Ah, o fatídico Dia da Mentira chegou. No embalo simbólico da data, marcada por inverdades nem sempre das mais saudáveis, nada melhor do que entrarmos no clima contando algumas… verdades, é claro!

O assunto escolhido para nossa singela homenagem às avessas ao dia favorito dos insinceros de plantão é um dos que mais carregam estigmas dentro do universo de RH: Recrutamento & Seleção. Não é para menos, afinal, tamanha a sensibilidade do tema, especialmente com as dificuldades e burocracias enfrentadas por tantos candidatos a vagas de emprego, é fácil que mitos ganhem força e se espalhem.

Por isso, para mergulharmos um pouco mais fundo neste universo de mentiras – dramático ele –, convidamos profissionais de três das mais conceituadas plataformas de recrutamento do país: Hosana Azevedo, Head de RH do Infojobs; Patricia Suzuki, Diretora de Gente & Gestão da Catho; e Ana Borges, Gerente Executiva da Michael Page.

No ritmo de Evidências, chega de mentiras:

Mito #1 – Selo ‘Open to Work’, do LinkedIn, mais atrapalha do que ajuda os candidatos

Hosana: Embora haja debates sobre a eficácia do selo “open to work”, não há evidências concretas de que ele atrapalhe mais do que ajude. Enquanto alguns recrutadores podem ter preferência por candidatos atualmente empregados, muitos valorizam a transparência e a disponibilidade dos candidatos em busca de novas oportunidades.

O selo pode chamar a atenção de recrutadores que estão ativamente procurando candidatos para preencher posições, aumentando as chances de os candidatos serem notados.

Mito #2 – O currículo de papel morreu

Patricia: É correto afirmar que a tecnologia hoje está presente em todas as áreas, inclusive na área de Recursos Humanos. Por isso percebe-se que por movimentos e necessidades de mercado o currículo de papel tende a entrar cada vez mais em extinção. Entretanto, é incorreto afirmar que todas as empresas utilizam de recursos tecnológicos para conduzirem os seus processos seletivos.

Mesmo ainda não sendo uma realidade em 100% das empresas, vemos por tendência, que em um futuro próximo as empresas farão uso da tecnologia para garantir que o seu processo seletivo também forneça uma boa experiência ao candidato, tema também muito importante nos dias atuais.

Mentiras sobre R&S: Patricia Suzuki, Diretora de Gente & Gestão da Catho

Patricia Suzuki, Diretora de Gente & Gestão da Catho

Mito #3 – Nenhuma pergunta pessoal deve ser realizada

Ana: As perguntas pessoais ainda são feitas, mas de forma mais cautelosa e menos invasiva. As empresas faziam questionamentos que causavam desconforto ao serem compartilhadas. Hoje, nas entrevistas, questões pessoais são abordadas para entender contexto familiar, ambições, valores, o que motiva a pessoa.

O interesse é para compreensão de perfil, identificação de fit cultural com a empresa. Não é uma investigação em relação a temas que podem ser muito sensíveis, como religião. As pessoas devem trazer as informações que as deixem confortáveis em uma conversa.

Mito #4 – A IA não chegou para ficar no recrutamento

Hosana: A Inteligência Artificial já está revolucionando os processos seletivos de muitas maneiras, desde a triagem inicial de currículos até a entrevista virtual e a análise de dados para prever o sucesso no trabalho. Embora nem todos apreciem a presença de “robôs” nos processos seletivos, a tendência é que a IA continue a desempenhar um papel significativo na otimização e na eficiência dos processos de recrutamento.

A integração eficaz da IA pode beneficiar tanto as empresas quanto os candidatos, desde que seja implementada de maneira ética e equitativa.

Inteligencia artificial

Mito #5 – Ter tido pouco tempo em uma experiência anterior vai te prejudicar na seleção

Patricia: Geralmente, não há uma regra definida entre todas as empresas acerca desse tema. Considerar o tempo de permanência nas empresas é geralmente uma particularidade cultural de cada empresa. Em empresas mais jovens, startups por exemplo, esse aspecto costuma ser pouco considerado. Já em organizações mais tradicionais, esse pode sim ser um ponto de atenção no perfil do candidato. De todo modo, o que conta é a justificativa para tais movimentos curtos.

Mito #6 – As empresas estão no total controle do recrutamento

Ana: O controle não está 100% nas mãos das empresas. Os candidatos têm participado de processos também na expectativa de avaliar quem está do outro lado. Avaliar a empresa, o gestor, o projeto e então ver se a movimentação é interessante. O processo de recrutamento é uma avaliação de duas vias.

Mito #7 – O recrutamento é problema do RH. Só do RH!

Hosana: Embora a área de RH desempenhe um papel central no recrutamento, ele não é o único responsável por todo o processo. O recrutamento é uma responsabilidade compartilhada entre diversos departamentos e membros da equipe, incluindo gestores de contratação, líderes de equipe e até mesmo os próprios funcionários, que muitas vezes participam de indicações e recomendações. Uma abordagem colaborativa e multifuncional tende a ser mais eficaz na identificação e contratação dos melhores talentos para a organização.

Hosana Azevedo, Head de RH do Infojobs

Hosana Azevedo, Head de RH do Infojobs

Mito #8 – A tecnologia desumaniza o processo

Patricia: Ao contrário do que muitos pensam, a tecnologia não é vilã e não vem para substituir o papel dos ser humano no processo seletivo. Ela vem com o intuito de promover melhor alinhamento entre pessoas e oportunidades, além de otimizar a comunicação entre elas.

Os ganhos são inúmeros e podemos começar por uma facilidade maior de acessar as pessoas em locais diversos por meio da condução de entrevistas online, trabalho à distância, melhor gestão de candidatos com garantia de retorno do processo seletivo, redução de custos e encerramento das vagas de forma muito mais rápida.

Mito #9 – Ser chamado para a entrevista é quase uma garantia de vaga

Ana: Os candidatos sentem mais dificuldade de serem vistos no processo seletivo, pois existem milhares de candidaturas para as vagas, e quando ele consegue fazer uma entrevista, pode existir uma ansiedade na tentativa de fazer uma boa apresentação. O cenário ideal, portanto, é que o candidato vá preparado e faça a lição de casa antes de ir para uma entrevista.

Se ele tiver aderência tanto na questão técnica quanto comportamental, ele será aprovado pelo recrutador. Reveja o currículo, pense em suas contribuições, em seus principais projetos, pesquise sobre a empresa [para que isso aumente as chances de conseguir a vaga]. Só quem atende os requisitos exigidos que vai para a próxima etapa.

Mentiras no R&S: Ana Borges, Diretora Executiva da Michael Page

Ana Borges, Gerente Executiva da Michael Page

Mito #10 – Uma mentirinha ou outra no currículo está tudo bem

Ana: O principal, hoje, é o nível de idioma [quando falamos das mentiras no currículo]. Há muitos profissionais que colocam nível acima do conhecimento para conseguir fazer uma entrevista, mas na hora de uma conversa ou teste em inglês, esse candidato não vai passar. Tudo isso vai gerar expectativa do candidato e gerar uma perda de tempo dos dois lados, pois não haverá uma competência.

Não adianta contar uma história no currículo diferente do que acontece no dia a dia. Mesmo que isso passe pela entrevista, na rotina esse obstáculo será enfrentado. O currículo tem que ser fiel ao conhecimento, às passagens e aos projetos entregues.

Por Bruno Piai