De acordo com a pesquisa de 2023 da FGV ‘Como as empresas cuidam da saúde mental dos seus funcionários?‘, 45% dos respondentes (572 profissionais, de analistas a executivos de alto escalão) admitiram redução de horas ou ausência de jornada por causa de problemas com a saúde mental (absenteísmo).

No levantamento, 54% admitiram ter sofrido com algum transtorno de saúde mental e 63% disseram que não receberam apoio da liderança para lidar com a doença. Em relação às consequências, quase 60% disseram que se desligaram da empresa pelo mesmo motivo. Ainda na pesquisa, 56% dos profissionais revelaram conhecer pelo menos uma pessoa que se afastou do trabalho por problemas de saúde mental.

Segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em decorrência de transtornos mentais – muitos deles potencializados pelos anos da pandemia – mais de 209 mil pessoas foram afastadas do trabalho em 2022, 4,4% a mais do que no ano anterior.

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Para a psicóloga Patricia Ansarah, fundadora do Instituto Internacional em Segurança Psicológica (IISP)., as companhias devem olhar com séria atenção para o tema durante todos os períodos do ano, não tendo como foco somente meses que trazem campanhas como Janeiro Branco e Setembro Amarelo.

“Não basta fazer ações pontuais só em janeiro. É preciso que as organizações, os líderes, e todos os colaboradores fiquem atentos a essa questão o ano inteiro. Podemos apreciar as empresas que já fazem ações sobre cuidados com a saúde mental no Janeiro Branco, mas precisamos avaliar o quanto isso está dentro de uma estratégia de negócio.”

Patricia elucida que empresas que não derem a devida atenção à saúde mental dos colaboradores terão cada vez mais problemas acentuados de turnover, saúde, engajamento e clima organizacional. “Haverá maior ocorrência de questões ligadas a burnout, ansiedade e depressão”, observa.

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Ações para sair do papel

Para ajudar a identificar sinais de que a saúde mental dos colaboradores pode estar com problemas, a psicóloga tem algumas dicas:

– Prepare a liderança

Mesmo que a empresa tenha estruturas de apoio (psicólogos e programas de benefícios), elas só serão acionadas se a pessoa tomar a iniciativa. Mas é importante que as lideranças recebam treinamento para identificar comportamentos atípicos, pois o colaborador, muitas vezes, nem sabe o que está se passando com ele.

“Ao falar sobre cuidados com a saúde mental, vai-se alfabetizando a empresa a entender os sintomas. Não é para formar líderes e pessoas que diagnosticam, porque isso é papel dos especialistas da área da saúde, mas é possível preparar para perceber sintomas aparentes”, explica Patrícia.

– Estimule a conversa

A depressão, o burnout e o estresse podem ter várias causas, mas o resultado é basicamente o mesmo: queda de produtividade. Alguns sinais de alerta são a ausência social e o desinteresse por encontros corporativos em pessoas que, normalmente, participam de forma espontânea.

As empresas podem usar os indicadores a seu favor, acompanhando com atenção indicadores de performance e de comportamento, como o absenteísmo (faltas). Também é importante observar se há alteração de humor como aumento de irritabilidade, intolerância e queda do nível de colaboração”, exemplifica.

– Escuta ativa

Quando há uma boa relação entre o gestor e a equipe, a comunicação é favorecida e o colaborador se sente com abertura para compartilhar sua situação emocional, em vez de ir direto ao RH. O líder que se depara com essa situação precisa praticar escuta ativa e pensar em formas de ajudar.

“Isso só acontece se as pessoas se conhecerem entre si e se a própria pessoa se conhecer. É recomendado falar sobre o tema, educar as pessoas sobre emoções e doenças”, comenta a psicóloga.

– Flexibilize os horários, se for o caso

Dependendo da situação, o gestor pode estudar formas de adequar o horário de trabalho e o escopo do colaborador. Nesse período crítico, é possível incentivar a aproximação do colaborador afetado para que ele não se sinta isolado, um horário flexível ou período de home office.

Também é possível dividir projetos em tarefas menores, para que cada etapa concluída seja processada no cérebro como uma recompensa. Mas tudo vai depender do diagnóstico de cuidados que a pessoa necessita, frisa a especialista.

Colunas:
– Estudo ‘Inteligência Emocional e saúde mental no ambiente de trabalho’: desafios do RH
Controle emocional

Uma boa saúde mental é essencial para a vida das pessoas e para o ambiente corporativo, segundo a especialista.

Cuidar da saúde mental dá resultado. Quando existem pessoas em organizações que cuidam disso efetivamente e colocam os indicadores de saúde como indicadores de desempenho para os líderes e para o negócio como um todo, estamos cuidando de ter pessoas mais produtivas, engajadas e colaborativas. Em um ambiente onde as pessoas são mais ativas, o aprendizado acontece e aumenta o nível de desempenho e realização pessoal.”

Por Redação