“O resultado não foi bom. Mas é só retirar o nódulo e será resolvido.” Foi durante o aniversário de sua mãe, no dia 29 de janeiro deste ano, que a gerente executiva de cuidados pessoais da NIVEA, Vanessa Verea, recebeu de seu médico, por telefone, a notícia de que estava com câncer.

A sutileza do anúncio foi tão marcante quanto o diagnóstico. O temor por saber que os exames confirmaram o câncer de mama foi, talvez, amenizado pelo nome da doença não ter sido explicitamente manifestado durante a conversa. De qualquer modo, havia o choque, afinal, mesmo com a tranquilidade passada pelo profissional de saúde, Vanessa descobriria que a jornada que viria a seguir colocaria à prova uma característica que expõe com orgulho: sua força emocional.

“O médico disse que era tirar e resolver. Então, absorvi isso de forma intensa. Mas eu não entendi nas entrelinhas que o tirar não era uma cirurgia dois dias depois e que, em seguida, estaria tudo resolvido. Me alimentei dessa esperança sem imaginar que seria um processo tão complexo, como é o tratamento contra o câncer em determinadas situações”, conta.

Para Vanessa, outro momento de choque foi a descoberta de que iria fazer o tratamento de quimioterapia. “Foi quando entendi, realmente, o quanto era difícil resolver o problema. Ao menos, ao ouvir que minha taxa de cura era de 95%, veio a mistura de sentimentos. Por um lado, estava muito triste, mas, ao mesmo tempo, sabia que seria resolvido. Nunca passou pela minha cabeça que eu não sobreviveria”.

Em meio a isso, ela se apegou à fé e à positividade para encarar de frente o tratamento. Passada a revelação da notícia aos familiares, era momento de levar o fato ao escritório. Desde 2017, a profissional já fazia parte do time da NIVEA, atuando no Marketing da categoria de protetores solares. Vanessa deixa claro que escolheu a organização por saber que o cuidado sempre esteve presente entre os valores da empresa. Não tardou para descobrir que, de fato, tal valor era colocado em prática.

“Em nenhum momento me senti insegura [para informar à companhia]. Me veio a tranquilidade de que eu estava no lugar certo para passar por uma situação como essa, porque eu sabia que o cuidado que a NIVEA teria comigo não seria encontrado em qualquer lugar. Isso me trouxe conforto para dar a notícia e viver esse período na empresa. A delicadeza do contar foi muito mais mostrar que estava bem, para não assustar as pessoas, do que uma preocupação profissional. Fiz sempre questão de eu mesma contar para verem que eu lidava bem com isso.”

Vanessa Verea

A gerente executiva de cuidados pessoais da NIVEA, Vanessa Verea

Do outro lado da mesa, Juan Pablo Leymarie, Head de RH da NIVEA, conta que o cuidado com as pessoas, dos clientes aos colaboradores, é uma marca que conduz a cultura organizacional do negócio. O diretor pontua que nas reuniões people vem antes de business em cada discussão. Tanto que foi em uma delas que recebeu a revelação de Vanessa.

“Me lembro com muita clareza [dela contando]. Imediatamente, o presidente da companhia e eu mandamos mensagem manifestando que estávamos presentes para o que fosse necessário. É muito habitual que nós, líderes da companhia, RH e presidente estejamos conectados com qualquer coisa que esteja acontecendo. A partir daí, fui acompanhando o caso. Vanessa falou que queria continuar em ação no trabalho, porque entendia que era muito importante para ela. Nosso dilema era entender se fazia sentido, pois precisávamos entender o quanto ela estava se cuidando. Mas ela teria toda a tranquilidade para se afastar”, diz.

Leymarie salienta que a promoção de ações que visam o acolhimento é um diferencial para engajar pessoas, mas também uma responsabilidade que faz parte do DNA da NIVEA. Na Alemanha, a Beiersdorf, empresa da qual a NIVEA é integrante, foi, por exemplo, uma das pioneiras no estabelecimento de um espaço para as crianças dos colaboradores. O head de RH manifesta que ano após ano a companhia avança nas iniciativas de cuidado.

Veja mais: Outubro Rosa, sobre direitos e deveres

A promoção

Segundo a gerente executiva, o câncer de mama ainda é um tabu. Não por ser um assunto pouco tratado, mas pelo quanto a revelação da doença tem o poder de impactar as pessoas. “Me preocupei em poder contar diretamente para ajudar a minimizar o susto. Se uma pessoa conta para outra, pode criar algo muito maior do que realmente é”, explica. O time, em suas palavras, foi tão prestativo que sugeriu que o anúncio fosse publicamente feito em um canal de comunicação para que as pessoas tomassem maior cuidado com assuntos que pudessem “estressá-la”.

“Mas não era assim e não precisava ser assim. É claro que quando eu não me sentia bem, sabia que podia apenas falar que não poderia trabalhar e estava tudo bem. Porém eu não queria que lidassem comigo com pena, como ‘café com leite’. Existia esse cuidado natural e instintivo ao mesmo tempo em que eu queria trabalhar. Isso me motivava a acordar bem. O poder da mente e o emocional fizeram diferença durante todo o meu tratamento e durante um dia que eu fiz questão de estar presencialmente na empresa, mesmo com o board discutindo se eu deveria estar de licença.”

Leymarie brinca que nesse dia em específico, do encontro presencial, sua primeira reação foi de surpresa. “Por que a Vanessa está aqui? Acabávamos de sair da pandemia, mas ainda estávamos com máscara. Não havia a necessidade de uma pessoa com a imunidade um pouco mais baixa estar no escritório. Mandei mensagem para o presidente e ele me disse que ela fez tanta questão que não foi possível dizer não”, revela. “Mas tudo teve autorização médica”, pontua ela.

