O luto e a urgência de as empresas focarem na saúde mental dos colaboradores

Nos últimos dois anos, devido à pandemia de Covid-19, a perda de pessoas queridas e os processos de luto estiveram mais presentes nas nossas vidas. Quantas pessoas próximas você conhece que perdeu alguém?

O modo como cada pessoa vivencia o luto e a sua intensidade estão diretamente ligados à relação de cada indivíduo com a finitude e à proximidade com quem partiu. Quão mais natural for esse processo, maior será a aceitação da perda do ente querido.

O dia 19 de junho foi marcado pelo Dia Nacional do Luto. Mais do que nunca, a data chama a atenção para a necessidade de as organizações cuidarem da saúde de seus colaboradores, especialmente a mental.

Nesse contexto, precisam ir além do afastamento temporário previsto na legislação trabalhista, que é de apenas dois dias consecutivos pela morte de cônjuge, ascendente, descendente, irmão ou dependente; e humanizar cada necessidade.

Quem define em quanto tempo o colaborador estará bem para voltar ao trabalho?

De que forma o empregador pode contribuir nesse momento delicado?

Qual o papel e como sensibilizar as lideranças com ferramentas de cuidado integrado abrangendo saúde física, mental e social, diante de alguém em luto?


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Há diferentes estratégias possíveis e a primeira é oferecer escuta real e ativa. É fundamental dar atenção e reconhecer, nesse momento de vulnerabilidade, como cada colaborador enlutado vivencia a dor e definir, em comum acordo, o tempo que cada um precisa para retornar às atividades.

É papel dos gestores informar a perda sofrida por alguém da equipe e orientar para o acolhimento desse colaborador no seu retorno, com espaço e respeito para que ele possa demonstrar seus sentimentos.

A organização pode, ainda, promover programas de acolhimento com palestras e grupos de apoio ao luto com extensão à família, que podem se tornar, além de um espaço de catarse, um canal de contato com os colaboradores enlutados.

Outra estratégia é elaborar materiais informativos sobre a temática e disponibilizá-los para toda a empresa e familiares. Oferecer atendimento psicológico é essencial, reconhecendo a importância da ajuda profissional aos enlutados.

O cuidado com o bem-estar e a saúde mental dos colaboradores é, hoje, a principal dor das empresas. O tema é antigo, mas foi escancarado com a pandemia e ganhou a visibilidade da alta liderança e dos conselhos.

De acordo com a pesquisa “Estudo de Tendências de Benefícios 2020”, realizado pela empresa norte-americana de seguros Metlife, 60% dos colaboradores não conseguem equilibrar vida pessoal e profissional, o que gera sentimentos como cansaço, esgotamento mental, desmotivação e depressão.

A saúde pessoal/familiar é apontada como uma das principais causas para esses sentimentos (19%). Cerca de 2/3 dos funcionários estadunidenses dizem que os desafios da pandemia têm causado ainda mais tensão pelo medo de ele próprio ou alguém próximo contrair Covid-19. A pesquisa ainda apontou que 66% dos colaboradores que tiveram programas de benefício e bem-estar durante a pandemia se sentiram mais valorizados e reconhecidos.

Desconstruir modelos de liderança hierárquicos, de comando e controle e estabelecer novos relacionamentos no ambiente corporativo, dando espaço para lideranças mais colaborativas e sensibilizadas com o bem-estar de seus times, é essencial.

Pesquisa da Universidade Católica de Brasília (UCB), que utilizou padrões internacionais para criar o índice Felicidade Interna Bruta do Trabalhador (FIB-T), indicou que a satisfação com a empresa apontou maior correlação com engajamento no trabalho.

Desta forma, o caminho é implementar uma cultura que oferece acolhimento e potencializa as fortalezas dos colaboradores para tornar, no momento oportuno, o ambiente de trabalho agradável, saudável e motivador diante das adversidades da vida.

O luto e a urgência da saúde mental dos colaboradores

Por Luciene Bandeira, psicóloga, diretora de saúde mental da Conexa e responsável técnica de Psicologia Viva.

 

 

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