A importância dos conhecimentos interdisciplinares para o advogado do futuro – ou do presente.

Nos últimos anos, o mercado de trabalho vem passando por uma verdadeira revolução: o surgimento acelerado de novas tecnologias levanta questionamentos sobre as habilidades que serão exigidas dos profissionais do futuro. Muito se discute, no meio jurídico, o que advogados precisarão aprender para lidar com essa nova realidade.

Uma das ideias mais difundidas sobre o futuro dos advogados passa pela necessidade imprescindível de um aprendizado de novas competências anteriormente alheias ao Direito.

Contudo, não há motivo para pânico: mais do que aprender a programar como um programador profissional ou diagramar como um designer, é preciso entender como outras disciplinas podem ser aproveitadas em serviços jurídicos e, principalmente, dialogar com profissionais dessas áreas. É nesse contexto que a interdisciplinaridade toma forma enquanto uma das competências mais importantes para a advocacia “do futuro”.


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O professor britânico Richard Susskind, destaque na área de Direito e Tecnologia, defende a utilização de tecnologias como meio para melhorar as soluções jurídicas oferecidas aos clientes. Para ilustrar como a inovação pode ser benéfica no setor jurídico, o autor descreve uma situação hipotética: uma pessoa deseja comprar uma furadeira para pendurar um quadro na parede de sua casa; na verdade, ela não quer de fato uma furadeira, ela quer um furo em sua parede. Se, por acaso, encontrar uma ferramenta – ou até um serviço – melhor, mais econômico ou mais eficiente que a furadeira para atingir seu objetivo, ela certamente irá preferi-la. De acordo com Susskind, o mesmo ocorre em outros serviços, inclusive os jurídicos: clientes, usuários ou cidadãos buscam uma solução para o seu problema, com o mínimo possível de recursos gastos.

De certa forma, é isso que se espera do advogado do futuro; com tantas ferramentas tecnológicas ao seu dispor, espera-se que ele saiba combiná-las da forma mais eficiente para atingir o resultado de forma prática e com a maior qualidade. Por esse motivo, o termo interdisciplinaridade tem sido chave quando comentamos sobre a advocacia nos próximos anos.

Na advocacia empresarial, por exemplo, não basta conhecer profundamente uma área específica; pelo contrário, é necessário, a fim de auxiliar a empresa da maneira mais eficiente, compreender questões tributárias, concorrenciais, imobiliárias, ambientais, de propriedade intelectual e diversas outras que influenciam em sua operação. É claro que um advogado especialista em outros campos será necessário, principalmente em contextos mais complexos. Mas, para poder facilitar a comunicação entre áreas, é fundamental um conhecimento multidisciplinar.

Mas e conhecimentos de fora do campo jurídico? Com o aumento da complexidade de problemas jurídicos, um advogado pode aproveitar noções e contribuições de outras áreas, como gestão, financeira, tecnologia e até design. Novamente: mais do que substituir a atuação de profissionais dessas áreas, o importante é saber dialogar com eles e incorporar suas contribuições ao serviço entregue. Com isso, as entregas se tornam mais completas e direcionadas ao problema do cliente.

No campo prático, temos alguns exemplos bem tangíveis. Por exemplo, conseguir transmitir ao cliente de forma concisa e com um vocabulário inteligível o conteúdo jurídico é um dever do profissional que precisa aliar a expertise do seu trabalho a um tratamento mais próximo do cliente. Nesse sentido, as práticas de Visual Law, que aliam Direito e design de informação, buscam facilitar essa comunicação por meio de linguagem simples, direta, objetiva e com uso de elementos gráficos.

Ainda, no que se refere à melhor compreensão por parte do profissional do Direito das demandas dos clientes, podem ser interessantes, frente à dinamização dos fluxos negociais em ambiente virtual, alguns conhecimentos em informática e programação, que permitem melhor compreensão das relações digitais. Para tratar desde assuntos complexos (como smart contracts) até situações mais pontuais, como pagamentos instantâneos ou compra e venda em marketplaces, por exemplo, um conhecimento sobre programação pode ajudar o advogado a entender como funcionam as etapas dessas transações.

No curto prazo, a interdisciplinaridade deixará de ser uma vantagem competitiva e passará a ser, de fato, imprescindível para advogados de qualquer área. Com o advento de novas tecnologias e novos negócios, como criptoativos, economia compartilhada e metaverso, possuir conhecimentos em áreas de tecnologia e inovação passa a ser elemento básico para compreender a atividade de clientes de todos os setores da economia. Por essa razão, a interdisciplinaridade não deve fazer parte da formação de um advogado “do futuro”, mas sim “do presente”.

No fim das contas, saber transitar de forma inteligente entre os diversos conhecimentos de áreas jurídicas e não jurídicas deve ser uma das prioridades dos advogados que almejam trabalhar de forma mais próxima às demandas de uma sociedade hiperconectada. Assim, é necessário compreender a interdisciplinaridade na formação jurídica como um ferramental necessário às demandas dos clientes, afinal, voltando à metáfora da furadeira: sempre há formas melhores de obter o “furo na parede”.

Conhecimentos interdisciplinares para o advogado do futuro

Por Victor Cabral Fonseca, Advogado sênior e Head do ThinkFuture, programa de inovação de TozziniFreire Advogados.

 

 

Ouça também o PodCast RHPraVocê, episódio 94, “Qual foi o legado deixado pela Reforma Trabalhista?” com Dra. Cintia Fernandes, advogada especialista em Direito do Trabalho e sócia do escritório Mauro Menezes & Advogados. Clique no app abaixo:

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Capa: Deposithphotos