Levante a mão quem, ao navegar pelas redes sociais, não encontrou nos últimos dias ao menos uma notícia ou publicação referente ao ChatGPT. Idealizada em 2018, surgida em 2019 e lançada em 2022, a ferramenta criada pela OpenAI rapidamente se tornou conhecida e popular.
Com a promessa de ser uma revolução tecnológica, a inteligência artificial de uso gratuito tem como um dos objetivos de seus criadores se tornar uma rival direta das grandes empresas de tecnologia. A Amazon, por exemplo, não autoriza que seus colaboradores compartilhem códigos com o ChatGPT. Já o Google, por sua vez, fez com que Larry Page e Sergey Brin, seus criadores, voltassem a ser mais ativos na rotina da companhia, a fim de encontrar soluções para que a nova plataforma não se torne um problema para os negócios da multinacional.
O que é o tal ChatGPT?
Em linhas gerais, o ChatGPT, que já é utilizado tanto para uso pessoal quanto profissional, é um chatbot capaz de simular conversas de forma a parecer o mais natural possível. Na prática, o GPT é um modelo de linguagem baseado em redes neurais, um conceito ligado à inteligência artificial, que prevê que uma sentença de texto seja coerente, fazendo total sentido para a compreensão humana.
Quer saber quais serão as habilidades mais procuradas pelos recrutadores nos próximos anos? E que tal buscar uma receita diferente para inovar no almoço de domingo? Por mais que, naturalmente, buscadores como o Google sejam efetivos para tais procuras, o diferencial do chat é ter o “toque humano” – quer dizer, transmitir informações com uma abordagem semelhante à de uma pessoa.
Não é à toa que, por suas funcionalidades, o sistema vem agradando, mas também colecionando polêmicas. Apesar de ainda estar em fase de testes – o que explica a instabilidade de uso -, a ferramenta já é capaz de realizar ações que podem ser consideradas, de certa forma, avançadas.
Em janeiro, o design norte-americano Ammaar Reshi só precisou de 72 horas para criar um livro infantil. Segundo o portal Insider, a obra, que foi motivada pelo desejo de criar uma história para a sua filha, foi desenvolvida pelo Chat GPT a partir de comandos feitos pelo autor, enquanto as ilustrações foram feitas no Midjourney.
Apesar da agilidade, o livro, lançado na Amazon, foi criticado por usuários do site e um debate sobre questões autorais entrou em pauta, afinal, a IA não é “criativa” a ponto de montar algo totalmente novo. A base de seu conteúdo consiste em textos já existentes presentes na web. De qualquer forma, “Alice and Sparkle” rapidamente teve mais de 800 cópias vendidas.
Além disso, diversos usuários já relataram em suas redes terem usado o ChatGPT para desenvolver e aprimorar trabalhos acadêmicos, petições, textos jornalísticos e até mesmo teses. Seu papel como acessório na produção de conteúdo não tardou para incomodar educadores, pais e levantar a discussão sobre ele poder ser ou não um potencial substituto humano na criação de textos.
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Mocinho ou vilão?
Segundo Filipe Bento, CEO da Br24, solução all in one que ajuda empresas na automatização e unificação de processos, o ChatGPT, que já é utilizado no negócio, chega para contribuir ativamente com o mercado. Entre outros papéis, o chat poderá garantir atendimento 24/7. Ademais, haverá diminuição no tempo de espera, otimização de diferentes departamentos e uma ajuda extra para o negócio aprimorar seus produtos e serviços.
Em 2020, o Relatório Zendesk de tendências da experiência do cliente para 2020 identificou que 61% dos clientes entrevistados conseguiram resolver seus problemas com o apoio dos chatbots. Portanto, a ideia do ChatGPT é elevar esse número para mais de 90%.
“Nosso time de marketing usa o chat para ajudar na criação de copys (textos para conversão). O time de desenvolvimento utiliza para conseguir códigos, indo direto ao ponto e tornando desnecessária uma busca em diversos fóruns. Começamos a ganhar eficiência nesse processo. O que demorava uma tarde, por exemplo, tem um rascunho construído em 15 minutos. A partir do que o chat trás, as pessoas melhoram o texto e fazem os refinamentos. Você transforma horas de trabalho em alguns minutos”, diz.
Diante da praticidade, o especialista em transformação digital explica que o ChatGPT não é necessariamente um substituto de funções humanas, porém, conforme a ferramenta for otimizada, alguns profissionais podem ser impactados, tanto positiva quanto negativamente.
“Com certeza, isso pode levar sim a redução no número de empregos em algumas áreas, como escrita criativa, redação de conteúdo e tradução, mas, por outro lado, pode criar oportunidades em outros segmentos, mudando significativamente o mercado de trabalho”, salienta. “A tecnologia é um meio, tudo depende dos valores das pessoas [para usar]. Vou utilizar a tecnologia para demitir gente ou para empoderar as pessoas?”, questiona.
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RHs devem utilizar a ferramenta?
Na visão do executivo, sim. Bento esclarece que o chat pode ter importante utilidade tanto para profissionais de RH quanto para o trabalho de lideranças. Todavia, assim como outras tecnologias, o GPT ganha força conforme exista maturação e um objetivo de uso. Mais do que apostar no sistema por ser a moda do momento, é necessário ter a compreensão sobre como, de fato, a ferramenta pode ajudar.
“Segundo um relatório da McKinsey, a medição da maturação em relação à tecnologia passa por quatro pontos: estratégia, capacidade, organização e cultura. Seja uma IA ou qualquer outra tecnologia, ela pode dar certo para uns e não funcionar para outros. Nisso, quando há o problema, ele está na ferramenta ou no contexto da empresa? É preciso que a gestão questione o que, dentro do negócio, não é possível fazer por falta inteligência artificial”, explica. “Mas todos podem usar a IA, porque sua função é empoderar pessoas e substituir trabalhos manuais, seja qual for a área”, acrescenta.
Especificamente dentro do RH, algumas funcionalidades do chat que podem otimizar o tempo envolvem a criação de descrições de vagas, de testes simples ou complexos para candidatos e de e-mails ou comunicados internos e externos. Além disso, o profissional de Recursos Humanos pode aproveitá-lo para aprimorar feedbacks, encontrar de forma ágil leis trabalhistas e criar materiais para campanhas e treinamentos. “Quanto mais entrosamento com humanos houver, mais esse relacionamento será fortalecido e mais a máquina vai se aprimorar”, finaliza Bento.
Capa: Via Depositphotos
Por Bruno Piai