Empregos fracionados podem solucionar adversidades dos modelos horistas?

Hoje, empresas de vários setores não estão conseguindo acompanhar a demanda dos clientes devido à escassez de mão de obra qualificada e à alta rotatividade de funcionários. As empresas e seus representantes de RH tentaram enfrentar esses desafios de forma criativa, desde a implementação de bônus até o financiamento de mensalidades, mas ainda não conseguiram atender às suas necessidades de contratação.

Esta tendência tem sido particularmente preocupante para os empregadores que utilizam o modelo horista, visto que contam com um fluxo instável de profissionais qualificados que são treinados, engajados e realmente aparecem para trabalhar. Nesse cenário, o que muitos gestores podem não perceber é que 90% dos trabalhadores modernos priorizam flexibilidade e independência em relação a um relacionamento inflexível de longo prazo com um único chefe, conforme os dados da EY.

Além disso, segundo a pesquisa, 54% consideraram deixar seu emprego atual se não lhes for oferecida flexibilidade sobre quando e onde trabalhar. Indo de contramão a isso, muitas empresas persistem em operar dentro dos limites do emprego tradicional, esperando que os trabalhadores apareçam das 8 às 17 horas, cinco dias (ou mais) por semana.

A questão não é somente que os trabalhadores não querem estar no escritório – é que muitos perceberam que podem ser igualmente produtivos e geralmente ficam mais felizes com um arranjo de trabalho mais flexível. O fato é que as empresas esperam que seus funcionários trabalhem no escritório em tempo integral e com a retomada total do fluxo comercial e estabilidade da economia, muitos já planejam retomar a esses moldes em 2023.


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Claramente, há uma desconexão entre o que os empregadores e os empregados querem. Para resolver essa desconexão, os empregadores precisam de uma nova maneira de atrair trabalhadores horistas, oferecendo os turnos hiperflexíveis e sob demanda que estão procurando. A solução requer pensar fora dos “trabalhos” tradicionais. Embora no Brasil, muitas empresas sejam consideradas como modelos corporativos transformacionais, nos quais o trabalho remoto é certamente possível e teoricamente bem sucedido, muitos profissionais da linha de frente também querem experimentar esse mesmo nível de flexibilização.

Ao invés disso, os empregadores devem dividir ou fracionar suas posições de tempo integral em turnos. Os benefícios do fracionamento são simples: em vez de procurar um trabalhador para realizar serviços de quarenta horas por semana, o empreendedor pode contratar quatro trabalhadores que podem assumir dez horas cada um por semana ou dez trabalhadores que podem trabalhar 4 horas por semana.

Em um modelo de trabalho fracionário, os empregadores podem atrair um grupo muito maior de pessoas que desejam flexibilidade e liberdade para trabalhar quando quiserem e fazer o tipo de trabalho que mais gostam. Ao mesmo tempo, os chefes ganham uma opção muito mais adaptativa, no que se refere a poder aumentar ou diminuir sua força de trabalho com base na demanda. É um ganho para ambas as partes.

Entretanto, engana-se quem pensa que o fracionamento é apenas uma solução para necessidades pessoais de curto prazo – ele ajuda a criar um ecossistema mais eficiente que beneficia ambos os lados. Aqui estão alguns exemplos de como o fracionamento pode ajudar a moldar o futuro do trabalho:

1. Demanda por trabalho remoto

Apesar de a demanda por trabalho remoto continuar a aumentar, muitas empresas lutam para acompanhar os altos custos, infraestrutura adicional e mudanças culturais necessárias para acomodar uma força de trabalho remota. No entanto, fracionar os trabalhos remotos exigiria menos investimento de capital para contratar e integrar serviços fora do escritório.

Desse modo, uma empresa poderá simplesmente compilar a lista de tarefas e projetos que podem ser concluídos remotamente, abrir essas oportunidades para um conjunto de trabalhadores qualificados e permitir que esses funcionários escolham os turnos que melhor se adequam às suas agendas. Fazer isso abriria a contratação para um grupo de talentos muito maior, desde mães que trabalham meio período enquanto cuidam dos filhos até estudantes universitários que desejam ganhar algum dinheiro extra enquanto se formam.

2. Acompanhamento da transformação digital

A pandemia acelerou a disrupção digital em todos os setores e o staff colaborativo faz parte disso. Atualmente, os funcionários horistas têm expectativas mais altas em relação aos empregadores e, mais importante, têm a opção de escolher empregadores que atendam às suas necessidades.

O modelo empregatício fracionado só funciona quando ancorado pela tecnologia digital. Para que a abordagem fracionada seja bem sucedida, os colaboradores precisam criar uma experiência que permita aqueles que trabalham por hora encontrar e o gerenciar rapidamente seus turnos. Fora isso, é preciso que obtenham feedbacks constantes de seus gestores e acessem oportunidades de progressão na carreira.

Da mesma forma, os empresários e especialistas de RH precisam ser capazes de selecionar, integrar e implantar rapidamente novos perfis, identificando os melhores desempenhos e dando-lhes preferência nos turnos disponíveis, aprimorando assim sua força de trabalho por meio de educação e treinamento focados. Essa é a única maneira de implementar a flexibilidade de maneira escalável e econômica.

Os trabalhadores horistas continuarão a mudar para uma maior flexibilidade, colocando o ônus sobre empregadores e profissionais de RH para atender às suas necessidades por meio do fracionamento. Os modelos tradicionais das 8 às 17 horas estão em “stand by” a algum tempo e pode ser que nunca mais voltem aos moldes de antes. Contudo, os empregadores podem oferecer um modelo de emprego mais atraente para trabalhadores sob demanda por meio desse novo processo.

Pode-se concluir que os primeiros a adotar as medidas fracionais terão a vantagem de poder atrair um grupo maior de funcionários capacitados, além de inserir seus sistemas e processos em vigor para encontrar as pessoas certas com as habilidades necessárias para as realizar as atividades esperadas. Uma equação complexa, mas que inevitavelmente deverá ser solucionada.

Empregos fracionados e os modelos horistas

Por Adriano da Silva Santos, jornalista e escritor. Reconhecido pelos prêmios de Excelência em webjornalismo e jornalismo impresso, é comentarista do podcast “Abaixa a Bola” e colunista de editorias de criptomoedas, economia, investimentos, sustentabilidade e tecnologia voltada à medicina.

 

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