De acordo com um levantamento recente realizado pela Catho, o perfil da juventude em relação aos estudos e ao trabalho apresenta índices abaixo do esperado. O estudo revela que 33,3% dos respondentes não realizam nenhuma atividade, sendo eles os chamados jovens ‘nem-nem’.

Segundo os entrevistados, no que envolve a questão do emprego, 32,4% alegam a falta de oportunidades como o maior problema, enquanto 28,5% justificam que a competição por vagas é muito grande. Os dados da Catho só corroboram uma realidade que coloca o Brasil em um ranking nada desejado: segundo país do mundo com maior percentual de jovens nem-nem (35,6%), atrás apenas da África do Sul (36%), conforme revela a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Outro estudo, desta vez realizado pelo SESI/SENAI, expõe o quanto, no campo do estudo, as estatísticas brasileiras deixam a desejar. 38% dos participantes do levantamento que não estudam mais dizem que não conseguiram alcançar a escolaridade desejada. Além disso, não mais do que 15% da população com mais de 16 anos afirma estudar atualmente.

A interrupção dos estudos é motivada por diversos fatores. Embora a maior das razões citadas não qualifique esses jovens como nem-nem, uma vez que 47% largam os estudos porque precisam trabalhar para manter a renda da família, chama atenção que 18% dos respondentes entre 16 e 24 não conseguem seguir com os estudos por conta de gravidez ou nascimento de uma criança.

“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos que interromperam os estudos, e consequentemente sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi.

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O que fazer para reduzir o índice de jovens nem-nem?

Na visão do mentor empresarial André Minucci, o crescimento dos números dos nem-nem é motivado não só por problemas sociais, como também pela postura adotada por muitas empresas, o que contribui para que, de fato, como revela a pesquisa da Catho, a falta de oportunidades seja um grande empecilho.

“À medida que houve um crescimento da exigência de formação e experiência, o mercado de trabalho tornou-se mais restrito para aqueles que não têm uma educação formal completa ou qualificação adicional. Também há falhas no sistema educacional e a ausência de mecanismos de incentivo, o que leva à desistência dos estudos ou à formação precária em boa parte da população”, analisa Minucci.

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Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) afirma que 73% da geração nem-nem é formada por mulheres, tendo a gravidez precoce como principal causa. Os dados também mostram que o Brasil tem 3 milhões de pessoas desocupadas, que estão procurando emprego há mais de dois anos, e cerca de 5 milhões de desalentados — quem desistiu de procurar trabalho. Segundo o Ipea, metade deles não completou o ensino fundamental, estando 25% na faixa etária de 18 a 24 anos.

“Os números confirmam a necessidade de políticas públicas para ajudar os jovens a se profissionalizarem e ingressarem no mercado de trabalho. As consequências da geração nem-nem vão além do desemprego, incluem o aumento da diferença da desigualdade social e afetam os problemas com a saúde mental. Muitos jovens se sentem pressionados a conseguirem uma formação e um trabalho cada vez mais cedo, o que os afetam psicologicamente”, diz Minucci.

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O mentor aponta que a geração nem-nem representa um desafio para a sociedade e o país como um todo. Para superar essa realidade, ele propõe a adoção de algumas medidas:

Investir na educação e qualificação profissional: é essencial fortalecer o sistema educacional e oferecer oportunidades de capacitação profissional, para que os jovens adquiram habilidades relevantes para o mercado de trabalho atual.

Investir no aprimoramento da comunicação: uma alternativa essencial para os jovens se prepararem para o mercado de trabalho é desenvolver habilidades de comunicação para estabelecer conexões durante o momento crucial das entrevistas. Nesse contexto, um treinamento de comunicação é uma dica valiosa, pois os ajudará a aperfeiçoar suas capacidades de expressão, escuta ativa e empatia, proporcionando maior confiança e assertividade, fatores determinantes para alcançar sucesso nas oportunidades profissionais.

Promover ações de inclusão social: políticas públicas que visem a inclusão social e a redução das desigualdades podem ajudar a abrir novas possibilidades para os jovens da geração nem-nem.

Cuidar da saúde mental: por não conseguir concluir os estudos ou não achar emprego, é natural vir o desânimo e a pressão social. É importante buscar ajuda de psicólogos para orientar e ajudar em um momento que as oportunidades parecem escassas. 

Promover a busca por propósito: no cenário atual é necessário desenvolver uma geração de pensadores autônomos e criativos. Por isso, é importante ter uma educação mais prática e experimental. Viver novas experiências ajuda a se redescobrir e encontrar ânimo e um novo objetivo.

“A geração nem-nem não deve ser vista como um grupo desmotivado ou acomodado, mas sim como uma parcela da população que enfrenta desafios específicos. Investir em sua capacitação e oportunidades pode ser um caminho para transformar essas dificuldades em perspectivas de futuro promissor”, finaliza Minucci.