O quanto da síndrome da impostora tem o dedo do machismo estrutural?
Nos treinamentos que realizo, volta e meia escuto mulheres relatarem que não se sentem “adequadas” para o cargo que ocupam ou ainda não se sentem suficientemente boas em suas funções. Com isso, vem o rótulo de que estão sofrendo com a “síndrome da impostora”, uma crença na insuficiência e na falsidade intelectual descrita pela primeira vez por psicólogos em 1978.
No cerne da síndrome da impostora, o que existe é uma desconexão entre a autopercepção de uma pessoa e a realidade à sua volta. Embora possua habilidades, experiência, diplomas e tenha um histórico de realizações, sente dificuldade em atribuir seu sucesso à sua competência.
Hoje, os cientistas estimam que cerca de 82% das pessoas enfrentam esse problema, o que pode incluir a sensação de ter enganado os outros fazendo-os acreditar que são mais inteligentes e capazes do que realmente são.
Mas atenção, isso é uma total inversão de valores. Com este comportamento, acabamos assumindo o papel de culpadas, quando na realidade somos vítimas, fruto de um sistema patriarcal enraizado que se revela ainda mais opressor no ambiente de trabalho.
Desde criança à vida adulta, o machismo estrutural atravessa a vida das mulheres: quando somos ensinadas que ciência é coisa de menino, quando desacreditam da nossa capacidade no ambiente de trabalho, quando não somos ouvidas, quando somos constantemente interrompidas, quando creditam nossas ideias a outros colegas profissionais homens, quando somos desvalorizadas e não reconhecidas pelo nosso talento e competência, quando somos invisibilizadas e preteridas à assumir uma posição de liderança… A fila é longa.
O relatório 2021 Women in Tech da TrustRadius descobriu que as mulheres enfrentam questões adicionais à promoção, incluindo a falta de planos de carreira claros, coaching e mentores em suas empresas.
Na área de tecnologia, por exemplo, 39% citaram o preconceito de gênero como uma barreira à promoção; 26% relataram que a desigualdade ficava muito clara nas salas de reunião, onde havia a proporção de cinco homens para uma mulher, reforçando o preconceito de gênero institucionalizado na cultura da empresa.
Considerando que, nós, mulheres, efetivamente, controlamos cerca de US$ 31,8 trilhões em gastos anuais de consumo, e com esse número aumentando à medida que mais mulheres entram na força de trabalho globalmente, a necessidade de uma liderança feminina é ainda mais urgente.
Pelo menos, há empresas atentas para esse cenário. Segundo pesquisa da ManpowerGroup, 80% das companhias do mundo todo definiram metas para o aumento de mulheres em cargos de liderança para os anos de 2022 e 2023.
Mas definitivamente devemos deixar o discurso das metas e passar para a efetiva inclusão.
Somente assim podemos garantir a prosperidade e a sustentação de programas, políticas e processos pautados pela efetiva equidade de gênero. As empresas estão comprometidas com essa mudança?
Por Carine Roos, CEO e fundadora da Newa Consultoria empresa de impacto social que prepara organizações para serem inclusivas por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. Ela é especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos.
Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 44, “Os desafios da diversidade nas empresas” com Mara Turolla, Gerente de Desenvolvimento de Talentos e Diversidade da LHH. Clique diretamente no app abaixo:
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