Sintomas relacionados com a menopausa, como ondas de calor, transpiração noturna, mudanças de humor, distúrbios do sono, dores nas articulações e dificuldades cognitivas prejudicam a qualidade de vida de milhões de mulheres. Eles também podem afetar adversamente as mulheres no ambiente de trabalho.

Um estudo da Mayo Clinic, publicado recentemente, quantifica os custos: há uma estimativa anual de 1,8 bilhões de dólares devido a perda de horas de trabalho por ano e de 26,6 bilhões de dólares quando as despesas médicas são acrescentadas, somente nos Estados Unidos.

“A conclusão para os empregadores é que há uma necessidade crítica de abordar esse problema para as mulheres no ambiente de trabalho”, afirma a autora líder do estudo, Dra. Stephanie Faubion, diretora de Saúde da Mulher da Mayo Clinic.

A menopausa ocorre em uma idade média aproximada de 52 anos. Tendo em vista que as mulheres de meia-idade representam uma proporção considerável da força de trabalho global, o impacto dos sintomas da menopausa no absenteísmo das trabalhadoras, na produtividade, no aumento direto e indireto dos custos médicos, além das oportunidades perdidas no avanço da carreira, é significativo.

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Falta de suporte é um problema

À medida que o mercado não se prepara adequadamente para prestar suporte às colaboradoras, a menopausa segue como um tabu, do mesmo modo que o climatério, que marca a transição entre o período reprodutivo e não reprodutivo na mulher.

“Assim como a maternidade, o climatério não pode ser visto como um empecilho para a vida profissional. Com informação, suporte e acesso aos serviços de saúde, é possível gerenciar esta etapa. A chegada da menopausa marca o fim da vida reprodutiva, não da vida produtiva, e aqui chegamos na conexão entre climatério e trabalho”, destaca Bianca Doeler, Coordenadora da No Pausa no Brasil, em artigo.

De acordo com estudo da empresa americana Biote, 20% das mulheres consideram sair ou saem de seus empregos por conta da menopausa. Além disso, 40% revelam que sua produtividade é impactada.

Outro dado, desta vez do Bank of America, mostra que 64% das mulheres que trabalham gostariam de ter benefícios específicos para essa etapa da vida. A cada ano, nos Estados Unidos, 1,3 milhão de mulheres entram na menopausa, segundo a National Menopause Foundation.

“Além da complexidade das vivências femininas da menopausa, o assunto é pouco abordado, particularmente no ambiente de trabalho, o que aumenta potencialmente a carga psicológica dos sintomas”, afirma a autora sênior Dra. Ekta Kapoor, diretora assistente de Saúde da Mulher da Mayo Clinic.

Ela explica que a pouca abertura para poder falar sobre a menopausa do trabalho é um gatilho para o problema se agravar. “É comum as mulheres temerem o preconceito, a discriminação e a estigmatização. Por isso, elas podem ficar relutantes em revelar os sintomas da menopausa para seus gerentes e outras pessoas no ambiente de trabalho”, diz.

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Etarismo entra na equação e empresas precisam agir

As mulheres vivem mais, mas têm carreiras mais curtas e ascendem menos à liderança. A competência, experiência e a formação acadêmica, no entanto, não impedem de serem discriminadas depois que entram nos 50 anos. Elas são acostumadas a ouvir piadas cotidianas sobre sexo, menopausa, aparência e outros aspectos ligados ao envelhecimento. 

De acordo com a psicóloga Kamylla Stefany, a forma como a mulher é vista pela sociedade ainda é diferente da forma que a sociedade enxerga o homem. Mulheres com cabelos brancos são interpretadas de formas diferentes em relação aos homens grisalhos, por exemplo.

“A base de tudo é informação e conhecimento. As empresas precisam fazer os treinamentos de reciclagem, proporcionar inclusão digital dessas mulheres, trazendo uma didática que envolva toda a equipe e proporcione conhecimento para elas”, pontua. Para a especialista, as empresas e os líderes de equipes precisam perceber que formar times com diferentes gerações é benéfico para todos.

Para a Dra. Stephanie Faubion, é tempo dos empregadores desenvolverem mecanismos para que a menopausa possa ser discutida abertamente e também para que haja legítimo apoio a essas profissionais. Em tempos nos quais diversidade, equidade e inclusão são tão debatidos, a pauta não pode passar despercebida.

“A nossa pesquisa sugere que há uma necessidade crítica de abordar esse problema para as mulheres no ambiente de trabalho. Os médicos precisam perguntar para as mulheres sobre os sintomas da menopausa e oferecer orientação e tratamento. Por outro lado, os empregadores precisam criar e implementar estratégias e políticas no ambiente de trabalho que ajudem as mulheres a enfrentar essa transição de vida universal”, salienta.

Entre as estratégias que podem ser adotadas, Bianca salienta que treinamentos – especialmente voltados à liderança – podem ser eficazes para a construção de um ambiente saudável e acolhedor.

“Algumas dicas importantes para desmistificar o assunto é compartilhar informações sobre os sintomas do climatério nos canais internos de comunicação da empresa; promover palestras com profissionais especializados no tema; e até mesmo incluir o Dia Internacional da Menopausa, 18 de Outubro, no calendário de ações corporativo. Além disso, as organizações podem agir com suporte importante para essas colaboradoras, com o ajuste da política de RH; capacitação de pessoas em cargos de liderança para entender o contexto e saber como oferecer apoio, com profissionais especializados no tema”, finaliza.

Por Bruno Piai