O tema central deste texto é o Sentimento. Por isso usei, como título, um refrão da música Piano e Viola do compositor Taiguara que primou, em suas composições, em dialogar com ao emoção e sentimento.
Esse tema surge como uma contraposição à crescente mecanização e distanciamento a que estamos expostos nessa trilha de desenvolvimento. É sinal dos tempos e, como demonstrado diversas vezes, com o objetivo de tornarmos o ser humano, todo ser humano, cada vez mais humano e melhor.
Esse é, ou deveria ser, o objetivo.
Nas organizações as atividades operacionais serão assistidas pela tecnologia que, de diversas formas se incumbirão de fazer, por nós, grande parte do trabalho de tratamento dos dados para reforçar a decisão.
Mas…..,
como ficarão os “humanos”?
Será que caminhamos para tornar o ser humano, cada vez mais humano e melhor? Há uma esperança! O sentimento.
Essa é a nossa trincheira!
Tudo bem, sentimento não é uma exclusividade da espécie humana. Encontramos outras espécies animais, principalmente mamíferos, demonstrando reações emocionais entre si e até com os humanos.
Mas, como já dito, temos fortes tendências gregárias e precisamos aproveitar essa herança para nos auxiliar na procura de um objetivo maior. Maior do que, simplesmente, uma posição de status, condição financeira, poder ou qualquer outra condição que nos afaste do objetivo de tornar o ser humano, cada vez mais humano e melhor. Talvez tenhamos que começar conosco!
As organizações precisarão, cada vez mais, de engajamento, de confiança, de cumplicidade.
E cada vez mais nós precisamos de apoio, companhia, afeto, reconhecimento pelo nosso esforço e dedicação. O mercado nos oferece várias pesquisas sobre as dificuldades nas questões do engajamento e nas questões da confiança, tanto com as organizações como com os papéis sociais que circulam em nosso ambiente.
As pesquisas denotam níveis baixos de confiança e engajamento ás organizações e aos estilos de gestão. Temos que apresentar uma reação para enfrentar essa tendência negativa.
Escolho enfatizar o Reconhecimento como um fator diferencial dos aspectos motivacionais. Quem sabe se também não o será para as famílias, relações sociais, etc.
Antonio Damasio, neurocientista português que lançou recentemente o livro, A estranha ordem das coisas, reforça que a base fundamental da vida passa pelo comportamento de cooperação e conflito. Uma dualidade que se completa.
No seu livro que trata da origem biológica dos sentimentos e da cultura, o autor salienta que todas as formas de vida procuram se organizar entre os iguais, mesmo as formas de vida que não tem um sistema nervoso ou uma mente para direcioná-los. Descreve que as mais simples formas de vida se agrupam para defesa e expulsam as que não cooperam. Essas formas de vida não pensam para isso. Apenas fazem.
A temática é interessante, principalmente se levarmos em conta a enorme complexidade dos ambientes organizacionais onde impera a busca pelo profissionalismo e pelo racional.
Mas, afinal, o que é ser racional?
Pode ser a qualidade ou estado de ser sensato, baseado em dados e razões.
Razão?
Razão é a capacidade de chegar a conclusões com base em conceitos, coerências ou contradições de determinada situação, sempre levando em conta o ambiente e as condições de “temperatura e pressão”.
Caramba!
Já perceberam quanto de carga emocional se tem que ter para assumir uma postura racional?
Evidentemente a objetividade e um posicionamento imparcial, onde se tenha a maior isenção possível de interesses pessoais, podem possibilitar uma visão mais clara das expectativas de resultados.
Mas, independentemente dessa “vigilância” e da firmeza de postura é inconcebível imaginar-se a ausência de “sentimentos” nessas ações. Sem dúvida as emoções estarão permeando todo o raciocínio que fundamenta esse posicionamento.
Em suma, tudo que nos acontece tem base emocional. Tudo são emoções, positivas ou negativas, mas emoções.
A dificuldade em aceitar essa evidencia prejudica, sensivelmente, o melhor posicionamento das pessoas em suas atividades profissionais.
Por isso saliento com frequência: Temos que dar um crachá para a Emoção poder entrar na empresa e fazer parte da administração dos negócios.
E não estou fazendo uma “passeata” para colocar o destempero emocional dentro da organização.
Evidente que destemperos são claramente destrutivos nas relações profissionais. Apesar de que é algo quase que inevitável. Veja o chefe que grita, o funcionário que chora, o colega que fala mal, o outro que vira as costas e aquele que diz que não se importou, mas vai remoer uma insatisfação imensa. Em suma, emoções estão sempre presentes.
