Passamos grande parte do nosso dia no ambiente de trabalho, o que nos leva a estabelecer interações e conexões mais frequentes com nossos colegas de trabalho do que com amigos e familiares do nosso círculo pessoal. Essa dinâmica persiste mesmo para aqueles que desempenham suas funções no home office, onde estão continuamente conectados por meio de e-mails, chamadas de vídeo e mensagens de texto.
Isso representa uma realidade inerente à vida profissional, facilitando a troca de experiências e promovendo o vínculo de amizade entre os colegas, o que pode até mesmo desencadear relacionamentos afetivos.
Segundo uma pesquisa realizada em 2021 nos Estados Unidos pela Society for Human Resource Management (SHRM), as pessoas que já se envolveram com algum colega de trabalho relatam terem se tornado mais dedicadas à profissão. Especialistas afirmam que isso é percebido, pelo menos, no primeiro ano de relacionamento.
O artigo 5 da Constituição Federal estipula que as empresas não têm o direito de obstruir as relações interpessoais no contexto empresarial entre seus colaboradores, visto que tais impedimentos infringem a privacidade individual. Em situações extremas, a rescisão do contrato de trabalho é admissível quando o colaborador manifesta comportamento inadequado em relação aos colegas ou superiores, em virtude de sua relação amorosa. Neste ponto, o que o colaborador deve fazer é manter a ética, priorizando os direitos e deveres de acordo com as normas estabelecidas pela instituição.
Frequentemente sou consultado por profissionais que se envolveram romanticamente com colegas de trabalho e buscam orientação sobre como lidar com essa situação. É importante ampliar a reflexão e compreender o contexto.
Existem questões pertinentes que merecem atenção, tais como: “Há perspectivas realistas de que esse relacionamento possa evoluir para algo mais substancial?” e “Como você percebe que isso poderia impactar seu desenvolvimento profissional ou suas responsabilidades dentro da empresa?”
Outro estudo, realizado pela SHRM no ano passado, revelou que 77% das pessoas que tiveram um romance no trabalho não revelaram isso para as lideranças da empresa. Além disso, 70% dos entrevistados responderam que já flertaram com um colega, enquanto 59% tiveram relações sexuais.
Outro dado relevante foi o fato de que 67% afirmaram conhecer alguém que foi traído com uma pessoa do trabalho do (a) companheiro (a). Essas situações podem acontecer, ocasionando em tensão emocional, convivência e bem-estar da equipe. No entanto, 78% dos entrevistados acreditam que é possível encontrar um amor verdadeiro no local de trabalho.
É importante avaliar a conveniência de compartilhar informações pessoais com os outros membros da empresa. Quando um casal opta por tornar o relacionamento público, é aconselhado que o gestor direto de ambos seja o primeiro a ser informado. No caso, entre líder e liderado, a recomendação é que os profissionais busquem aconselhamento com o RH.
Alguns cuidados no ambiente de trabalho são fundamentais no dia a dia, como manter a discrição (o que ajuda a evitar comentários sobre o profissionalismo) e bom senso nas atitudes. Também é importante que o casal não se isole em momentos de confraternização corporativa, até de um simples café ou almoço.
Para lidar melhor com a situação, é necessário estabelecer combinados de conduta do casal, que devem ser respeitadas durante o relacionamento e em caso de término. A empresa pode orientar discrição para os funcionários e que evitem beijos, abraços, demonstrações de carinhos mais explícitas ou brigas durante o expediente.
O tema pode envolver situações delicadas, tanto para a empresa quanto para os envolvidos. No caso do relacionamento interferir no trabalho, a empresa pode decidir para um dos dois mudar de setor ou departamento.
Compreendo que algumas pessoas optem por não estabelecer relações amorosas, sejam de namoro ou casamento. No entanto, para outros, um relacionamento afetivo é componente integral de uma vida satisfatória, contribuindo positivamente para seu desempenho no ambiente de trabalho.
Portanto, encorajo a abordagem cuidadosa, respeitosa e estratégica por parte das empresas e de seus colaboradores. Desta forma, todos os envolvidos podem colher benefícios mútuos.
Por Dr. Arthur Guerra, psiquiatra.
Ouça o episódio 168 do RHPraVocê Cast, “Há espaço para emoções no ambiente de trabalho?”. Por que é tão difícil – até mesmo um tabu – falar sobre emoções no ambiente de trabalho? Elas fazem parte de cada nuance da jornada corporativa, afinal, a felicidade e a tristeza, por exemplo, podem ser variáveis que impactam consideravelmente o engajamento, a produtividade e, consequentemente, as finanças do negócio.
Mas como administrá-las? Qual é o papel do líder e do RH em relação às emoções? Para deixar claro que o assunto deve, sim, entrar em pauta nas organizações, o RH Pra Você Cast de hoje conta com uma dupla da Coppead/UFRJ: Paula Chimenti, Professora e Coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação; e Fernanda Souza, doutoranda e pesquisadora. Confira clicando abaixo:
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