Quando jovens, muito comumente pensamos e sentimos que somos imortais; e não pensamos na velhice, na morte.
No meu atual ciclo de vida, entrei na faixa dos 50 anos de idade e pego-me pensando sobre o envelhecer, que como tudo possui aspectos legais e não tão legais, positivos e negativos; por isso decidi falar um pouco sobre isso este mês.
O Etarismo, também conhecido como discriminação etária, refere-se à prática de julgar ou discriminar indivíduos com base em sua idade, que afeta os jovens e os mais velhos, aqui focarei mais nestes últimos.
As causas desse fenômeno são multifacetadas e podem incluir estereótipos culturais enraizados, preconceitos sociais, a busca pela juventude idealizada e crenças como idosos não podem trabalhar, idosos são frágeis e não conseguem resolver suas necessidades básicas, os mais velhos nada têm a contribuir etc.
Segundo uma pesquisa feita pelo Infojobs, que ouviu de 1222 profissionais, cerca de 57% dos entrevistados passaram por algum episódio de preconceito devido à sua idade. Ao todo, 55% dos participantes do estudo fazem parte da geração X, 36% da geração Y e 9% da geração Z.
O preconceito afeta a saúde mental da pessoa, porque ela tende a ficar em isolamento. Ela não se sente confortável no ambiente, onde é basicamente rejeitada por ter mais de 60 (sessenta) anos de idade, isso pode inclusive levar à depressão, uma vez que a pessoa pensa em fazer algo, porém interioriza isso e muitas vezes pode não sentir coragem de externar o que realmente pensa e sente; especialmente aqueles que tem parcos recursos.
Enquanto jovens adultos podem receber salários mais baixos, por serem considerados menos experientes, as pessoas mais velhas podem ter problemas para conseguir promoções ou encontrar trabalho. Isso tudo afeta diretamente a dignidade dessas pessoas; pois a levam para uma má qualidade de vida.
Uma pesquisa da empresa Ernst & Young e a agência Maturi de 2022, realizada em quase 200 empresas no Brasil, mostrou que a maioria das companhias pesquisadas tem de 6% a 10% de pessoas com mais de 50 anos em seu quadro funcional e que 78% das empresas consideram-se etaristas e têm barreiras para contratação de trabalhadores nessa faixa de idade.
Lembremos de algumas leis que protegem o idoso a exemplo do Artigo 96 da Constituição Federal, que aliás muita gente desconhece e dispõe que “Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício de cidadania, por motivo de idade: Pena – reclusão de 06 (seis) meses a 1 (um) ano e multa”.
Existe também o Estatuto do idoso que o protege e há um projeto de lei Número 3.549/203 – Câmara dos Deputados que preceitua o etarismo como a discriminação praticada contra indivíduos ou grupos de pessoas com base em estereótipos associados à idade.
Uma das formas de combater esse preconceito etário é conscientizar a população sobre os problemas que ele pode criar, aliás desnecessariamente, pois com relação aos mais velhos, eles possuem enorme experiência de vida, privilégio que nem todos temos. Essas pessoas podem ter uma “bagagem” que muito pode agregar em qualquer cenário pessoal e/ou mercadológico.
Lembremos do filme “Um senhor estagiário”, um dos aspectos principais é a união de gerações, a ideia de que a experiência e a juventude podem coexistir e se complementar. O personagem Ben, com sua experiência e calma, se contrapõe à agitada e moderna realidade da startup de Jules.
O fato é que, pelo menos no meu entorno, vejo as pessoas viverem por muitos e muitos anos, com uma saúde mental e lucidez invejáveis. Um exemplo é que fui convidada diretamente pela aniversariante, minha tia Reny, para o seu aniversário de 95 anos de plena elegância, lucidez e sabedoria agora no dia 03/02/24. E dia 17/02/24 participarei como convidada dos 90 anos da Tia Maura, mãe de um amigo querido. Outros exemplos são: minha sogra com 83 anos é lúcida, minha tia Neter com 94 anos, minha tia Dirce com 91 anos, cheia de opinião, bonita, arrumada, voz firme e acompanha as mídias sociais; e tudo isso pertinho de mim para testemunhar a longevidade dessas mulheres.
