Se o tão visado hexacampeonato da Copa do Mundo ainda não chegou para a Seleção Brasileira masculina de futebol, no norte da Europa o clima é de festa – ou melhor, de felicidade –, na “Terra do Papai Noel”, que conquistou um hexa para chamar de seu. Pela sexta vez consecutiva, a Finlândia ostenta a honra de ser considerada a nação “mais feliz do mundo”, segundo o World Happiness Report de 2023, estudo que todos os anos avalia e classifica a felicidade ao redor do mundo.

Dinamarca, Islândia, Israel e os Países Baixos completam o pódio dos cinco primeiros lugares. Enquanto isso, na outra ponta da tabela, os cinco países com as avaliações mais baixas foram República Democrática do Congo, Zimbábue, Serra Leoa, Líbano e, na última posição, Afeganistão. O Brasil, por sua vez, terminou em 49º lugar na análise, 11 posições a menos em relação ao ranqueamento anterior.

O sucesso da Finlândia

Um dos países mais gelados do planeta, a Finlândia não conquistaria o jornalista que vos fala, por exemplo, por conta de seu clima nada tropical – questão de gosto, é claro. Todavia, uma série de outros fatores explicam porque a nação com pouco mais de 5,5 milhões de habitantes tanto se destaca, ano após ano, quando o assunto é felicidade.

À CNBC, o filósofo, professor e psicólogo Frank Martela, autodeclarado “especialista em Finlândia”, listou alguns pontos que contribuem para o status do país. Um deles é a natureza. Segundo estudo realizado em 2021, 87% dos finlandeses manifestaram que a natureza é fundamental para eles, uma vez que ela traz paz de espírito, energia e relaxamento.

Finlândia, país mais feliz do mundo

O PhD destaca, ainda, que há um senso de comunidade e de pertencimento muito grande por lá. “As pessoas tendem a confiar umas nas outras”, diz. Mais alguns aspectos que contribuem para a “felicidade prosperar” no país são:

  • Políticas de bem-estar que ajudam os cidadãos do país a se sentirem legitimamente cuidados e acolhidos;
  • Educação com alto padrão de qualidade;
  • Planejamento urbano;
  • Segurança em todos os lugares;
  • Benefícios generosos mesmo para quem está desempregado;
  • Honestidade como um pilar social.

Veja mais: Como as empresas devem olhar para o bem-estar e a felicidade em 2023?

A felicidade nas empresas

Cientista da felicidade e especialista em aplicação de políticas públicas para implementação do bem-estar social, Gustavo Arns explica que, dentro das organizações, o conceito de felicidade está relacionado ao quanto a empresa é capaz de adotar ações de cuidado com a saúde física e emocional das pessoas.

Hoje, diversas pesquisas mostram que o bem-estar do colaborador impacta diretamente na sua produtividade. E isso é lógico. É claro que quando a pessoa está nessas condições naturalmente, ela renderá melhor. Mas e se a empresa conseguir, de alguma forma, auxiliar na promoção desse estado? Ela sai ganhando também”, salienta.

Um estudo de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que, para cada dólar investido no bem-estar do colaborador, são economizados outros quatro. Além disso, tal investimento contribui para atrair e reter talentos e, também, para diminuir índices de turnover e absenteísmo.

“O trabalhador que está num estado interno mais positivo não só produz melhor, como atende melhor os seus clientes. Importante, porém, colocar que quando falamos de aumento de produtividade, ela não deve ser a finalidade, e sim um efeito colateral da implementação de medidas de bem-estar. O objetivo deve ser o ganho humano, a saúde do colaborador.

Cultura de Feedback

Para Leandro Rangel, Sócio e Designer Instrucional da Pris, empresa especializada em remuneração variável, a indicação da Finlândia ao topo do ranking é consequência natural de elementos relacionados ao investimento e à atenção a iniciativas de boas práticas.

O executivo aconselha que RHs, líderes e gestores tenham um olhar social que o inspire a desenvolver ações, tendo como base não apenas práticas corporativas, mas um olhar para o macro.

Quanto mais uma sociedade investe em projetos relacionados com indicadores sociais e de bem-estar, felicidade e desenvolvimento, mais ela gera condições de melhorias exponenciais futuras, além de criar um cenário que dificulta quedas substantivas em virtude de situações extraordinárias”, pontua.

Rangel acrescenta, ainda, que embora a felicidade seja uma experiência pessoal de cada indivíduo, a vivência é coletiva. “Quanto mais falamos sobre felicidade e sobre integração entre vida pessoal e profissional, mais as pessoas refletem sobre o tema e começam a entender o que lhes torna mais felizes e aprendem a buscar esse equilíbrio”.

