi, do Selo da Igualdade Racial, ampliação e expansão da ‘Virada da Consciência”.
Mais detalhes: https://www.anf.org.br/movimento-ar-combate-racismo-no-pais-com-campanha-de-cinco-anos/
Segundo o Dr. Raphael Vicente, coordenador da plataforma “Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial “ (61 empresas signatárias que respondem pela receita de R$ 1,2 trilhão e envolvem 900 mil colaboradores diretos): “A gente precisa de ações, assim como as que têm sido adotadas em relação à participação feminina no quadro das companhias. O ingresso de negro nos quadros executivos, nos últimos anos, vem crescendo a taxa de 0,20% ao ano. Isso quer dizer que, sem ação, o negro levará 200 anos para ter representatividade no mundo corporativo. Isso apenas para equalizar o percentual na população negra da cidade de São Paulo. Enquanto não reconhecer que há o problema, não acontece nada. É uma questão de mudança de cultura corporativa, de valores”.
Concordo plenamente. O exemplo dessas 61 empresas precisa ser multi propagado.
Empresas: Não desistam dos seres humanos!
Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.