Lembrem-se de que quando contratamos um profissional a pessoa vem junto, isto é, contratamos as qualidades e os defeitos. Por isso vamos procurar entender as pessoas de maneira mais holística. Isso não é uma novidade.
É uma experiência muito comum, assim como também sei que alguns profissionais até enfrentam problemas por não conseguirem controlar seus destemperos emocionais e, por isso, sofrem consequências negativas em suas carreiras e imagem profissional. Inadequações desses posicionamentos ocorrem com frequência e precisam ser administrados de maneira clara e direta.
Por isso mesmo defendo uma maior preocupação com a atenção pessoal, com uma ação consciente de aplicação de feedback com ações de reconhecimento e a constatação da individualidade como fatores determinantes para a melhoria das relações e da qualidade de vida geral.
As pessoas estão pagando para ter atenção.
O profissional de Coaching que fala muito durante a sessão pode não ter profundidade. Às vezes é uma questão de ansiedade. Ouvir ainda é uma ferramenta (uma atitude) de resultados indiscutíveis e fantásticos (na empresa, na família, com amigos, etc.).
Controlar o posicionamento para ser adequado em circunstancias diversas é encargo para super seres humanos. E poderá se dizer que um robô leva vantagens nesse aspecto.
Sem dúvida o robô será previsível, mas o que é previsível em nossa vida?
A inteligência artificial é uma grande alternativa, que aliada á internet das coisas, possibilitará fantástica melhoria para a vida humana. Mas a questão emocional é mola propulsora de criatividade, inovação e desenvolvimentos.
A própria ciência parte desse pressuposto. São humanos que fazem e desenvolvem o conhecimento científico e sua aplicação para melhor qualidade de vida. E são os humanos que sempre farão o resultado do negócio.
Entendo que esses objetivos se aproximam da utopia porque, infelizmente, no desenvolvimento da nossa civilização temos enfrentado vários tropeços. Saliento que não identifico retrocessos, mas um caminhar extremante lento na aprendizagem que a vida nos dispõe de maneira tão clara e, por vezes, dolorosa.
Experimentamos guerras e ainda há uma busca insaciável por armas para proteger a paz.
É mesmo?
O que aprendemos?
Vemos atitudes pessoais onde o interesse individual sobrepuja, de maneira absurda, o interesse coletivo. A falta de ética, a desonestidade e outras ações levando extremo sacrifício a grande parcela da população com péssimas condições de sobrevivência e forte bloqueio ao seu desenvolvimento enquanto seres humanos.
Aprendemos isso?
Nossa cultura nos conduz a esses comportamentos?
Estamos em tempos em que o desenvolvimento cientifico nos presenteia com uma longevidade em ascensão, com diversas alternativas de cura na medicina e tecnologia que nos permitirá menor esforço físico e, presumivelmente, maior liberdade e felicidade. E vamos viver mais tempo.
Mas, também enfrentamos o reverso do desenvolvimento com sérios desvios no controle da privacidade, na manipulação de dados e informações, infelizmente sempre a serviço de uma minoria dominante.
Temos que encontrar o caminho na encruzilhada. Não podemos nos colocar no caminho do desenvolvimento de castas humanas para separar os afortunados dos desafortunados.
Pois é, então vamos resgatar a humanidade nas pessoas e buscar os caminhos que, sem dúvida, deveriam nos conduzir ao nosso destino.
Entendo que neste momento posso passar a impressão de querer lutar contra os “moinhos de ventos”, mas aproveitando vou citar Miguel de Cervantes em seu Don Quixote de La Mancha:
“Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca”.
Bem, não é uma aventura fácil. Muito ao contrário.
Por Bernardo Leite, Consultor Organizacional, longa experiência executiva em nível gerencial e diretivo. (Volkswagen / Bayer / Calfat / Enterpa / Confab / Brastemp / Morita / Abaeté). Psicólogo especializado em Comportamento Organizacional. Atua em consultoria desde 1980. Forte participação no mercado com palestras, artigos, pesquisas e estudos sobre comportamento organizacional e gestão. Palestrante, escritor, coaching personalizado para executivos. Um dos maiores especialistas em Avaliação de Desempenho, em todos os segmentos, incluindo Empresas Públicas. Professor em nível de Pós Graduação em diversas instituições de ensino. Coordenou o MBA de Administração para Engenheiros do IMT e, atualmente, é professor convidado da FGV-SP. Autor dos livros: Ciclo de Vida das Empresas e Dicas de Feedback, além de participação em mais outros cinco livros. Lança, em 2021 seu mais recente livro “Será que minha empresa é assim?”.
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