O modo de viver, de se relacionar e de produzir virou de ponta cabeça com a globalização, o avanço da tecnologia, novas políticas de comércio internacional e a revolução digital.

Atualmente, o trabalho é fundamentado na criatividade, liberdade de escolha e autonomia. O acesso ao aprendizado está na ponta dos dedos, sem barreiras geográficas ou físicas, possibilitando que todos possam se profissionalizar no que gostam e, consequentemente, sejam mais felizes.

Performance: para além de fazer bem e fazer mais

É claro que há um porém. Se o objetivo profissional está atrelado à liberdade, a obediência deixa de ser requisito para o sucesso. O que leva adiante, então, é a performance. Quem faz bem e faz mais, vence a corrida. Nessa cultura dos corres, cada indivíduo é responsável pelo próprio desempenho e eficiência.

Sob esse manto de positividade, está a realidade — o avanço do capitalismo trouxe consigo uma cultura que naturaliza a cobrança excessiva por produtividade, alta performance e resultados rápidos.

O resultado é uma pandemia da exaustão, na qual a sensação de que nem uma noite bem dormida é suficiente para restaurar a motivação e a disposição é normalizada. Esta é a definição de sociedade do cansaço, termo cunhado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

Sociedade do cansaço: conceito e obra

De acordo com o autor, a exaustão extrema favorece o surgimento de diversas patologias, como a hiperatividade, o déficit de atenção, o transtorno de personalidade borderline, a ansiedade, a melancolia, a depressão e a síndrome de burnout.

Isso porque, em resumo, nos cobramos cada vez mais para fazer o impossível. Não é preciso ter um “chefe malvado” para cobrar resultados, pois já fazemos isso por conta própria.

Nos tornamos vigilantes e carrascos de nossas próprias ações — e, também, cada vez mais cansados desta corrida sem linha de chegada aparente.

Exaustão geracional

Alguns já entenderam isso — não é à toa que os millenials receberam o apelido de “geração cansada”. A geração Y (1981 até 1996) iniciou o diálogo sobre a necessidade de ter mais flexibilidade e bem-estar no trabalho, o que, em parte, contribui para a positividade tóxica da sociedade do cansaço.

Contudo, em matéria para o New York Times, a jornalista Emma Goldberg destacou uma mudança geracional na cultura profissional: enquanto millennials se contentam em reclamar das segundas-feiras, a geração Z (1997 a 2009) é mais confiante e assertiva ao demandar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.

Aqueles que estão nos seus 20 e tantos anos estão na liderança por uma mudança pragmática nas relações de trabalho — lentamente, a geração Z transforma o que hoje é um “diferencial” de algumas empresas em uma norma.

É preciso chegar ao limite para atingir o sucesso?

A cultura dos corres reforça a ideia de que o esgotamento é inerente ao sucesso, mas já passou da hora de parar.

Quem corre o tempo todo, uma hora cansa — e a vida não precisa ser uma maratona. Correndo, andando, pulando… a linha de chegada é a mesma e todos chegaremos lá em algum momento.

Quando ele chegar, você prefere estar exausto ou feliz?

Sociedade do cansaço: por que a cultura dos “corres” é uma mentira

Por Carla Lubisco, especialista em mudança de hábitos, escritora, Leadership Innovation pelo MIT Professional Education 2021 e pós-graduanda em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfullness pela PUCPR.

 

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