Pesquisas indicam que o medo de fracassar figura entre as maiores aflições das pessoas. Este receio é comum para aqueles que estão dedicando o melhor dos seus esforços para criar inovações incrementais, ou seja, melhorando aquilo que já existe, como produtos e serviços.

Agora, para quem está dedicando toda a sua energia em busca de uma transformação inédita e radical para resolver um problema cuja solução é difícil de encontrar, a possibilidade do fracasso é ainda mais aterrorizante.

Ao observar pessoas ao redor do mundo que resolveram problemas aparentemente impossíveis e criaram transformações inéditas nas mais diversas áreas, chamou a minha atenção uma característica: todas elas, em algum momento de suas jornadas, fracassaram.

Quer alguns exemplos?

Joe Gebbia, um designer recém-formado e sem dinheiro. Para piorar a situação, o aluguel da casa onde ele morava havia aumentado. Um dos dois amigos com quem dividia a despesa foi embora, complicando ainda mais a situação.

Foram essas condições que provocaram a faísca de inovação para o surgimento do que parecia ser impossível: a maior rede de hospedagem do mundo, avaliada em US$ 110 bilhões, o Airbnb.

Imagine Joe fazendo sua proposta aos investidores: vamos pedir para as pessoas tirarem fotos de suas casas. Elas devem fotografar também os ambientes mais íntimos, aqueles que ficam fechados quando alguma visita aparece, como quartos e banheiros.

Em seguida, vamos pedir publiquem essas fotos na internet e convidem pessoas completamente estranhas para dormirem em suas casas.

Obviamente o caminho para tornar possível o impossível foi repleto de fracassos como ele próprio reconheceu. “Sentamos e esperamos o negócio deslanchar. Não foi assim. Ninguém em sã consciência investiria num serviço que permite que estranhos durmam na casa das pessoas.

Porque, quando crianças, nos ensinaram a associar estranhos ao perigo”, ele disse. “Não acertamos de primeira”.

O oceanógrafo francês Jacques Cousteau tinha como missão de vida revelar para a humanidade o curioso e fascinante mundo submarino. Para a época, isso parecia impossível, pois não havia tecnologia suficiente que permitisse levar cinegrafistas a grandes profundidades, por isso ele precisava desenvolvê-las.

Cousteau investiu cinco anos de dedicação na construção de um submersível que permitiria viagens submarinas inéditas, com registros cinematográficos igualmente desconhecidos pela humanidade até então.

Depois que tudo ficou pronto, enfim chegou o momento de testar o equipamento no mar. Ao erguerem o submersível, um cabo de aço se rompeu durante o processo fazendo o veículo cair e afundar em alto-mar. Ninguém havia pensado na possibilidade óbvia de testar o equipamento primeiro em águas rasas.

Einstein também colecionou fracassos. Foi reprovado no teste de admissão para a Politécnica de Zurique. Depois conseguiu a aprovação, mas formou-se em penúltimo lugar de sua classe. Foi o único de sua classe a não receber nenhuma oferta de emprego. Ele precisou esperar por quatro anos até conseguir uma indicação para se tornar professor assistente. Mesmo assim foi recusado.

Então, se você está buscando inovar e criar transformações importantes na vida, nos negócios ou no mundo, mas ainda fica paralisado diante do medo de fracassar tenho duas boas notícias. A primeira: fracassos não são fatais. São parte natural do processo de inovação.

A segunda (e ótima notícia): o medo de fracassar tem um antídoto chamado variância. Variância é um fenômeno que parte do princípio de que se você aumentar a quantidade de produção, ampliará o número de fracassos, mas também o número de sucessos.

Investidores em startups conhecem muito bem essa dinâmica: a cada 10 startups financiadas, apenas duas costumam ser bem-sucedidas. Ocorre que o resultado que elas geram é tão significativo que compensam os investimentos realizados nas outras oito que não deram frutos.

Estudos mostram que gênios como Mozart, Shakespeare, Picasso e Einstein não tiveram sucesso em uma taxa mais elevada que os outros. Eles simplesmente produziram muito mais que outros artistas de seu tempo. Portanto, tiveram mais sucessos e mais fracassos. Por isso, o ganhador do prêmio Nobel da Paz, Linus Pauling disse que “a melhor maneira de ter uma ideia é ter muitas ideias”.

Um estúdio de design de brinquedos desenvolve por ano cerca de 4 mil ideias, dentre as quais apenas 230 são consideradas promissoras e, destas, somente 12 são, de fato, vendidas. Produtores de Hollywood analisam centenas de roteiros todos os anos para descobrir uns poucos que podem valer a pena para transformar em filme.

Então, se você ainda não encara o fracasso como parte natural do processo de inovação, talvez possa seguir a recomendação do professor Johannes Haushofer, da Universidade de Princeton. Para acabar com o mito em torno do medo do fracasso que apavorava seus alunos, ele publicou um currículo em que relata somente os seus fracassos.

Segundo a neurobiologista Melanie Stefan, o currículo de fracassos de uma pessoa bem sucedida é normalmente seis vezes maior do que o de sucessos. Que tal elaborar agora o seu currículo contendo apenas os seus insucessos? E se a sua taxa de fracassos está baixa, trate de melhorá-la!

Se errar é parte natural do processo de inovação e se fracassos não são fatais, ao invés de perder tempo e energia evitando fracassar, invista na sua variância.

Fracasse mais rápido e mais barato!

Como inovadores radicais vencem o medo do fracasso

Por Alex Bonifácio, escritor e palestrante e TEDx Speaker com mais de 550 mil visualizações. Administrador de empresas com especialização em marketing, é mestre em gestão do conhecimento e da tecnologia da informação. Há mais de uma década estuda os fatores que interferem no surgimento das ideias originais que podem ser aplicadas no dia a dia. Desenvolveu um método prático para a identificação de ativos invisíveis – soluções que já existem, mas permanecem ocultas – e o desenvolvimento da capacidade de atingir resultados improváveis. Também é autor dos livros “Pense Grande -Atitudes e valores de pessoas de alto desempenho” e “Impossível – Como descobrir oportunidades incríveis para criar transformações na vida, nos negócios e no mundo”.

Saiba mais sobre inovação com o Podcast “Como criar uma cultura de inovação?“, uma entrevista de Daniel Consani, CEO do Grupo TopRH e Gabriela Ferigato, editora chefe do grupo, com Mary Ballesta, Diretora Global de Inovação do Grupo Stefanini ouvindo diretamente no banner abaixo ou clicando aqui: