Troca de comando, recuperação judicial, eventual falência, crise, mudança na estrutura do negócio, recálculo de rota. Qualquer uma dessas circunstâncias citadas tende a, naturalmente, balançar o ambiente de um negócio. E o impacto negativo pode ser potencializado quando, além de todas as incertezas envolvidas, as informações obtidas partem mais de fontes externas do que da própria gestão do negócio.

No dia 19 de janeiro, a Americanas, uma das gigantes do varejo no Brasil, entrou com um pedido de recuperação judicial, estratégia adotada para conseguir manter a operação e proteger o caixa, segundo comunicado da companhia. A medida, adotada após a descoberta de um rombo de R$ 40 bilhões nos balanços financeiros da empresa, levantou preocupação entre os seus funcionários, já impactados por toda a repercussão do caso na mídia e nas redes sociais.

De acordo com uma matéria do Estadão, publicada no final de janeiro, em um primeiro momento, a crise financeira não fez com que a rotina dos trabalhadores mudasse. Do mesmo modo, os salários não sofreram atraso. Todavia, a reportagem relata que o sentimento ficou dividido. Enquanto alguns funcionários seguiam tranquilos, outros trabalhavam com o receio de perder o emprego a qualquer momento.

Cultura de Feedback

Na última semana, a varejista efetuou o desligamento de profissionais terceirizados, após terminar contrato com empresas fornecedoras dos serviços. Em nota, a Americanas manifestou que não planeja abrir um processo de demissões em massa, fenômeno que, nos últimos meses, atingiu unicórnios e grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Google e Microsoft.

Outro caso, desta vez fora do Brasil – mas que impactou profissionais locais -, foi a mudança de gestão do Twitter. Ao assumir a plataforma, o empresário Elon Musk ordenou que milhares de colaboradores fossem demitidos. Alguns foram pegos de surpresa e o clima de desconfiança ganhou força entre os que permaneceram na organização, especialmente por conta das inesperadas mudanças promovidas pelo novo CEO, como a desmontagem de alguns setores inteiros.

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Transparência mesmo em momentos de crise

Segundo Ellen Rodrigues, profissional com experiência de 20 anos em Departamento Pessoal, Recrutamento & Seleção e Recursos Humanos, ter uma postura transparente deve ser um mantra das organizações independente de existir ou não um cenário de crise. A especialista pontua que a transparência é um dos elementos mais determinantes para que líderes, gestores e RHs consigam construir um ambiente minimamente propício para engajar pessoas.

“Ter segurança para trabalhar, por si só, já é complexo. Quando vemos grandes empresas promoverem demissões em massa ou entrarem em recuperação judicial, nos questionamos sobre o quão seguros estamos em nossos cargos. Afinal, por mais que desempenhemos bem, nem sempre sabemos como está o momento da empresa. Por isso a transparência é tão fundamental. E pior do que não saber de nada é acompanhar inúmeras notícias vindo de fora. O que é fato? O que é boato? Devo me preocupar? Empresas que não têm uma área de comunicação capaz de gerir tal situação tendem a fortalecer ambientes de incerteza, desconfiança, medo e frustração”, explica.

RH TopTalks 2023

Uma vez que é comprovado que a motivação e o engajamento dos colaboradores afetam e influenciam diretamente na produtividade e no desempenho do negócio, o cuidado a mais deve ser tomado. Para Igor Amieiro, fundador da Aquarium, agência especializada em gestão e construção de marcas, uma comunicação transparente não apenas traz confiança e engaja os empregados, como também fortalece a marca empregadora

“Os valores e princípios que o negócio apresenta para seus clientes devem ser seguidos e praticados também com seus funcionários. Caso contrário, não só a qualidade da operação é comprometida, como também concebe uma reputação negativa e desqualificada no mercado de trabalho”, esclarece. “Essa problemática pode levar a reflexões e questionamentos por parte dos funcionários sobre a confiança e comprometimento para com o negócio”, acrescenta o executivo.

Em meio a isso, Ellen pontua, também, o quanto é fundamental que as empresas tenham canais efetivos para sanar quaisquer desconfortos sentidos pelos colaboradores. Especialmente quando eles possuem acesso a informações que não foram oficialmente trazidas pela gestão interna.

“Se algum movimento em minha empresa gera polêmica ou repercussão, é claro que eu vou querer entender o que está acontecendo. E se as informações externas podem ser distorcidas, é papel dos gestores, do RH ou da comunicação interna colocar luz sobre as dúvidas existentes. Um canal aberto a saná-las só reforça o compromisso da companhia com o seu time”, finaliza.

Por Bruno Piai