Em 17 de novembro é comemorado o dia da criatividade. Ou seria 21 de abril? Vendo essas duas datas pensei em uma resposta criativa e conclui: é uma data tão importante para a humanidade que foram necessários dois dias para sua celebração?

A criatividade é a habilidade humana, alinhada a outras capacidades como a intuição e a inteligência que fez com que o homem aprendesse a sobreviver e a evoluir ao longo dos milhares de anos, eclodindo agora, nos últimos anos, em um vertiginoso avanço tecnológico em suas mais variadas manifestações.

Participei de uma escola de criatividade chamada ILACE, Instituto Latino-Americano de Criatividade e Estratégia criado e conduzido por José Leão de Carvalho, um intelectual e visionário. Ele a trouxe ao Brasil, remanescente da metodologia do processo criativo que emergiu a partir da Creative Education Fundation, sediada em Buffalo, NY, abrindo fronteiras para o pensar, ampliando o próprio conceito sobre a criatividade. Infelizmente esse Instituto deixou de existir com o falecimento desse querido amigo.

Foi um convívio repleto de conhecimentos, experiências e dinâmicas revolucionárias do processo de pensar. Conforme seu legado, ainda quando estava entre nós, disse certa vez que durante milênios prestigiou-se o pensamento, e quase não se pensou nos processos do pensar.

O pensar criativo é matéria que pode ser desenvolvida, aprendida e ampliada e convencionou-se a partir da cultura norte americana que um produto criativo deve conter alguns atributos: originalidade, inovação, utilidade e relevância. No entanto, a partir do pensamento criativo propagado pelo ILACE, os ingredientes mais ostensivos do pensar criativo são o conhecimento, a imaginação e a avaliação, mas o principal diferencial que qualifica tais ingredientes são as atitudes, desmistificando, então, o milenar conceito de que ser criativo é um dom.

Mais do que nunca a criatividade passa a ser um recurso de sobrevivência em um mundo repleto de mudanças e incertezas, dinâmico e desafiador e o processo criativo é, em última instância, brincar com as ideias e duvidar dos padrões pré-estabelecidos, levando em consideração a realidade e esse jogo da mente significa também questionar, zombar, duvidar e questionar tudo que esteja sendo considerado definitivo.

A partir dessas experiências com o ILACE e outras advindas das próprias tentativas de erros e acertos, aliadas a outras fontes, apresento alguns recursos que poderão ser úteis a todos que percebem que o fluir das realizações e dos comportamentos exigem novas formas de pensar.

Estamos saindo de uma pandemia, cujo teor principal foi mais a efervescência da informação e desinformação, em especial no nosso país em uma mescla de vieses políticos, jogos de interesse veículos de comunicação submetidos a pautas interesseiras, além de acentuada violência, corrupção velada, mas ainda existente.

Tudo tende a se modificar com o advento da robótica, internet das coisas e inteligência artificial, produzindo mudanças avassaladoras no mundo empresarial, nos sistemas de trabalho e emprego atuais.  E na vida como um todo nos seus mais diversos modos de expressão. Um exemplo é uma pesquisa feita nos Estados Unidos por Carl Free e Michaer Osbourne, apontando que em torno de 47 % dos empregos atuais serão realizados por máquinas inteligentes. O avanço da tecnologia mudará grande parte das profissões como as conhecemos e exigirá novas qualificações para os futuros trabalhadores.

Aí é que entram as ferramentas e recursos criativos para aprendermos a lidar com esses novos desafios.

Um dos recursos que poderá ser adotado é a ginástica do poder criativo – Divergência e Convergência – que consiste na maior quantidade de possibilidades levantadas e que tende a gerar o encontro das opções úteis que buscamos. A qualidade é importante, mas a quantidade é que poderá trazer as melhores opções. Para seu entendimento, já foram listadas mais de 150 técnicas de ideação, destacando-se:

  • Analogias e Metáforas
  • Associações forçadas
  • Brainstorming
  • Brainwriting Pool
  • Checklists
  • Confrontação Visual
  • Inversão de Premissas
  • SCAMPER

Quero destacar essa última, o SCAMPER como recurso, pois trata-se de um acróstico de verbos que estimulam a multiplicação de opções. Significa:

S – Substituir – O jogo consiste em substituir o que está sendo levantado por outro material, outra ideia, outro processo, outra pessoa, outra abordagem, outro caminho

C – Combinar – Seria a mistura de aplicações, fusões, ligas, juntar ideias

A – Adaptar – Será que existe algo semelhante que poderá ser aproveitado? Algo do passado que poderá ser melhorado? Quais outras ideias isso sugere?

