O que você acharia de ser fotografado a cada cinco minutos dentro da sua casa? Isso é, no mínimo, incômodo, não é mesmo?
Essa é a proposta do Sneek, uma plataforma contratada por empresas para tirar fotos pela webcam em intervalos de cinco, quinze ou vinte minutos a fim de inspecionar quanto tempo cada um ficou longe do computador ao longo do expediente.
O Sneek virou tendência no Vale do Silício e em várias companhias ao redor do mundo atraídas pela ideia de garantir altos níveis de produtividade dos seus colaboradores, a empresa relatou que, desde o começo da pandemia, a quantidade de pessoas ativas semanalmente na plataforma aumentou em 250%.
Faz sentido que os gestores queiram maximizar a produtividade de seus colaboradores. Afinal, quando a eficiência do time é alta, as tarefas são realizadas de maneira mais objetiva e veloz, a necessidade de equipes maiores reduz e uma série de despesas administrativas são poupadas.
Dentro do cenário de crise sanitária e econômica no qual estamos inseridos, tais preocupações e esforços para conquistar um bom rendimento são pertinentes, mas até onde as medidas para assegurá-lo são éticas?
Com a implementação emergencial e a longo prazo do regime de trabalho remoto, as opções no catálogo de programas de monitoramento de produtividade que vêm sido adotados pelas empresas na pandemia aumentaram significativamente. Por mais que alguns deles possuam medidas mais brandas e bem avaliadas até pelos próprios funcionários, há outros que preocupam especialistas em privacidade e tecnologia por conta de funcionalidades consideradas invasivas.
Esse é o caso do Productivity Score, que usa um método de pontuação e comparação de produtividade obtidas a partir do monitoramento de câmera, tela, e-mail e Teams. As autoridades na área consideram que a Microsoft, dona do software, foi longe demais, fazendo com que a gigante tech recuasse em algumas das ferramentas de vigilância e ranqueamento.
Embora o produto tenha sido amplamente criticado, o Productivity Score segue sendo comercializado e implementado em diversas companhias.
Esse nível de controle pode parecer até distópico, algo que vemos nas obras de George Orwell e Aldous Huxley. Ainda que nas obras de ficção científica desses autores esse tipo de vigilância constante esteja entrelaçado ao governo, as políticas da vida real ainda precisam de renovação para que hajam limites acerca da privacidade e do uso de dados pessoais.
Aqui no Brasil, conseguimos, felizmente, ver progresso a partir da Lei Geral de Proteção de Dados, que cobre e regulamenta as atividades de tratamento de dados pessoais. Por outro lado, sua última atualização, que se deu ainda este ano, não contempla as questões de monitoramento e avaliação de rendimento profissional.
Com isso, por enquanto, decidir qual até onde vale colocar o conforto e privacidade dos colaboradores em jogo – em nome do êxito da produtividade – cabe ao compasso moral e ético dos gestores.
Seja dentro da firma ou no home office, a tecnologia pode, sim, ser uma forte aliada nessa missão para conquistar a eficiência e potencializar os ganhos profissionais. Plataformas de comunicação corporativa, mapeamento e organização existem e são altamente recomendadas por especialistas em gestão de pessoas e administração empresarial.
Porém, garantir o foco e a disciplina da equipe não deve restringir a liberdade pessoal de cada um. Muitas pessoas, inclusive, acabam deixando o emprego por se sentirem incomodadas com a vigilância e cobrança constante por produtividade, o que acaba gerando prejuízo e intensificação do turnout – a alta rotatividade no quadro de colaboradores.
Ter um BBB particular onde os participantes são seus funcionários vale a pena mesmo? O risco é a saúde do ambiente de trabalho, a saúde mental e a satisfação de todos na empresa.
Acredito que a produtividade do colaborador está mais ligada a personalidade, foco e objetivo deste colaborador do que com um sistema de monitoramento. Além disso, mais cabe imergir os valores da empresa com o do funcionário, para perceber a aderência dele com a cultura organizacional, do que ter um sistema constante de monitoramento.
