A importância da consciência de cada passo dado para atingir os objetivos é o que motivará para a próxima jornada. Uma das tarefas que sempre nos impomos em todo o final ou começo de ano é definir o planejamento para o próximo.
Traçar objetivos e colocar metas não são uma tarefa fácil, principalmente depois de um período intenso de 12 meses em 2022 – tivemos o retorno à convivência social após mais de dois anos de confinamento, a readequação das atividades fora de casa e, em alguns casos, a volta ao trabalho presencial – em meio às instabilidades na economia, eleições, Copa do Mundo e uma série de acontecimentos no nível coletivo.
O momento de pensar no futuro costuma vir acompanhado de uma série de cobranças sobre como o ano poderia ter sido, o que estava planejado e deixamos de fazer ou que deveria ter sido feito de forma diferente.
Esse comportamento de enxergar apenas “o que não deu certo” é inerente ao ser humano, que tende a ver os pontos negativos em primeiro plano, deixando as conquistas em um patamar menor, como se fossem menos importantes.
Quando se trata de começar um novo ano, iniciamos de modo objetivo e prático, ou mesmo de forma inconsciente, a fazer novos planos e metas. No entanto, nem sempre olhamos pelo retrovisor e medimos os resultados obtidos antes de planejar a próxima etapa.
Então, como olhar para o futuro sem revisar as conquistas do passado?
Não há respostas prontas para esses questionamentos, mas o que fará toda a diferença no decorrer dessa jornada é o caminho que será percorrido para chegar ao objetivo final. Gosto de citar o pesquisador e psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que estuda há décadas o Flow.
“Podemos sentir prazer sem qualquer investimento de energia psíquica, mas o deleite só ocorre em consequência de investimentos extraordinários de atenção”, disse Csikszentmihalyi.
Mas o que seriam os investimentos de atenção?
Procure se lembrar de algo muito importante, que foi planejado com antecedência para acontecer da forma que foi idealizado. Um exemplo pode ser a preparação para uma promoção, o que implica ampliar e aprofundar conhecimentos, investir tempo e dinheiro em cursos de capacitação e participar de um processo seletivo que pode ser longo, com várias etapas, sem garantia de que a vaga realmente será sua.
São muitos preparativos até que o objetivo seja concretizado, então a expectativa é alta para que tudo saia como o planejado. E ficam as perguntas: que lições eu obtive ao longo desse caminho? Como eu me senti durante a minha jornada? Foi prazerosa?
Tão importante quanto o momento em si é o prazer durante toda a jornada. Isso é o investimento de atenção – estar consciente sobre a importância de cada passo dado, aproveitar todos os momentos e aprender com os erros durante a trajetória.
E então volto ao ponto principal dessa reflexão: como projetar meus sonhos de forma consciente?
O primeiro passo é rever o ano que passou. E para isso, seguem algumas dicas para guia-lo nessa etapa, para olhar o futuro com esperança e colocar metas que o levem até lá.
1 – Olhe para trás e seja grato – Estude os acontecimentos relevantes de janeiro a dezembro de 2022. Encontre um lugar calmo, respire e pense nas experiências e nos eventos que te moldaram, nas pessoas que impactaram sua vida e nos momentos que definiram o seu ano.
2 – Reoriente-se de forma intencional – Considere as suas realizações durante 2022. Explore os sucessos em cada aspecto de sua trajetória: financeiro, físico, emocional, profissional, relacionamentos e espiritual, sendo que esse último aspecto engloba eventos, atividades, estudos, atitudes ou experiências que te ajudaram crescer ao longo da sua jornada.
3 – Olhe para o futuro com esperança – É hora de definir o rumo para 2023 e identificar os objetivos em cada uma das seis áreas da vida. Depois de estabelecer suas intenções, encontre as ações específicas que você realizará nos próximos 31 dias.
Para cada área, identifique uma ou duas metas importantes, que te motivarão de forma positiva em 2023 e coloque-as por escrito em um lugar visível, para revê-las constantemente e acompanhar o desenvolvimento de cada uma ao longo do ano.
Esse exercício ajudará na visualização dos projetos concluídos e do que realmente faz sentido levar adiante. Sim, os objetivos e metas são mutáveis e o que antes foi definido como algo importante pode ter assumido outro lugar entre as suas prioridades.
Portanto, é fundamental pensar no futuro de forma consciente e traçar metas que correspondam, de fato, ao que você quer realizar, o que chamamos de metas apreciativas.
Outro ponto é estabelecer metas realistas, de acordo com o que é possível dentro da sua trajetória. Suponhamos que durante o ano todo você identificou que faz mais sentido trabalhar em casa para se dedicar mais à família e aos seus interesses pessoais.
Porém, você não tem a pretensão de mudar de trabalho, que hoje é em modelo presencial. Será que você conseguirá adequar os seus planos à sua realidade?
