35 dias em um veleiro: anywhere office me possibilitou viver um sonho, sem abandonar minha empresa.
“Andréa, você está em uma cadeira de balanço?”
Essa foi a pergunta que me fizeram em uma das diversas reuniões online que realizei em um dia qualquer de trabalho, em setembro de 2023. O questionamento tinha como base o movimento que meu corpo fazia, para frente e para trás, enquanto o fundo virtual que usava não se movia.
O que a pessoa que fez a pergunta não sabia, entretanto, é que enquanto realizava a reunião eu estava em pleno Mar Mediterrâneo, a bordo de um veleiro. E que estávamos a dois dias de distância de qualquer pedaço de terra, literalmente no meio do mar, e por isso o vento forte balançava toda a embarcação, dando a impressão de que minha cadeira era de balanço.
Velejar é algo que sempre fiz, e sempre adorei. E como qualquer pessoa com essa paixão, eu tinha o sonho de dar a volta ao mundo, ou pelo menos em um pedaço dele, velejando. Porém, até pouco tempo atrás, esse era um desejo incompatível com a vida de qualquer pessoa que tenha um emprego — e ainda mais com a de quem comanda uma empresa.
E quando digo pouco tempo atrás é pouco mesmo — e não 30 ou 50 anos atrás. Há menos de 1 ano, por exemplo, não era possível contratar um plano de internet para embarcações com tantos benefícios e com valores tão acessíveis como hoje. E há pouco mais de 4 anos, antes da pandemia, era inimaginável modelos de trabalho remotos que funcionassem tão bem — além de que ninguém tinha ouvido falar de anywhere office.
As recentes mudanças tecnológicas e comportamentais me permitiram comandar a minha startup, fazer reuniões, negociar com clientes, gerenciar minha equipe e seguir com a minha rotina de trabalho basicamente inalterada.
Muitas das pessoas que falaram comigo enquanto eu estava na pontinha da bota da Itália, e decidia se seguia para Malta ou para a Grécia, nunca sequer souberam que eu não estava em meu Home Office, em São Paulo, ou no Cubo Itaú, onde fica nossa base física.
Com quase 300 GB de velocidade de internet —- verificados naqueles sites que fazem a medição – naquele mesmo dia da ventania, o anywhere office me fez ter a certeza que a escolha dele como modelo de trabalho na Workhub é mais que possível: é viável e produtivo.
Passei 35 dias mostrando para as novas gerações – da minha filha de 21 anos e do meu sobrinho de 19 – que já existe uma nova forma de se relacionar com as obrigações. Trabalho é algo sério? Sim, claro, mas não precisa ser chato! É possível, e preciso, trabalhar de forma saudável, realizar sonhos e seguir sendo competente.
Mas, antes de acabar esse texto acredito que você possa estar se perguntando: “se você tem certeza que o anywhere office funciona, porque não contou para todo mundo que estava ali, a bordo de um veleiro no Mar Mediterrâneo, ou deixou de usar um fundo virtual?”
Bem, eu acho que esse dia vai chegar, mas o nosso mundo ainda está se preparando para entender que dá para trabalhar de qualquer lugar, ou, aproveitando o ensejo, dá para “tocar o barco” de um veleiro.
Do ponto de vista prático, as pessoas sabem que dá. Isto é, há tecnologia suficiente para o modelo anywhere office e minha experiência foi só mais uma prova disso. A maior barreira – como sempre – é cultural: muita gente ainda acha que se o trabalho não é no escritório ele não é “sério o suficiente”.
Como se o comprometimento profissional fosse condicionado ao modelo presencial. Isso não é verdade. Quem nunca conheceu uma pessoa que só enrolava no escritório?
O fato é que ainda persiste o equívoco de que diversão e trabalho são antagônicos, quando na verdade a qualidade de vida pode servir como combustível para criatividade, performance e retenção de talentos.
O anywhere office é para todo tipo de profissional e empresa? Claro que não, mas nenhum modelo é para todo mundo. Posto isso, a ideia de que “se você está se divertindo, não está trabalhando” é completamente falsa.
Eu gosto muito de uma passagem que do livro do Ricardo Semler, “Virando a própria mesa” que li há muitos anos!, mas que até hoje faz muito sentido. Ele dizia algo assim:
“As pessoas não têm nenhum problema em faltar ao almoço de domingo com a família porque precisam preparar um relatório para entregar segunda-feira no trabalho. Isso é até visto com certo glamour pela família! Mas essa mesma pessoa é incapaz de ir ao cinema numa terça feira à tarde, mesmo que depois ela vá voltar para o trabalho”.
Por fim, para mim, o anywhere office é uma realidade e uma alternativa inteligentíssima de atração e retenção de excelentes talentos, o que não quer dizer que não existam excelentes talentos cuja preferência é o modelo presencial.
No fim, a premissa da discussão está errada: não se trata do melhor modelo de trabalho, e sim do fit cultural, do perfil do colaborador, da empresa, e, sobretudo, do modelo de liderança proposto. É possível, sim, se divertir e trabalhar.
Por Andréa Migliori, CEO da Workhub, HRTech de soluções para portais corporativos, pioneira no segmento a incorporar inteligência artificial aos seus serviços.
Ouça o episódio 154, “Quais os sentimentos de quem voltou ao trabalho presencial?“. Quais os sentimentos de quem voltou ao trabalho presencial? Para buscar algumas respostas, o RH Pra Você e o Infojobs ouviram mais de mil profissionais que nos ajudaram a traçar um panorama dessa retomada. Para se ter uma ideia, a maior parte deles (58,3%) diz que se sente menos produtiva ao final de um dia de trabalho presencial. Além disso, 64,4% dos entrevistados dizem sentir que a qualidade de vida piorou ao voltar para o modelo presencial. Neste episódio, conversamos com Ana Paula Prado, CEO do Infojobs, sobre as principais descobertas da pesquisa, a preparação da liderança, papel do RH e muito mais. Acompanhe!
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