A questão deste debate não é demonizar os sistemas, e sim usá-los com parcimônia. Tudo em excesso é ruim, encontrar esse equilíbrio é o nosso papel como gestor.
Por Leiza Oliveira tem gestão em mais de 1000 colaboradores, 70 franqueados e é CEO da rede Minds English School.
Management Big Brother?! How ethical are productivity monitoring softwares
What would you think about being photographed every five minutes inside your own house?
That would be, at least, annoying, right? This is Sneek’s purpose, a platform hired by companies to take pictures through their employees’ webcams in five, fifteen or twenty minutes gaps in order to inspect how long each one has spent away from their computer during office hours.
Sneek has become a trend in Silicon Valley and in companies all around the world attracted by the idea of ensuring high productivity levels for their employees. The company has reported that, since the beginning of the pandemic, the number of people active weekly on the platform has increased 250%.
Makes sense that managers want to maximize their employees’ productivity. After all, when the efficiency of the team is high, the tasks are done quicker and more objectively, the need to have bigger teams is reduced and a series of administrative expenses are saved.
Within the scenario of sanitary and economic crisis in which we are inserted, such concerns and efforts to achieve good efficiency rates are pertinent, but to what extent are the measures to ensure this ethical?
With the emergency and long-term enforcement of the remote working regime, the options in the catalog of productivity monitoring programs that have been adopted by companies in the pandemic have increased significantly. Even though some of them have softer and well rated measures, there are others that make specialists in technology and privacy worried because of functions that are considered invasive.
This is the case of Productivity Score, which uses a method of scoring and comparing productivity obtained from camera, screen, email and Teams monitoring. The authorities in the field say that Microsoft, developer of this software, has gone too far, making the tech giant back off in some of the surveillance and comparison tools.
Although the product has been widely criticized, Productivity Score continues to be marketed and implemented in several companies.
That level of control might look even disthopical, something that we see in the works of George Orwell and Aldous Huxley. Even though in these authors’ science fiction works this kind of constant surveillance is intertwined with government, real-life policies still need renewal so that there are limits on privacy and the use of personal data. Here in Brazil, we are, fortunately, able to see progress from the General Data Protection Law (LGPD), which covers and regulates personal data processing activities.
However, its last update, which has happened still this year, does not contemplate monitoring and evaluation of professional efficiency. Thereby, for the time being, deciding how far it is worth putting the comfort and privacy of employees at stake – in the name of successful productivity – is up to the moral and ethical compass of managers.
Whether inside the firm or in the home office, technology can, indeed, be a strong ally in this mission to achieve efficiency and maximize professional gains. Corporate communication, mapping and organization platforms exist and are highly recommended by specialists in personnel management and business administration.
However, ensuring team focus and discipline should not restrict everyone’s personal freedom. Many people even end up leaving their jobs because they feel uncomfortable with the constant surveillance and demand for productivity, which ends up generating losses and intensifying the turnout.
Having a private Big Brother where the contestants are your employees really worth it? The risk is the health of the work environment, mental health and the satisfaction of everyone in the company.
I believe that employee productivity is more linked to that employee’s personality, focus and purpose than to a monitoring system. In addition, it is more fitting to immerse the company’s values with the employee’s, to realize their adherence to the organizational culture, than having a constant monitoring system.
The point of this debate is not to demonize systems, but to use them sparingly. Anything in excess is bad, finding that balance is our role as a manager.
By Leiza Oliveira manages more than 1000 employees, 70 franchisees and is CEO of the Minds Idiomas network.
Ouça também o RHPraVocê Cast, episódio 126, “Até o ‘bom dia’ vira reunião: é mesmo tão difícil se adaptar à comunicação assíncrona?”. Será que todos os líderes estão, de fato, preparados para se adaptar a um diferente estilo de comunicação? Há solução para as reuniões em excesso deixarem de ser parte do dia a dia?
Para responder a isso e auxiliar no melhor entendimento sobre a importância da comunicação assíncrona, o RH Pra Você Cast traz a neurocientista Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, empresa de educação corporativa. Clique no app abaixo:
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