A frustração educacional dos jovens pode estar impactando o mercado de trabalho brasileiro. A frase “bai lan” (tradução livre: deixar apodrecer) foi forjada e difundida na China, mas pode ter sua origem na liga de basquete americana (NBA). Alguns times optam por perder partidas deliberadamente em determinadas situações.

Isso ocorre quando um jogo é considerado perdido ou quando a equipe quer escolher o cruzamento com times mais fracos em etapas posteriores do campeonato. Obviamente, essa não é uma postura ética.

O termo traduz o estado de espírito dos jovens chineses que estão preferindo não se esforçar mais na vida profissional, simplesmente porque perderam a esperança de um futuro com um propósito que faça valer a pena qualquer sacrifício no presente.

Trata-se de um estado de depressão coletiva, no qual uma parcela significativa dos jovens sente-se perdida e sem referências culturais, sociais e espirituais.

Em outras palavras, na falta de perspectivas relacionadas à vida pessoal e profissional, uma parte dos jovens chineses prefere ficar “apodrecendo” em casa, adotando uma mentalidade preguiçosa. Esse comportamento tem preocupado as mais altas autoridades daquele país, inclusive o presidente Xi Jinping, pois a cultura “bai lan” pode afetar de forma decisiva o futuro da economia chinesa.

No 100º aniversário da Liga da Juventude Comunista da China, em maio de 2022, Xi Jinping convocou os jovens a oferecer sua energia e criatividade à causa do rejuvenescimento e não se deixar intimidar pelas dificuldades.

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A tal juventude “bai lan” busca um estilo de vida que exija o menor esforço possível para viver, sem valorizar virtudes como a resiliência e a perseverança. Isso é preocupante, pois trata-se da busca por uma vida medíocre, baseada na premissa de que viver é necessariamente um tormento. São jovens que vivem na desesperança de um mundo que, para eles, parece não oferecer oportunidades suficientes para viver uma vida feliz.

A cultura “bai lan” é um movimento de fuga da competitividade imposta pelo mercado de trabalho e pela própria vida. Na prática, é desistir antes mesmo de tentar.

Alguns autores sugerem que tal movimento foi potencializado pela pandemia, mas ele não surgiu a partir dela. Trata-se de um processo cultural multifatorial que vem se desenvolvendo no mercado de trabalho contemporâneo. As causas que projetam o movimento “bai lan” parecem se originar a partir das mudanças sócio-geracionais ocorridas nas últimas duas décadas.

A grande questão é: a cultura “bai lan” já chegou ao Brasil?

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo país com o maior número de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não trabalham e não estudam. Esse grupo foi apelidado de “nem-nem” – você provavelmente já deve ter ouvido esse apelido “carinhoso”.

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Aproximadamente 36% da população de jovens brasileiros está sem ocupação. Apesar de todas as diferenças culturais entre o Brasil e a China, essa população forma um grupo com características muito próximas ao “bai lan”. Em ambos os casos, os jovens estão desmotivados e enfrentam grandes dificuldades para se inserir no mercado de trabalho.

No Brasil, no entanto, alguns fatores sociais contribuem para a formação da mentalidade “nem-nem” (o “bai lan” brasileiro). Dentre eles, podemos citar a desestruturação das relações familiares, o alto índice de gravidez indesejada entre os jovens, a baixa qualidade dos serviços educacionais e a redução da influência cultural das religiões no seio social.

De todas as possíveis causas do “bai lan” brasileiro, destaco uma: a baixa qualidade dos serviços educacionais. Esta é a mais perversa para os jovens. Muitos se formam com a ilusão de que estão preparados para o mercado de trabalho, quando, de fato, em grande parte dos casos, eles sofreram um estelionato educacional.

Além disso, temos um déficit gigante de vagas para cursos profissionalizantes e muitas vagas ociosas no ensino superior. Para piorar, grande parte dos nossos cursos de graduação não prepara efetivamente os jovens para o mercado de trabalho.

Assim, logo após concluir o ensino superior, muitos descobrem, da pior forma, que não há emprego para aquele tipo de formação. Existe um abismo enorme entre o que o mercado de trabalho precisa e o que é ensinado em nossas universidades.

A falta de vagas e de estímulo para que os jovens optem pelo ensino profissionalizante também atrapalha muito a entrada no mercado de trabalho. Os cursos profissionalizantes são mais baratos, mais rápidos e trazem conhecimentos técnicos de ordem prática, colocando os jovens mais facilmente no mercado de trabalho. Em países desenvolvidos, como a Alemanha, cerca de metade dos adolescentes seguem o ensino profissionalizante.

Se quisermos evitar o aumento da cultura “bai lan” no Brasil e as consequências econômicas e sociais desse tipo de movimento, precisamos urgentemente mudar o nosso modelo educacional, em que o ensino superior está desfocado da realidade do mercado de trabalho e no qual o ensino profissionalizante é relegado a um papel secundário em nossa estrutura educacional.

Será que o “bai lan” chegou ao Brasil?

Por Fabrício Garcia, sócio-fundador da plataforma Qstione, um dos mais importantes sistemas de gestão de avaliações de estudantes do Brasil. Atualmente coordena a implantação de sistemas de avaliação em todo Brasil. É palestrante nas áreas de neurolinguística, EaD e especialista em sistemas de avaliação de estudantes, além de possuir larga experiência em produção de conteúdos educacionais para internet. Com mestrado pela Universidade Federal da Paraíba (2007), atuou como professor e também foi coordenador do Núcleo de Educação a Distância da FACENE/FAMENE, Coordenador Acadêmico do curso de Medicina e Coordenador do Curso de Farmácia neste período.

Ouça o episódio 145 do RH Pra Você Cast, “O que é preciso para construir times de alta performance?“. Como desenvolver lideranças e equipes de alta performance? Por mais que muitos tentem buscar uma “receita de bolo” para responder tal questão com facilidade – e, tão facilmente quanto, levar à execução -, o fato é que só há um caminho para que o sucesso guie a missão: treinar, treinar e treinar. Seja para líderes e liderados, a capacitação é fator determinante para a construção de times que alcançam os melhores resultados e, consequentemente, potencializam suas carreiras e a competitividade das organizações. Porém, mesmo a capacitação precisa ser estratégica. O olhar das empresas deve ser assertivo, humanizado e focado a treinamentos que, efetivamente, fazem a diferença. Eis, no entanto, que outra pergunta se manifesta: como tornar o desenvolvimento de pessoas estratégico para que as equipes de alta performance existam? Isso quem responde é uma dupla que entende – e muito – do assunto. O RH Pra Você Cast recebe Giovane Gávio, bicampeão olímpico de vôlei, palestrante e gestor de projetos esportivos, e também Sergio Agudo, Country Director da GoodHabitz. Confira clicando no app abaixo:

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