O recente caso de etarismo vivenciado por uma caloura de 44 anos do curso de biomedicina do Centro Universitário Sagrado Coração (UNISAGRADO), em Bauru (SP), levantou, mais uma vez, a discussão em torno do preconceito etário na sociedade.

Na polêmica em questão, três jovens universitárias publicaram nas redes sociais um vídeo debochando da presença da colega 40+ em sala de aula. Em uma das falas, uma delas declarou que “mano, ela tem 40 anos já, era para estar aposentada”. Além disso, foi dito também que “gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade, eu tenho essa opinião”.

A repercussão do conteúdo discriminatório rapidamente chegou à estudante Patricia Linares, alvo das provocações do vídeo. Ao G1, ela contou que soube do material em sala de aula, durante a preparação para apresentar um trabalho, e que se sentiu fortemente abalada. “Me abalou profundamente. A tristeza que me abateu foi muito grande. Eu chorei muito”, revelou ao portal de notícias da Globo.

Também ao G1, Bárbara Calixto, uma das três estudantes no vídeo, manifestou que não esperava a proporção tomada pelo caso. A postagem foi feita no “close friends” do Instagram, um recurso que permite limitar o conteúdo a pessoas selecionadas pelo usuário, mas rapidamente foi vazada para o público.

“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, declarou. Estavam com ela no vídeo as estudantes Beatriz Pontes e Giovana Cassalatti.

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Problema social

O etarismo não é um problema que se resume aos centros universitários – vale destacar que o conceito de etarismo remete à discriminação contra qualquer faixa etária, não apenas contra pessoas mais velhas. Nos mais diversos espectros sociais, o preconceito etário se faz presente. O mercado de trabalho é um exemplo disso.

Segundo pesquisa realizada pela plataforma online Maturi em parceria com a consultoria EY Brasil, a concentração das iniciativas de Diversidade & Inclusão na maioria das empresas brasileiras está em torno de gênero, raça/etnia, comunidade LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, enquanto a idade não surge entre os focos.

O levantamento revela que 80% das organizações respondentes não contam com políticas de combate à discriminação etária em seus processos seletivos. O cenário conduz a um caminho perigoso, uma vez que, de acordo com projeções de diferentes entidades, até 2040 cerca de 57% da força de trabalho terá mais de 45 anos. Ou seja, há uma estrada pouco pavimentada para o futuro, na qual profissionais que hoje ignoram o etarismo, amanhã serão vítimas dele.

“Desde crianças, somos apresentados a mensagens sociais carregadas de estereótipos e preconceitos, começando em nosso círculo familiar próximo e se expandindo pela comunidade. Às vezes, a idade é empregada até como ofensa direta. É comum um jovem se referir a outra pessoa como ‘esse senhor’ ou ‘essa senhora’, considerando que a idade pode se tornar uma ofensa”, diz Adriano Baltazar Lay, head de Operações da Leiloei.

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Combate ao etarismo

Em artigo, as advogadas do Punder Advogados, Heloisa Mascarenhas e Patricia Punder, gestora jurídica e CEO do escritório, salientam que as principais recomendações e estratégias para enfrentar o etarismo têm “base em evidências sobre suas determinações e impactos”. A dupla orienta que os focos de atuação para reduzi-lo são política e lei, intervenções de contato intergeracional e intervenções educacionais.

“A diversidade geracional nas empresas traz benefícios, segundo a American Association of Retired Persons (AARP), como maior produtividade, mais oportunidades de mercado, mais inovação, maior fortalecimento dos negócios, aumento do PIB, além de ser fator preponderante para a saúde financeira e sobrevivência”, dizem.

Canal de Denúncias

Para Luiz França, especialista em Gestão de Pessoas, humanizador de empresas e autor do livro “Cultura de confiança: a arte do engajamento para times fortes e que geram resultados”, as empresas devem apostar na união das gerações. Segundo ele, as diferentes gerações têm o seu trabalho e desenvolvimento fortalecidos quando trabalham em conjunto e não em competição.

“Não existe empresa sem pessoas, por isso digo que o melhor caminho para seguir é a união das gerações. A idade permite que você construa competências, o amadurecimento traz experiências e resiliência, a pessoa mais velha traz consigo o networking natural e o conhecimento adquirido ao longo da vida. Já o jovem carrega a modernidade, a facilidade de se comunicar, busca autonomia, é entusiasta e desapegado, ao mesmo tempo em que mantém os pés no chão”, pontua.

Na visão de Marcel Scalcko, especialista em treinamentos de gestão de equipe, apostar na contratação de profissionais maduros traz ganhos às empresas em maturidade, pluralidade, promoção da inclusão, habilidades de liderança e interpessoais, experiência de mercado, entre outros fatores. Porém, não é apenas o mercado de trabalho que deve se concentrar em ações inclusivas e de conscientização. As iniciativas devem ser conjuntas.

“Precisamos de ações mais inclusivas e digitais, não só por parte das empresas, mas também por parte do governo, da população, e do ensino. O etarismo pode colocar a saúde das pessoas mais velhas em risco”, comenta Marcel. De acordo com um relatório elaborado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) uma em cada duas pessoas no mundo já apresentou ações discriminatórias que pioram a saúde física e mental dos idosos.

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Para saber mais

No próximo dia 23, acontecerá no espaço InovaBra Habitat, em São Paulo, o Meetup Maturi. Gratuito e exclusivo para empresas, o evento contará com a participação da Sanofi para falar sobre uma importante conquista. A organização é a primeira no Brasil a receber o selo de Empresa Age Friendly, que reconhece boas práticas para profissionais maduros.

Para mais informações e inscrições, acesse este link. O evento pode ser acompanhado presencial ou digitalmente. Quer tornar o seu negócio referência na luta contra o etarismo? Então não fique de fora!

Por Bruno Piai