Mensalmente temos a oportunidade de nos encontrar por aqui. O Objetivo desse encontro é que tenhamos a oportunidade de refletir colocando dois pilares em paralelo, no intuito de ampliar nossa capacidade de lidar com o mundo. Um pilar trata da sua experiência, absolutamente singular, subjetiva, inteiramente sua. O Segundo pilar diz respeito ao conhecimento, oriundo de estudos e experiências de outras pessoas. Desta forma, temos condições de confrontar verdades relativas no intuito de construir um novo e possível entendimento sobre aquilo que nos cerca.

Se nos atermos apenas à nossa experiência teremos uma fração da realidade, enviesada, particular, única e verdadeira para si mesmo. Contudo, ficar somente com a própria experiência leva ao risco de não se conseguir evoluir como profissional e ser humano. Por isso, o segundo pilar, que posso lhe oferecer aqui, tem a função de lhe emprestar uma nova fração da mesma realidade para que este confronto positivo possa acontecer.

A vantagem de podermos fazer isso é acessar novas fontes e recursos que nos permitem avaliar nossa própria experiência em prol de uma evolução pessoal. Assim sendo, é também muito importante que sua experiência seja partilhada conosco, aqui mesmo no portal RH Pra Você, lá no campo de comentários, ou nas redes sociais. Que não fiquemos presos ao “seu” nem ao “meu” e sim que tenhamos algo que venha do nós, para que o seu conhecimento faça a minha experiência maior e o meu conhecimento faça sua experiência maior.

Com isso em mente, convido-lhe a fazer uma reflexão, que para tanto lanço mão de um conhecimento de outro, encontrado no livro “Aprender a Viver”, editora Objetiva, do filósofo Francês, Luc Ferrry, nascido em Paris em 1951, portanto um contemporâneo.

Diz Luc na página 197: “Daí também, entre os cidadãos, até mesmo os menos apaixonados pela história das ideias, o sentimento de dúvida. Pela primeira vez na história da vida, uma espécie viva detém os meios de destruir todo o planeta; e essa espécie não sabe para onde vai! Seus poderes de transformação e, eventualmente, de destruição do mundo são, a partir de agora, gigantescos, mas como um gigante que tivesse cérebro de um recém-nascido, eles estão totalmente dissociados de uma reflexão sobre a sabedoria (…)”

Ferry, faz de forma clara, uma viagem dentro de uma fração da filosofia, trazendo desde os Estoicos passando por Rosseau, Sartre, Kant, Nietzsche, Descartes, Heidegger dentre outros, mostrando um processo, que em suma, retira da naturalidade, do cosmos a “magia” para nos atermos, em tempos atuais, ao tecnicismo de forma a fazer emergir “…um mundo onde o progresso se tornou um processo automático e sem finalidade, uma espécie de mecânica autossuficiente da qual os homens são totalmente desapossados. E é justamente esse desaparecimento dos fins em benefício apenas da lógica dos meios que constitui a vitória da técnica como tal.” (Pág 196).

Temos, como seres humanos, o benefício da razão, aquela que nos permite ir contra nossa própria natureza, almejarmos sonhos, termos desejos, ir além de nossos instintos primários, embora ainda sejamos sujeitos a eles em muitas ocasiões. Temos o beneficio da escolha, contudo não nos abstemos de suas consequências. Estas se fazem presentes de acordo com os caminhos que, como sociedade, decidimos trilhar.

O Tema da Saúde Mental, olha só você, justamente essa tão poderosa mente, que se fez técnica e científica ao extremo, que decidiu pelos caminhos em que estamos hoje, é também sujeita às consequências de tais escolhas. Aquela que escolheu adoeceu pelas escolhas que fez. Assim emerge, como um suspiro daquele que quase se afoga, o tema do propósito, que curiosamente remete aos antigos da filosofia, no sentido de trazer significado transcendente, isso é, algo que vai além do simples fazer, do simples existir.

Nossa doença mental clama por algo além da carne e da conquista, clama por alma, por fazer sentido existir. Estamos imersos em um mundo que se fez  mecânico e retirou a alma de quase tudo e agora, nadando neste mar frio buscamos o calor do sol! Mas, não o sol da ciência pura, que o faz apenas uma estrela e sim do sol em sua forma metafórica, em sua forma significativa, simbólica, que possa representar um destino elevado e que justifique a nossa breve passagem por esse planeta.

Aqui retomo o necessário confronto entre os dois pilares que mencionei ao inicio dessa nossa conversa, o da experiência própria e do conhecimento de outro. O que nossa alma pede necessita deste embate produtivo, em que nos permitimos beber de fontes diversas para avaliar se realmente o caminho que estamos trilhando faz, na vida individual, algum sentido para a vida coletiva.

Por isso desse meu empenho, quase que missionário, na divulgação do conceito de se viver uma vida integrada. Essa não trata apenas de conseguirmos equilibrar vida pessoal e profissional, e sim nos equilibrarmos como espécie, que com tanto poder, como diz Ferry, pode ainda interessar-se por escolher, se buscar a sabedoria para tanto, caminhos que sejam saudáveis.

Há sinais desse interesse, vide o pacto global, a agenda ESG (ASG em português: Ambiental, Social e Governança). A intenção é boa, assim como aquela que sustenta a ideia de se ter propósito, mas se usarmos tais ideias e intenções ainda fechados na visão tecnicista e mecânica do mundo, transformamos estas iniciativas em meios, novamente, para manter o status quo já adotado e por fim, nos tornaremos reféns, mais uma vez, destas mesmas escolhas adoecendo nossa mente de forma que atendimentos psicológicos, meditações e toda sorte de meios para sanar estes problemas não mais darão conta, pois a raiz do problema não foi cortada.

Se você concorda com esta visão que brevemente apresentei aqui, divulgue, partilhe, critique, construa, faça algo em prol de si mesmo, visando o bem comum, assumindo como a natureza nos mostra, uma atitude simbiótica e não parasitária, pois nesta última alternativa morreremos com nosso hospedeiro, a mãe Terra.

Sucesso em sua jornada, em nossa jornada.

Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.