Juan Pablo Leymarie, Head de RH da NIVEA

Juan Pablo Leymarie, Head de RH da NIVEA

Toda a motivação e o trabalho da profissional de Marketing foram recompensados. Em seu quinto ano de casa, a profissional foi promovida, um passo que parecia natural por conta de todo o seu trabalho, mas que ganhou contorno ainda mais especial por ter ocorrido bem durante o seu tratamento. O simbolismo se fortaleceu pela data do anúncio: 8 de março, Dia Internacional da Mulher.

“Foi muito emocionante. Seria emocionante em qualquer circunstância, mas neste momento em específico foi ainda mais, porque eu queria muito a promoção, estava me preparando para ela e era o meu próximo passo. Ver que a oportunidade tinha surgido e que a empresa não deixou de dar a oportunidade pelo meu momento foi muito gratificante. Eu sabia que ela não viria com uma carga de pressão em meio ao meu tratamento, a promoção veio acompanhada do mesmo cuidado que eu tive antes. Eu estava no meio do meu tratamento, entre a segunda e a terceira sessões da quimioterapia”, destaca.

Veja mais: Bem-estar corporativo e a valorização da vida

Política de cuidados

Sob o ponto da saúde como um todo, mental e ocupacional, Leymarie elucida que antes mesmo da pandemia a NIVEA já havia adotado um modelo de trabalho no qual alguns dias eram trabalhados de casa ao longo do mês. Quando o coronavírus chegou à realidade do país, o negócio estava pronto para a jornada em home office.

“Quando chegou a pandemia, focamos ainda mais em pessoas. Dentro de uma organização na qual são priorizados contato e conexão, criamos um programa chamado Nosso Convite, no qual promovemos uma série de ações e atividades remotas para que a conexão se mantivesse, o que envolveu até shows. Nisso começamos a entender também mais sobre toda a preocupação em torno da saúde mental. Uma das primeiras ações foi incorporar consultas psicológicas e psiquiátricas para 100% dos funcionários em nosso plano de saúde”, comenta.

Além disso, a NIVEA trouxe à tona um programa nomeado Oriente-me, voltado a colaboradores e familiares, para garantir que todos teriam acesso a trabalhos voltados a promover saúde mental. “Potencializamos também a jornada de propósito dentro da companhia. As pessoas precisavam encontrar um sentido além de estar na frente do computador trabalhando. Foi uma série de iniciativas que gerou um engajamento muito grande e com envolvimento de mais de 50% da companhia. Criamos diferentes grupos para tratar ações de equilíbrio entre vida e trabalho”, diz.

Veja mais: Somente 15% dos profissionais trabalham em ambientes ‘ideais’ à saúde mental

Outubro está acabando, mas a conscientização em torno do câncer de mama, não

Os meses de tratamento trouxeram muitos desafios, mas também a importância de uma rede de apoio. Em menos de duas semanas, Vanessa passou pela primeira de seis sessões de quimioterapia para tratar do nódulo que não apresentava metástase. Foi então que descobriu a importância de cuidar da saúde emocional desde as primeiras etapas do processo.

“É claro que não é bom estar nessa situação. Existem dias com mais limitações, que me sinto mais cansada, mas há situações em que nem lembro da doença. Eu estou vivendo, viajei, fui promovida, estou trabalhando e saindo com meus amigos, curtindo minha família. É claro que hoje essa é a prioridade na minha vida, mas não é o único tema”, avalia.

A autoestima com a sua imagem também era uma preocupação, que foi ficando para trás. “A ideia da mulher sem os cabelos me passava muita fragilidade e não queria me sentir assim ou passar essa mensagem”. Durante a quimioterapia, Vanessa usou touca especial, parte de um procedimento de resfriamento do couro cabeludo que evita ou reduz a queda de cabelo induzida pela quimioterapia. “Meu cabelo caía, sim, mas com menor intensidade. Isso ajudou muito a melhorar minha autoestima, foi uma ótima solução porque cerca de 8% dos pacientes desistem da quimioterapia por conta da queda de cabelo”.

A campanha Outubro Rosa tem a missão de conscientizar sobre o câncer de mama

A campanha Outubro Rosa tem a missão de conscientizar sobre o câncer de mama

Aos 36 anos, Vanessa ainda vive o tratamento, mas comemora ter superado a quimioterapia, a etapa que considera ter sido mais difícil. Após ela, passou por uma cirurgia, pela radioterapia e agora tem a monoterapia. Falar abertamente sobre o câncer e amenizar os medos e pré-conceitos em torno da doença e dos tratamentos passou a ser um de seus propósitos. Para ela, é importante tentar amenizar a dor de outras pessoas e conscientizar outras mulheres.

“Além de fazer o autoexame, ultrassom, mamografia e seguir as recomendações médicas, algumas das principais pautas que o outubro rosa traz é também sobre não sofrer por antecedência. Tem um tabu muito grande e isso faz com que olhemos as coisas de uma forma, às vezes, muito maior do que são. No meu caso, desde o início tentei não encarar dessa forma e minha quimioterapia foi mais tranquila do que eu achei que era o processo. O susto do início foi o pior momento entre todos. Minha missão aqui, alinhada com o desafio de encontrar nosso propósito, é quebrar um pouco esse tabu sobre o câncer. Convido as pessoas a olharem para isso de outra forma”, estimula.

Vanessa concluiu a sexta sessão de quimioterapia em 27 de maio – já desde a terceira etapa, os exames de ultrassom não conseguiam mais identificar o tumor.

Por Bruno Piai