Sem diversidade, não há progresso — por mais mulheres em cargos de liderança
Feche os olhos e imagine uma pessoa que ocupa o cargo mais alto na hierarquia de uma empresa.
Quem você vê?
Mulheres lideram 10,1 milhões de empreendimentos no Brasil, de acordo com o Sebrae. Impressionante, não? O número, contudo, representa apenas 34% dos donos de negócio brasileiros.
A desigualdade de gênero no mercado de trabalho, principalmente em cargos executivos, é um problema atual. A construção cultural da figura de liderança é masculina — por isso, dificilmente foi a imagem de uma mulher a primeira a ser formada na sua cabeça no início deste artigo.
Muitos acreditam que homens nascem com o instinto de liderança, e um dos principais argumentos é que as “mulheres são mais emotivas” naturalmente e, por isso, são gestoras “instáveis”.
Será que é verdade?
Até que ponto as diferenças biológicas e culturais entre homens e mulheres cisgênero impactam na capacidade de trabalhar? O que fazer para reduzir a disparidade no ecossistema de negócios?
Afinal, as mulheres realmente são mais emotivas?
Segundo a ciência, não.
Um estudo da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, observou a emotividade de 142 homens e mulheres durante 45 dias. Para viabilizar a análise da influência dos hormônios femininos, elas foram separadas em quatro grupos: aquelas com ciclos naturais e as que estão em três tipos de contraceptivos orais.
No fim, os pesquisadores não encontraram diferenças significativas entre os participantes. A conclusão? As emoções dos homens variaram no mesmo grau que as das mulheres.
E também não houve disparidade entre os grupos femininos. Para os estudiosos, ficou claro que os altos e baixos estão relacionados a uma série de fatores, não apenas hormônios.
A questão é: o adjetivo “emotiva” não é um elogio. Incorretamente, entendemos “emoção” como o oposto de “razão” ou, até mesmo, “eficiência” — mesmo que a neurociência já tenha comprovado que as emoções são fundamentais para a mente inteligente.
A verdadeira diferença é a forma como enxergamos demonstrações de sentimentos. Por exemplo, um homem que chora e vibra durante uma partida de futebol é descrito como “passional” — “apaixonado”, talvez.
Agora, quando uma mulher chora e vibra durante o show de uma banda, ela é “histérica” e “irracional”. Esses adjetivos aparecem até mesmo em situações em que ela é provocada, durante uma discussão ou quando sofre algum tipo de abuso verbal.
Tudo isso é fruto do preconceito que construímos e carregamos ao longo dos séculos — e já passou da hora de mudar.
A vantagem da diferença
Condicionadas pela sociedade patriarcal, muitas mulheres tendem a colocar o bem estar dos outros à frente do seu. Isso leva a saúde (mental e física) debilitada e cansativas múltiplas jornadas de trabalho.
Por outro lado, relacionado a isso e outros fatores socioeconômicos, está o fato de que as mulheres tendem a ser mais empáticas que os homens — é o que comprovou uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
O estudo considera o conceito de empatia como “a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos dos outros”. E, de fato, as mulheres são melhores que homens nesse quesito.
A partir da amostra estudada, os pesquisadores constataram que o cérebro feminino apresenta uma ativação relativamente maior na área sensorial associada à dor do que os homens. Ou seja, elas têm maior facilidade para sentir, verdadeiramente, o que o outro está sentido em determinado momento.
A empatia está diretamente relacionada à inteligência emocional — definido pela Psicologia como a habilidade de reconhecer e lidar com sentimentos e emoções, próprios e dos outros.
Esses atributos são fundamentais para a gestão de pessoas. Ao entender os comportamentos e particularidades dos colaboradores da empresa, um líder é capaz de impulsionar a colaboração e motivação nas equipes — o que certamente traz resultados nas contas da empresa.
Instintivamente, as mulheres conseguem assumir esse papel de mentoria — sem muito esforço, inclusive. Fica claro que o vocabulário utilizado para caracterizar essas trabalhadoras precisa substituir os adjetivos antiquados pelas verdadeiras contribuições femininas ao meio corporativo:
- inteligência emocional,
- empatia na solução de conflitos,
- tolerância,
- abertura para cooperação,
- criatividade e
- perfil multitarefas,
para começar.
Como incentivar lideranças femininas nas empresas
Combater a desigualdade de gênero e impulsionar o protagonismo feminino no mercado de trabalho é uma prioridade coletiva — e, consequentemente, os benefícios são compartilhados também.
Às empresas, a responsabilidade é criar um espaço acolhedor para as mais diversas experiências e disponibilizar recursos para que lideranças femininas — assim como negras, LGBTQI+ e com deficiência (PCDs) — possam florescer.
Ou seja, é preciso atuar ativamente para moldar a cultura organizacional sob os pilares do respeito, compreensão, acolhimento e celebração das vivências das mulheres.
No negócio que lidero, implementamos uma série de ações de conscientização e incentivo às experiências das nossas colaboradoras — que representam mais de 44% do time.
O projeto “Mulheres que Inspiram”, por exemplo, é uma rede de apoio com conscientização e afetividade para que essa evolução seja feita através de conteúdos incríveis compartilhados delas para elas. O projeto envolve encontros mensais, nos quais já foram abordadas temáticas como a legalização do aborto, leis que todas as mulheres devem saber, a importância do parto humanizado, mulheres na política, empoderamento financeiro, entre outros.
Além disso, o Comitê de Ética está sempre aberto ao recebimento de denúncias sobre ofensas no ambiente de trabalho — anônimas ou não, as denúncias são incentivadas pela empresa.
Nosso programa de Diversidade e Inclusão (D&I) também trabalha a inclusão de pessoas trans — temos um banco de talentos específico para mulheres trans e não-binárias e oferecemos apoio financeiro para a mudança do nome social na certidão de nascimento.
Entre as ações de conscientização, foi organizada uma semana de conversas sobre temáticas relacionadas à questão, como a empregabilidade trans e saúde mental de grupos não dominantes.
Através da Academia de Líderes – Programa Juntos -, potencializamos o desenvolvimento da carreira de mais mulheres no papel de liderança. Com menos referências no “topo”, precisamos apoiá-las e incentivá-las para que assumam da melhor forma os desafios relacionados à gestão num ambiente seguro.
Uma distribuição de cargos mais igualitária é chave para a pluralidade de ideias, que é o que leva à inovação e evolução. Sem diversidade, não há progresso — seja na sociedade como um todo, no mercado de trabalho ou dentro de uma organização.
Por aqui, nossa equipe já entendeu isso e sempre dá o melhor para fazer nossa parte.
E a sua empresa?
Por Juliet Bombassaro, Gerente de Pessoas & Cultura na eSales. Com mais de 12 anos de experiência em Cultura Organizacional e Gestão de Pessoas, tem como propósito alinhar sempre o cuidado das pessoas com o alto desempenho. É formada em Gestão de Recursos Humanos e tem interesse em assuntos voltados à liderança, inovação e tecnologia.
Ouça o PodCast RHPraVocê Cast, episódio 96, “Da teoria à prática: como a GSK Brasil abraça a equidade?” com Cintia Magno, Diretora de RH da GSK. Clique no app abaixo:
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