É domingo à noite. Faltam poucas horas para o início da semana. Profissionais de diferentes cargos, em diferentes países começam a sofrer ansiedade, angústia, medo – o que se convencionou a chamar de “Sunday scaries”, ou “Sunday blues”.
Seria apenas um sentimento passageiro pelas demandas que aguardam no início de semana ou um sintoma da perda de sentido no que se faz?
Profissionais de todas as épocas experimentaram, e experimentam ainda hoje, essa sensação. Mas ao analisarmos os anos anteriores à década de 1970 ou 80, a resposta para esse incômodo era simples: é preciso trabalhar para receber o salário e garantir a sobrevivência.
O pensamento mais comum era de que a vida seria vivida na plenitude apenas na aposentadoria, e se podia esperar até lá. As organizações podiam confiar que as tarefas seriam feitas conforme o esperado. Eram tempos de comando e controle e as pessoas eram encaradas como executoras.
Mas a sociedade avançou e o mundo do trabalho mudou radicalmente. Em cinco anos, mais conhecimento foi gerado do que num período de 100 anos em séculos passados. O que entendemos como sociedade hoje é fruto de ideias difundidas há poucos anos.
Por exemplo, foi na última década que começamos a ouvir a respeito de movimentos como de igualdade de gênero. Atitudes antes tidas como normais, hoje são inaceitáveis e podem configurar assédio. As relações mudaram e as ações humanas têm consequências globais. Basta lembrarmos da pandemia.
O que vemos hoje é a consciência das pessoas de que o trabalho é uma forma de se conectar a algo maior e parte fundamental da formação da identidade. O que fazemos precisa carregar significado. É nossa contribuição, nosso legado. O próprio conceito de sucesso hoje já é outro: não significa apenas remuneração – que ainda é importante – mas é também a possibilidade de se fazer o que gera valor, o que se sabe, o que se gosta e sentir-se reconhecido e ouvido.
A chegada de novas gerações ao mercado foi decisiva para que as empresas entendessem que salário não basta. Hoje, a organização precisa olhar com atenção para as equipes e dar clareza aos seus integrantes – incluindo líderes – sobre o papel dessa organização, qual o seu propósito no mundo e no que essa equipe e esses indivíduos contribuem.
Entendemos que as equipes vão além de braços: são indivíduos com diferentes expectativas e diferentes potenciais que, juntos, podem trazer inovação, criatividade e novas formas de conhecimento.
A busca pela realização no trabalho proporciona uma mudança na oferta e procura de oportunidades: o poder da contratação passou para os profissionais que, agora, não estão mais dispostos a entrar ou permanecer em organizações que não enxerguem o seu potencial de contribuição.
Além disso, equipes coesas, colaborativas e que juntas perseguem um propósito comum proporcionam aos seus membros o senso de pertencimento, que por si só é uma necessidade humana. Este senso de pertencimento e a segurança psicológica advindos de um bom trabalho em equipe, assim como a segurança financeira, estão na base do que necessitamos para nos sentirmos satisfeitos com nossa vida.
Para muitos, contar com equipes feitas por pessoas engajadas em um propósito que faz sentido em suas vidas pode soar como uma utopia: um capítulo de best seller com fórmulas batidas. Mas já há comprovação de que empresas com um ambiente mais humanizado, aderentes às questões de ESG e com processos estruturados de governança e comunicação têm resultados superiores refletidos em resultados financeiros, maior retenção de talentos e ganhos significativos em imagem e reputação.
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Muitas empresas e seus líderes já têm a sensibilidade em perceber que algo precisa ser feito para que as equipes conheçam o seu papel no todo e possam estar alinhadas e engajadas ao propósito da organização. A dificuldade mais frequente é encontrar o caminho de desenvolvimento e evolução mais adequados para chegar nesse alinhamento e engajamento.
Por fim, entendemos que a identificação com o trabalho, o sentimento de pertencimento e o propósito são combustíveis essenciais para o engajamento e protagonismo que, por sua vez, são resultado de um trabalho intencional de trazer consciência e clareza, conectando e integrando as pessoas.
Por Bianca Aichinger e Susana Azevedo, ambas ex-executivas, coaches e sócias-proprietárias da Quantum Development, criada com o propósito de apoiar organizações e líderes em sua busca por transformação para um mundo em constante evolução.
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