No início do ano, tive que tomar uma série de decisões difíceis em minha vida profissional e, principalmente, pessoal. Aceitei o emprego dos meus sonhos, sendo promovida dentro de uma empresa que eu admiro e onde amo trabalhar, para liderar o RH de duas regiões (América do Sul e América do Norte) e me mudar para Chicago. Em conjunto com os meus filhos, tomamos a decisão de que eles ficariam no Brasil.
Eles não são pequenininhos – Barbara tem 19 anos e Felipe tem quase 17 anos -, mas tenho certeza que o pensamento que passa pela cabeça da maior parte das pessoas que estão lendo esse texto é algo parecido com:
“Nossa, onde já se viu uma mulher e mãe ‘deixar’ os filhos para seguir carreira em outro país?”.
No entanto, gostaria de fazer um convite a todos os leitores.
Volte ao parágrafo anterior e o leia como se fosse um homem contando a respeito de sua jornada profissional. Acredito que muitos julgamentos seriam deixados de lado nesse cenário hipotético. A vida é complicada e admito que também fiz julgamentos sobre mim mesma pela minha decisão, mas eu luto diária e constantemente contra os vieses existentes nesse mundo para que isso tudo mude.
Escrever esse texto e levar as pessoas a refletirem sobre o que a sociedade espera e impõe (ainda que moralmente) às mulheres é parte dessa luta.
A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo e é essencial que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo, onde mães tenham as mesmas oportunidades que pais no mercado de trabalho. Onde, daqui a alguns anos, a minha filha possa tomar a mesma decisão que eu tomei sem sentir um peso tão grande.
Falando nela, uma vez minha filha reparou que eu costumava ser a única mulher entre uma maioria masculina em eventos corporativos. E isso sempre me fez pensar, já que a falta de mulheres como porta-vozes e o juízo de valor, mesmo que inconsciente, em cima de uma profissional que se muda de país para trabalhar sem os filhos são faces diferentes da mesma moeda.
Mulheres que já percorreram uma jornada mais longa no mercado de trabalho precisam ser referência para a nova geração. Precisamos ocupar espaços, ocupar palcos, ocupar cargos e, é claro, ocupar também postos de liderança, onde quer que eles estejam.
Nós somos o movimento #breakthebias em carne e osso.
É fácil? Claro que não. Mas é necessário.
Como disse Stephanie Bennett-Henry: “A vida é dura, minha querida, mas você também é.” E confesso que tenho me agarrado a esse pensamento, dia após dia.
Mais de seis meses após a minha mudança, meus filhos estão bem e contam com todo o suporte que jovens precisam nessa fase graças ao pai, ao resto de nossa rede de apoio que está no Brasil e a mim, é claro, porque estamos longe fisicamente, mas próximos de todas as outras maneiras.
Oscilando entre “a melhor decisão da minha vida” e “o que estou fazendo aqui?”, aprendi demais nesse período. Me adaptei ao novo emprego, à nova casa, à nova rotina e agora os dias bons são muito mais abundantes do que os difíceis. Meu trabalho e o desafio me motivam, mas também sou movida pela satisfação de dar um passo além na jornada pela equidade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres.
Esse texto tem o objetivo de falar de equidade, é claro, mas também de incentivar a todos a agarrar as oportunidades que a vida coloca no caminho ou correr atrás delas porque nada é difícil demais e nada é impossível.
Por Viviane Gaspari, VP de Recursos Humanos América do Norte e América do Sul da Ingredion, empresa líder mundial em de soluções para ingredientes.
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Capa: Deposithphotos