As denúncias de assédio sexual contra o ex-chefe do Departamento de Humor da TV Globo, Marcius Melhem, ainda não tiveram desfecho, mas já serviram para revelar desvios éticos na relação entre líder e liderados nos estúdios da emissora.

Em entrevistas e depoimento à polícia, o humorista admitiu ter se relacionado com atrizes do seu departamento, mas se defendeu alegando que foram relações consensuais.

Relacionar-se com um subordinado sem comunicar a empresa é uma infração ética e pode ser punida até com a demissão por justa causa porque há conflito de interesses.


Baixe gratuitamente o eBook “ESG como as três letras vão conduzir o futuro do trabalho” produzido pela JobCam em parceria com o Grupo TopRH. Clique AQUI.


As investigações do Caso Melhem vão concluir se houve assédio ou se as relações foram consensuais, mas independentemente disso, há uma infração ética comprovada.

Ele era o diretor do departamento, não poderia se relacionar com suas subordinadas de forma oculta e mantendo a relação hierárquica, sob pena de colocar sob suspeita todas as suas decisões em relação a essas pessoas, incluindo promoções, méritos, demissões e movimentações.

Quando um relacionamento entre líder e liderado termina, é imprevisível o reflexo disso nas relações de trabalho. Mesmo uma relação consensual pode se transformar em assédio a partir do momento em que uma das partes diz que não quer mais.

Quando a outra parte aceita o término tranquilamente, tudo bem, mas se ela insiste em manter a relação, mesmo diante das negativas, isso já passa a ser considerado assédio.

Quem está na posição de subordinado pode sentir medo de perder o emprego e não denunciar.

O recomendando é que não haja subordinação entre o casal.

Afinal, qual a imagem que fica a todos os demais colegas quando um dos integrantes do casal é promovido e justamente pelo outro integrante do casal?

Por que foi escalado para um trabalho mais interessante?

Por que foi transferido para uma ‘boa filial’?

Qualquer decisão desse chefe pode ser considerada suspeita.

O ideal é separar o casal de departamento, para que as decisões de um não interfiram no trabalho do outro, nem para beneficiar, nem para perseguir.

Não deve haver subordinação, nem conexão entre as funções do casal na empresa.

Imagine que um deles trabalhe no departamento de compras e o outro, numa função que aprove os pedidos ou autorize os pagamentos?

Sempre pode haver desconfiança e isso pode prejudicar o ambiente de trabalho.

Para evitar esse tipo de problema, as empresas devem estabelecer regras no contrato de trabalho em relação à conduta pessoal no ambiente corporativo.

Se a existência desse relacionamento interferir na rotina do trabalho ou provocar danos à imagem da empresa, como em um caso de denúncia de crime, esse líder pode, inclusive, ser demitido por justa causa, além de ser denunciado às autoridades.

*Limites*

É impossível e invasivo impedir que duas pessoas que trabalhem juntas se interessem uma pela outra e iniciem um relacionamento.

Há empresas que têm como norma não contratar casais, e outras que não se importam. Algumas empresas até contratam casais por ser uma forma de atrair mão-de-obra especializada em localidades distantes, outras evitam justamente para fugir do conflito de interesses.

Não é preciso e nem seria possível impedir que surja um relacionamento entre dois colegas de trabalho, mas é fundamental ter regras claras para todos.

Caso Marcius Melhem: o que separa a paquera do assédio?

Por André Costa, sócio fundador da Shield Compliance, advogado especialista em Compliance, entrevistador forense, palestrante, Professor, membro Tribunal de Ética e Disciplina OAB/SP e autor do livro Entrevista Forense Corporativa.

 

 

Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 48, “O silêncio do assédio sexual” com Ana Plihal, líder de soluções de Talentos do LinkedIn e Maíra Liquori, diretora de impacto do Think EVA. Clique no app abaixo:

Não se esqueça de seguir nosso podcast e interagir em nossas redes sociais:

Facebook
Instagram
LinkedIn
YouTube