O nosso país, – além de ter que olhar para a melhora de muitos aspectos a exemplo da educação, acabar com a corrupção, da melhora da malha logística do país – precisa também criar ferramentas, meios de melhorar também a qualidade de vida dos idosos, promovendo atividades culturais, acessibilidade, cursos, grupos, programas voltados para eles, assim como outros países já o fazem há muito tempo a exemplo da Suíça, Noruega, Suécia, Alemanha, dentre outros.
Interessante abrir parênteses para falar sobre como o idoso é visto no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria, a cultura do idoso oriental têm como tradição cuidar bem e reverenciar os idosos, fruto de aspectos milenares em que dignidade e respeito são valores cultuados por eles.
Outros dados importantes foram divulgados em duas pesquisas da Nações Unidas. O primeiro informa que existem cerca de 962 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no mundo, o que corresponde a 13% da população total. Até 2050, todas as regiões do mundo, exceto a África, terão quase um quarto de suas populações compondo essa faixa etária. E a outra pesquisa aponta que igualmente no Brasil, 13% de sua população correspondem a pessoas com mais de 60 anos, e esse índice deverá chegar a 29,3% em 2050.
Vamos parar e pensar antes de expressar frases como “Você não tem mais idade para isso”, “Você não aparenta ter essa idade”, “Depois de certa idade”, “Você está bem/ bonita para sua idade”, dentre outras; que só tem como finalidade colocar as pessoas para baixo.
E para finalizar compartilho que essa semana, em que vi meu padrinho partir com 77 anos e também celebrei os 60 anos de uma amiga querida, pude trocar com minha amiga desde a adolescência várias coisas importantes, sendo uma delas a reflexão relacionada ao fato de que quanto mais avançamos na caminhada da nossa vida devemos buscar sabedoria para nos adaptar aos diferentes ciclos e momentos de nossas vidas, simplificar nossa vida como um todo inclusive avaliando sobre o que precisamos e o que não precisamos material e espiritualmente e lutar para manter ao máximo nossa autonomia e independência.
Abraços e boas reflexões para todos. Como diz Oswaldo Montenegro “Se puder, envelheça”: …. ficar velho é sacar nossa própria desimportância”. Algo relevante de pontuar em um mundo onde as pessoas têm uma vaidade, arrogância e falta de sabedoria implacáveis e destrutivas para consigo e para com os outros.
Por Viviane Gago, advogada e consteladora pelo Instituto de Psiquiatria da USP (IPQ/USP) com parceria do Instituto Evoluir e ProSer e facilitadora pela Viviane Gago Desenvolvimento Humano. Além de autora das obras: Biografia de uma pessoa comum, Olhares para os sistemas, dentre outros.
Ouça o episódio 143 do RH Pra Você Cast, “Inclusão 50+, bom para o presente e para o futuro (de todos nós)“. Como você se enxerga daqui a cinco ou dez anos? O questionamento, que já deve ter sido feito a muitos de vocês durante algum processo seletivo ao longo da carreira, nem sempre traz consigo uma resposta fácil. Especialmente para um público que, diante de tantos estereótipos e preconceitos, sequer sabe como será o dia de amanhã em sua vida profissional. A cada nova geração que entra no mercado, uma anterior se vê diante do dilema de ficar para trás e ver cada vez menos portas se abrirem.
O panorama, todavia, não só precisa como deve ser mudado. Pesquisas revelam que o tão falado “choque geracional” é extremamente benéfico não só a profissionais de todas as idades, mas também às empresas. E, afinal, se não olharmos para o público 50+ com atenção, como será quando chegar a nossa vez de lutar por espaço com os mais jovens? Para falar sobre as vantagens de mesclar gerações e como desenvolver mecanismos de inclusão, o RH Pra Você Cast traz Mórris Litvak, Fundador e CEO da Maturi. Confira o papo clicando no app abaixo:
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