Talvez uma etapa importante seja repensar o seu atual modelo de trabalho ou uma forma de viabilizar o que você deseja para que os desafios estejam dentro de suas capacidades e habilidades.
Se pudéssemos descrever uma fórmula, sugiro usarmos a que foi proposta por Csikszentmihalyi: Habilidades Altas + Desafios Altos = Felicidade. Isso significa que quanto mais utilizarmos as nossas habilidades e maiores forem os desafios impostos a elas, mais felizes e confiantes ficaremos para alcançar os objetivos.
Quando há o movimento contrário, ficamos em estado e apatia, dando lugar à preocupação e à ansiedade e dificultando o Flow – estado de alegria, com foco nas prioridades.
Para saber se estamos em Flow, precisamos levar em consideração que, de algum modo, as metas devem ter algumas características:
1º) Ser bastante claras – nenhum de nós sai pelo caminho sem ter muita certeza do que quer e tampouco do que vai encontrar. Para se envolver por inteiro em qualquer tarefa é necessário ter o conhecimento preciso dela. E que sejam minhas, com o meu ser envolvido, e não de terceiros.
2º) Fornecer feedback imediato – ao longo da jornada, os sinais por onde estamos passando vão nos confirmando o objetivo alcançado. É muito difícil permanecer com energia e motivado para a tarefa sem receber o retorno periódico e rotineiro de seu resultado.
O sentido maior do Flow deriva da certeza interna de que o que se faz é importante para mim e tem resultados, sejam eles quais forem.
3º) Equilibrar desafios e habilidades – sonhar e se desafiar fazem parte de nossa existência, mas sonhar e colocar metas que estejam, neste momento, distantes de nossas capacidades/habilidades é o prenúncio de mais um ano repleto de ansiedade e frustração, pois teremos poucas chances de êxito.
Por outro lado, se as metas/sonhos forem pouco desafiadoras para a minha capacidade e habilidade, entro em outro estágio chamado de apatia. Muito pouco de nossa energia será disponibilizada para atingir o que planejamos.
4º) Desenvolver altos níveis de concentração – esta é uma forma muito clara e precisa de verificar se os itens acima foram levados em consideração ao definirmos as metas. Se estamos em uma meta que é bastante clara, fornece feedback preciso e constante ao longo do percurso e há equilíbrio entre o nível dos desafios x habilidades, o nível de concentração é absoluto.
A entrega é total. As minhas desculpas de “ausência de motivação” ficam em um plano bem distante.
5º) Experiência alterada do tempo – a nossa percepção do tempo depende, todos os dias, fundamentalmente, da entrega. E podemos dizer que ele é muito relativo.
O que acontece conosco quando estamos fazendo algo que realmente amamos fazer?
E quando não queremos fazer o que estamos fazendo?
No primeiro caso o tempo voa, enquanto no segundo parece que nunca passa. Quando a meta que nos propusemos a fazer for desafiadora, nossa visão do tempo estará alterada. Não veremos o tempo passar enquanto estivermos fazendo.
Pensando nestes itens, podemos olhar para o nosso passado recente e verificar o que nos propusemos a fazer.
Fomos até o final?
Se não atendeu aos itens acima, provavelmente não chegou ao final, pois encontrou desculpas internas para não fazer.
Mesmo que nossa resposta tenha sido sim, nos sentimos felizes ao final?
Somente a meta pela meta não trará o Flow. Para recebermos o feedback imediato, precisamos desenvolver o sentido de aproveitamento, de concentração no caminho e não somente na meta.
Do contrário ficaremos viciados e, ao terminarmos, teremos que ter outra imediatamente para substituir a anterior. Aprender a desfrutar de nossa caminhada enquanto cumprimos metas é o que nos motivará para as próximas jornadas.
Por Heide Castro, psicóloga e atua há mais de 16 anos como consultora em desenvolvimento organizacional em empresas de expressão internacional, como base em seus trabalhos de intervenção nas empresas a Investigação Apreciativa, onde já aplicou mais de 150 oficinas com a metodologia. É Especialista em Clima Organizacional, Liderança, Comunicação Apreciativa e Assertiva e Planejamento Estratégico, a partir da ferramenta SOAR, e Co-autora dos livros “Felicidade 360º”, “Ciência da Felicidade em destaque” e em Portugal, “Educação para a Felicidade e o Bem-estar”.
Saiba mais sobre vida pessoal ouvindo o episódio 75 do programa “Vida Pessoal e Profissional: há limites?” do PodCast do RHPraVocê. Nesse episódio, o CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, e a editora do RH Pra Você, Gabriela Ferigato, conversaram com Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”, sobre as principais descobertas da pesquisa. Acompanhe clicando no app abaixo:
Não se esqueça de seguir nosso podcast e interagir em nossas redes sociais:
Facebook
Instagram
LinkedIn
YouTube
Capa: Depositphotos