M – Modificar – Estuda-se aí o que pode ser ampliado ou reduzido, com maior ou menor força, frequência, dimensões diferentes. O que pode ser ampliado ou reduzido? Quais outras opções?

P – Propor outros usos – Significa analisar novas possibilidades de aplicações, novas maneiras de usar.

E – Eliminar – Em se eliminando parte do problema ou subdividindo-o, surgem outras ideias? Eliminando parte de uma ideia, surgem outras?

R – Reverter – Qual seria o pensamento oposto? Transpor o negativo para o positivo? Virar para trás? Trocar componentes? Outra sequência?

Sobre pensamento atitudinal, chamado Sistema RCD, ou seja, Resolução Criatégica de Desafios, creditada a Sidney Parnes, ao meu ver, extraordinária pela simplicidade e visão geral de um processo ou desafio a ser atingido. Consiste em vários passos que podem ser utilizados em qualquer campo de intervenção humana e tem um caráter sistêmico, gerando inúmeras alternativas no próprio desenvolvimento da metodologia. Tais passos são, resumidamente:

O.F.P.I.S.A., que passo a detalhar:

  • Desafio, ou seja, o que é pretendido
  • Objetivo – Encontrar a maneira de interpretar o objetivo
  • Fatos – Dimensão da realidade, com fatos positivos e negativos
  • Problema – Diagnóstico tático, de outro modo, o que está impedindo o objetivo de ser                     atingido?
  • Ideias – Fase de geração de respostas ao enunciado do problema.
  • Solução – Transforma as ideias em recursos para construir a solução para o problema
  • Ações – É a fase de implementação da solução escolhida.

Chamo a atenção para a importância do foco. Focar na linguagem cotidiana significa ficar atento ao que está acontecendo ao redor.

Um pequeno exercício

Quantas letras “dê” existem no parágrafo abaixo?

“A necessidade de desenvolver a habilidade dos trabalhadores rurais para um desempenho adequado no manejo de rebanhos na fazenda é prioridade na mente dos fazendeiros. Desde que os pioneiros da pecuária se dedicaram ao treinamento de trabalhadores rurais para um desempenho adequado no manejo de rebanhos na fazenda, os fazendeiros dizem que deve ser mantida a tradição familiar de treinar trabalhadores rurais para um desempenho adequado no manejo de rebanhos na fazenda, dado que acreditam ser ela, o fundamento da boa administração agrícola”.

Total de letras dê:_____

Você deve ter encontrado 47 dês. Se achou menos é porque esqueceu de contar as preposições de, dos, das. Nesse caso, estará pensando: “Mas claro, estavam diante dos meus olhos o tempo todo”. (Extraído do livro Thinker Toys – Manual de criatividade em negócios de Michael Michalko).

Tudo isso para dizer que, ao fazermos tudo do mesmo jeito sempre, colocando as coisas sempre nos mesmos lugares, tudo bem empacotado, passamos a ser vítimas do hábito, gerador de dificuldades de resolver problemas. Apresento ao final algumas sugestões para fazer mudanças em seu comportamento cotidiano. Sugiro que relacione tudo que faz sem pensar e proponho, só por exercício, que experimente mudá-los conscientemente por um dia, uma semana ou um mês.

  • Experimente fazer outros caminhos para ir ao trabalho ou quando vai a algum lugar constantemente;
  • Mude sua hora de dormir;
  • Leia livros, assista a filmes, brinque com crianças, converse mais com pessoas diferentes, caso não faça isso com frequência;
  • Faça algo novo, por exemplo uma comida, um doce, um alimento diferente;
  • Faça esportes novos, mude sua rotina, seus horários, converse pessoas que nunca havia contatado antes.

Sua lista pode ser imensa e o exercício é experimentar fazer diferente. O mundo atual está exigindo isso de todos nós, forçando essas mudanças, mas se você estiver habituado a mudar, (usando aqui um paradoxo, criando um novo hábito), nada te surpreenderá e sua vida ficará mais fácil daqui para a frente.

Por que comemorar o dia da criatividade é importante?

Principalmente para lembrar e celebrar o fato de sermos possuidores de um grande potencial criativo e, assim sendo, basta deixar fluir, aprender algumas técnicas e exercitar, criando assim coisas diferentes. Há os pintores, poetas, escritores que utilizam toda a sua criatividade nas suas obras, e podemos estendê-las para todos os segmentos da nossa roda da vida: relacionamentos, vida profissional, familiar, financeira, social e com nosso cônjuge.

Mais do que tudo, sugiro que use sua criatividade para fazer outras pessoas felizes, sendo, como consequência, também uma pessoa cada vez mais feliz.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.