Milhares de mulheres impactadas por projetos e ações afirmativas poderosas para capacitação, atração e contratação de mulheres. Nascida em meio à pandemia da Covid-19, a Se Candidate, Mulher! é uma HR Tech que surgiu com um propósito claro: mudar a realidade das profissionais brasileiras.

Idealizada pela mineira natural de Viçosa (MG), Jhenyffer Coutinho (capa), a startup foca no aspecto educacional e oferece sua base de talentos para as empresas. Agora, com quase 40 organizações parceiras – como Accenture, Volvo e Ambev – e cerca de 10 mil mulheres na plataforma educacional, o negócio captou recentemente R$ 1,2 milhão de investimento.

Além disso, a HR Tech, por três anos consecutivos, foi vencedora do Startup Awards, a maior premiação do ecossistema de inovação do Brasil, na categoria “Startup de impacto social“. Graças ao seu trabalho, em média duas mulheres por dia conquistam a recolocação no mercado.

O começo de tudo

Jhenyffer conta que a empresa surgiu do desejo de “curar no outro dores que são nossas”. O ponto de partida, que ainda não visava a construção de um negócio, foi um projeto para incentivar as mulheres a se candidatarem mais para oportunidades de emprego.

“Participei de um workshop de liderança feminina e nele encontrei um dado que mostrava que a maioria das mulheres somente se candidata a uma vaga quando tem 100% dos pré-requisitos. Os homens fazem isso com 60%. Então, em 2018, ao ver esse dado me identifiquei como mulher. Na época, era head de gente e gestão e me identifiquei também como a pessoa que trabalhava nas vagas. Até quando tinha vagas exclusivas às mulheres, os homens se candidatavam”, diz a CEO da Se Candidate, Mulher!.

Em 2020, quando foi morar nos Estados Unidos para desenvolver seu inglês, a executiva identificou que o número de mulheres que perderam seus empregos na pandemia só crescia – 6,5 milhões de mulheres estavam desempregadas no Brasil. Neste momento, “surgiu o estalo” para a criação da SCM. “Já que elas achavam que estavam em desvantagem [na candidatura de vagas], eu queria ensinar um pouco do processo seletivo”, compartilha.

Cultura de Feedback

Sai projeto, entra empresa

Hoje empreendedora, Jhenyffer não tinha o plano de empreender: “Era aquela pessoa que queria ter o meu salário e meus benefícios ao final do mês”. Houve uma fase de resistência para entender a SCM como negócio. “Porém, pela minha criação e pela minha formação em administração de empresas, apesar de não querer empreender, minha vida sempre andou em paralelo com o empreendedorismo”, salienta.

Quando a ideia ainda era um projeto, as coisas rapidamente começaram a acontecer. A CEO criou uma newsletter para dar dicas às mulheres e em um mês já contava com a inscrição de mais de 15 mil mulheres. Em pouco tempo, também, as redes sociais começaram a se encorpar.

“O primeiro ano teve um crescimento muito orgânico e no ecossistema das startups há uma etapa muito importante que chamamos de validação de problemas. Quando bem feita, ela faz toda a diferença. Hoje, consigo entender que passava por essa fase. Comecei a ver que tinha uma oportunidade de negócio”, conta. “A partir do momento que elas cresciam, não existia outra coisa na minha vida. Eu queria viver aquilo, ver o que tinha de resposta, pensar nos próximos posts. A virada de chave [para empreender] começa quando tenho um contato mais direto com essas mulheres. Eu vivi aquilo”, acrescenta.

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Consolidada e pronta para crescer

A empreendedora voltou ao Brasil em janeiro de 2021. “As pessoas do ecossistema de startups falavam ‘se você fez tudo isso part time, imagina quando você se dedicar 100% a esse negócio’”, lembra. Então, com R$9 mil reais em caixa, 3 vezes mais do que tinha para se sustentar em São Paulo antes do intercâmbio, a executiva começou a desenvolver a primeira versão da plataforma para começar a formar um time. “Eu tinha três meses para fazer a Se Candidate acontecer”, comenta.

A Se Candidate, Mulher! é dividida em uma parte educacional, a SCM Academy, com cursos de capacitação, e a base de talentos – formada pelas mulheres que finalizaram os conteúdos educacionais. Elas podem comprar o acesso ao curso e as empresas podem adquirir um combo de acessos para oferecer a suas candidatas e ter acesso à base.

“Antes de criar uma solução, foi estudado o comportamento de mais de duas mil mulheres. Eu sabia que ela não se candidatava na vaga sem ter todos os pré-requisitos, então queria saber o que fazia ela se candidatar. Após chegar num padrão, criei uma metodologia e fiz todos os testes que você pode imaginar. Desde mentorias individuais e coletivas até ações online, ao vivo e gravadas. Ao receber resultados de recolocações, vi que as coisas começaram a dar certo”, revela.

Canal de Denúncias

99% das vagas dos clientes, segundo ela, são preenchidas em 15 dias, “enquanto o mercado fecha uma vaga em três meses”, diz. Hoje, o B2B representa 80% do faturamento, fruto do processo de evolução da SCM Academy, que antes tinha serviços dedicados somente às profissionais.

“Em um determinado momento as empresas começaram a bater na minha porta e querer acessar o banco de dados. Então, comecei a desenvolver um produto para elas. Além do produto para as mulheres, hoje tenho uma base que nada mais é do que o acesso de todas que passam pela SCM Academy. É uma base 100% curada, as empresas não acessam qualquer pessoa”, finaliza.

Foto de Capa: Por Lorrayne Chaves

Por Bruno Piai