Veja mais: De olho no incentivo e bem-estar de talentos

O que os RHs podem fazer?

Na visão da Diretora de Recursos Humanos na PETRONAS nas Américas, Tatiana Villefort, as organizações devem apostar em quatro conceitos para aumentar os índices de felicidade e sair da “ressaca da pandemia”, que ainda é parte da realidade de muitos negócios. São eles: (1) qualidade de vida, (2) clima interno que traga sentimento de pertencimento, (3) bom relacionamento e boa comunicação entre líderes e liderados, e (4) autoconhecimento.

“Com esses quatros aspectos bem trabalhados, o funcionário se sentirá motivado e feliz ao exercer as suas funções dentro de uma empresa. Apesar disso, entendo que o terceiro pilar precisa ter um pouco mais de protagonismo e atenção. As lideranças precisam saber se comunicar e olhar seu colaborador, em primeiro lugar, como ser humano”, elucida.

Na PETRONAS, por exemplo, algumas iniciativas internas se destacam. Entre elas estão a Easy Friday, iniciativa que foi criada na matriz da companhia, na Malásia, e implementada nas sedes no Brasil e LATAM. O objetivo é incentivar os colaboradores a terem momentos mais leves de autoconhecimento, adotando práticas de meditação, terapia, mentoria, coaching, entre outras. Vale ressaltar que não se trata de um day off, mas de um incentivo para que os funcionários dediquem um tempo maior a si.

Há também, no pacote de ações, o PAC (Programa de Apoio ao Colaborador), que representa uma assistência ao funcionário, no qual são disponibilizados profissionais das áreas de psicologia, advocacia e nutrição de forma online e gratuita, a todos os integrantes do time PETRONAS. “Além disso, neste ano, temos mais de 30 iniciativas como foco em diversidade, equidade e inclusão acontecendo na empresa”, acrescenta Tatiana.

Segundo Gabriela Lima, especialista de Pessoas & Cultura da Japan Tobacco International (JTI), empresa internacional de tabaco, o case da Finlândia deve ser visto como uma inspiração para todos os RHs, pois “enaltece um regime de bem-estar, com programas de apoio social, renda e saúde, favorecendo sentimentos de liberdade e generosidade, o que aumenta a satisfação da população”. Na companhia, ela explica que existem ações de saúde, inclusão e empoderamento. Algumas são:

  • Iniciativas com foco em saúde mental;
  • Jornada flexível e modelo híbrido;
  • Benefícios Flexíveis (programa Beneflex, que dá autonomia para o colaborador montar seu pacote de benefícios);
  • Licença-Família (licença remunerada de 140 dias para todos os colaboradores que têm filhos, independentemente de gênero ou orientação sexual)
  • Comitê de diversidade.

“É fundamental que as empresas viabilizem um ambiente de trabalho mais agradável, com o cultivo de uma equipe feliz e motivada e, principalmente, não negligenciem a atenção à mente de seus funcionários”, orienta.

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Olhar também para fora

CEO e Fundadora da Weird Garage, empresa de implementação de cultura corporativa, Juliana Alencar destaca que a promoção da felicidade no ambiente de trabalho passa por, também, realizar ações externas. O fomento ao voluntariado, por exemplo, contribui para RHs, líderes, gestores e empregados se conectarem com causas e ações sociais. Para ela, é necessário olhar para todos e cobrar ações coletivas.

“Enquanto as empresas no Brasil dedicam parte das suas energias em qualificar colaboradores, aumentar a sua qualidade de vida, de saúde, de ensino, entre outros aspectos, as empresas nórdicas exigiram que seus governos ofereçam serviços públicos de alta qualidade a todos os cidadãos”, diz. “Acredito que ações das empresas voltadas à evolução da nossa sociedade podem ter um impacto positivo na felicidade dos colaboradores”, acrescenta.

Por fim, Gustavo Arns pontua que o mix entre social e corporativo, que motivou, inclusive, o fortalecimento da Agenda ESG (Ambiental, Social e Governança), tende a apoiar as organizações a olhar mais para a felicidade das pessoas. Para tal, no entanto, a liderança deve estar alinhada à importância do tema.

Os líderes precisam também passar por um processo de educação no tema do bem-estar e da felicidade, até para fazer acontecer. É importante que eles sejam capazes de desmistificar e compreender para serem capazes de colocar em prática com as ferramentas adequadas para isso, que são inúmeras. Desde aspectos ESG até comunicação não-violenta”, finaliza.

Por Bruno Piai